Editoras com história(s): Impulse! Records
Sobre o espírito das cores e um ponto de exclamação supremo (II)
Na rubrica “Editoras com história(s)”, Sofia Alexandra Carvalho aponta o foco a uma editora fundamental da história do jazz, a Impulse! Records. Depois de um primeiro olhar sobre os primeiros anos da editora, nesta segunda parte olhamos para o impacto do produtor Bob Thiele na editora, entre 1961 a 1969.
“Everybody looks everywhere, it’s a jazz-point and beat generation madtrick,
you see someone, “Hi”, then you look away elsewhere, for something someone else,
it’s all insane, then you look back, you look away, around, everything is coming in
from everywhere in the sound of the jazz. “Hi”, “Hey”. Bang, the little drummer
takes a solo, reaching his young hands all over traps and kettles and cymbals
and foot-peddle BOOM in a fantastic crash of sound – 12 years old –
but what will happen?”
Jack Kerouac
Coltrane e Iggy Pop: uma ligação improvável, mas extraordinária, “like bacon and eggs”, tal como cantado por Kerouac em 1959. Nada é impossível no mundo da música e a influência do primeiro não passou despercebida ao segundo, assim dita o álbum “Fun House”. A marca intemporal de Coltrane, resultado directo da passagem magnética de Taylor pela Impulse!, será refinada e amadurecida, entre os finais de 1961 a 1969, com a presença de Bob Thiele (1922-1996), produtor americano que, desde cedo, se dedicou ao clarinete, tendo fundado, ainda na sua adolescência, a revista Jazz e a editora Signature.
Após uma passagem pelo mundo da editora pop Decca, reforçando uma abordagem mais orientada para o pop jazz, com as colaborações de McGuire Sisters, Pearl Bailey, Alan Dale e Teresa Brewer, sua futura esposa, Thiele produz, já na Dot Records, não apenas álbuns com Louis Armstrong, mas também com Jack Kerouac a ler poesia beat. Esta gravação mítica, que conduziu ao despedimento de Thiele, traz consigo uma edição poética ímpar intitulada “Poetry for the Beat Generation” (1959), pela recente Hanover-Signature.
Em 1961, a proeza deste produtor fixa uma fórmula de sucesso – a saída a lume dos álbuns “Together for the First Time” e “The Great Reunion” com as participações de Louis Armstrong e Duke Ellington – a ser aplicada futuramente na Impulse!. A produção de excelência destes álbuns abriu os pórticos da ABC Records para Thiele, cuja marca temperamental muito se aparta da de Taylor: “In the jazz field my style has always been to let the guys play and let them know when I feel they have it right.” (Kahn, 2006: 65)
A proposta da ABC, que entusiasma o produtor, não deixa de produzir alguns abalos na sua mundividência musical: Thiele enclausura-se numa cave da Seventh Avenue South e entra numa espécie de viagem aural intensiva, dedicando-se à fruição da nova onda estilística de Jazz, com o nome sonante e intenso de Coltrane a alumiar o caminho. O acme deste encontro histórico, que conta com a atmosfera densa e intensa do clube Vanguard, dá-se com a seguinte descrição musical de Coltrane a Thiele: “You grew up in the swing era... so you always go like this [snapping his fingers with a regular beat]. You keep time that way.’ He said, ‘With our music, you got to flow back and forth so as the bars go past... you really go 1, 2, 3, 4... 1, 2, 3, 4... 1, 2, 3, 4...” (Ibid.: 67)
Antes do final de 1961, Thiele fortifica o catálogo intemporal da Impulse! com “Soul Trombone” [A(S)-13] de Curtis Fuller; “The Quintessence” [A(S)-11] de Quincy Jones; “Further Definitions” [A(S)-12] de Benny Carter; “Statements” [A(S)-14] de Milt Jackson; “Count Basie and the Kansas City 7” [A(S)-15] de Count Basie; “It’s Time” [A(S)-16] de Max Roach; “The Song Is Paris” [A(S)-17] de Jackie Paris; “Out of the Afternoon” [A(S)-23] de Roy Haynes e “The Artistry of Freddie Hubbard” [A(S)-27]. Em Março de 1962, sai “Live at the Village Vanguard” [A(S)-10], com um lado B memorável: “Chasin’ The Trane”, espécie de “outpouring of stylistic tongues and melodic ideas that linked the bebop dexterity and daring of the past with a free, stripped-bare, spiritually charged future.” (Kahn, 2006: 68) Entre 1963 e 1964, não só o ritmo editorial é vertiginoso, como também a diversidade musical se revela excepcional, desde o swing, passando pelo bebop, até às abordagens mais modernas de blues.
O produtor manterá este andamento ao longo dos oito anos dedicados à Impulse!, encarando cada álbum com o cuidado conceptual do seu precursor. Thiele recorre, igualmente, aos mesmos fotógrafos utilizados por Taylor (Pete Turner, Chuck Stewart e Arnold Newman), procurando um acordo perfeito entre a imagem e o som, mas leia-se o que diz Bob Thiele Jr. a esse respeito: “That’s what music was to him — it was beyond the intellect. You could call it this extrasensory compulsion.” (Kahn, 2006: 93). Mas a marca de Thiele, ainda na peugada de Taylor, tem um nome sonoro inigualável: Coltrane.
Faça-se uma breve excursão sobre esta figura lendária. Em “Chasing Trane: Heavenly Sounds” (2016), documentário escrito e realizado por John Scheinfeld, não há um único testemunho que não aponte para a excepcionalidade do compositor que, mesmo em estados alterados de consciência, possuía aquela quiet spirituality, misto de imprevisibilidade, generosidade[1] e encanto, que é possível encontrar nas suas criações.
Filho único e de temperamento concentrado, foi com meses para o North Carolina State, lugar que apresentava um contexto de segregação racial radical. Este contexto de opressão era perfeito para a emergência dos blues e para a superação do sofrimento através da espiritualidade ou da Arte.
Coltrane foi educado como metodista (vide: youtube.com/watch?v=_IeizgQ9Y0Q), com forte influência dos avôs, ambos ministros. A igreja metodista foi, pois, o espaço responsável pelo seu primeiro contacto com a música: esta espiritualidade, que desde cedo o acompanhou e vincou, torna-se, segundo o seu biógrafo Kahn, o verdadeiro ADN do músico. Aos doze anos, Coltrane, que vivia numa casa populada, vê morrer muitos elementos da sua família e, nesse momento decisivo, encontra na música, primeiro no clarinete e depois no saxofone, a resposta paliativa para o seu sofrimento. Em Philadelphia, com grande sacrifício da sua mãe, tem lições privadas de saxofone e, em 1945, ouve e vê, pela primeira vez, Charlie Parker, que tinha em si o daimon da música. Entre 1945 e 1946, faz parte da banda da Marinha em Pearl Harbor, imitando o estilo do seu herói Charlie Parker, e colabora com diferentes grupos, por forma a dar vazão à sua insatisfação permanente.
1957 será o ano da viragem espiritual de Coltrane. Depois de ter sido despedido do quarteto de Miles Davis[2], combatendo os vícios da heroína e do álcool, que inundavam os clubes nocturnos da época, Coltrane entra numa encruzilhada: segundo Kahn, o músico ou seguiria os passos de Charlie Parker ou enveredaria por um caminho espiritual de total dedicação à música. A história da música mostra, de modo inequívoco, qual a sua escolha: a imortalização de Coltrane dá-se através de um processo duplo de entrega e sacrifício. Perfeccionista compulsivo, praticando de manhã à noite a sua sofisticação harmónica, Coltrane, sem nenhum suporte médico, empreende um processo de cura em casa a partir da fé, força e coragem. De carácter introspectivo e profundo, o saxofone torna-se uma extensão de si mesmo, da sua alma universal. O espírito de Coltrane, na senda do Alto Romantismo, não só consegue captar a big picture, como também possui uma espécie de deep feeling sobre outros mundos.
Regressa a Nova Iorque, toca com a banda de Thelonious Monk e, no final de 57, regressa ao quarteto de Miles, já sabendo quem era. O quarteto torna-se pequeno para o tamanho da sua visão. Decide, assim, criar o seu próprio quarteto, com McCoy Tyner ao piano, Elvin Jones na bateria e Steve Davis no baixo e, em 1960, edita “My Favorite Things”, maravilhando os auditores com a intensidade lírica e experimental do tom do seu saxofone soprano.
Cumprindo uma vocação da Graça, segundo MacCoy Tyner, e concebendo a Beleza, como fixado pelo baterista dos Doors, Coltrane deixa uma impressão indelével em Thiele e torna-se a marca nominal da expansão da editora. Entre ambos é fomentada uma relação de proximidade que se vai aprofundando, de maneira amistosa e harmoniosa, ao longo dos tempos. Thiele deixaria as portas do estúdio de Van Gelder abertas para que Coltrane ensaiasse e gravasse, sempre que sentisse esse apelo. Saem a lume quatro títulos pela Impulse!: “John Coltrane and Johnny Hartman” [A(S)-40], uma das jóias do catálogo da editora, cuja gravação foi feita num só take, à excepção de “You Are So Beautiful” (Kahn, 2006: 99), pois, segundo Hartman, Elvin Jones deixara cair uma baqueta; “Impressions”; “Live at Birdland” e “Newport ’63”.
A partir de 1964, as edições da Impulse! tornam-se exclusivamente instrumentais, à excepção da reedição de “Sing a Song of Basie” [A(S)-83], em 1965. No entanto, a aposta editorial recai, igualmente, na produção de séries de discos em 331/3 rpm (EPs), cujo propósito era duplo: um, comercial, e outro, promocional, através da procura de novas gerações de auditores.
Thiele revela um dinamismo editorial surpreendente e eclético, o que contenta a linha directiva da ABC. É possível encontrar o produtor, que prescinde da assinatura de Taylor, em inúmeros registos fotográficos, com uma postura informal e um cigarro nos lábios a rir ao lado de McCoy Tyner ou a ouvir atenta e serenamente Coltrane (cf. Kahn, 2006: 107). Outro aspecto do seu temperamento assenta na composição de letras, como “What a Wonderful World”, a par da criação da editora Vernon Music, direccionada para as suas próprias composições e as de outros músicos.
O pendor eclético do produtor, com a lente focada em Coltrane e os seus sidemen, que correspondia a 25% da produção da Impulse!, não deixa de produzir algumas diatribes no mundo musical e, no dealbar de 1964, os leitores da revista de jazz Coda assistem a uma resposta assertiva de Thiele (cf. Kahn, 2006: 110), que defende a editora e os seus múltiplos artistas, tais como John Coltrane, Charles Mingus, McCoy Tyner, Yusef Lateef, Johnny Hartman, Lorez Alexandria, Elvin Jones e Paul Gonsalves.
Em 1965, sai a lume o auto-retrato musical de Coltrane, “A Love Supreme” [A(S)-77], descrito pelo produtor como um acontecimento musical e de marketing ímpar, que disparou as vendas e ampliou a distribuição editorial pelos quatro cantos do mundo. A propósito da criação deste álbum supremo, gravado pelo quarteto do músico, Alice Coltrane afirma que, embora a criação do álbum tenha acontecido durante cinco dias febris do Verão tardio de 1964, a visão da sua criação surgira ao compositor em 1946, enquanto ainda estava na marinha, mas leia-se: “He said that’s when [the idea for] A Love Supreme started to blow into his consciousness. So [in 1964] he remembered the vision he had in the navy, and then he could see everything clearly: the sound. ‘Resolution.’ ‘Acknowledgement.’ The prayer... I should have a copy of his notes, the original”. (Kahn, 2006: 124)
Composição concebida com a minúcia e o rigor de um artista que, após a visão de 1946, consegue, em 1965, ordenar o poema para que este entre em combinação perfeita com a fluidez da música. Em 1968, com os Beatles na Índia e a meditação transcendental como parte integrante do vocabulário cultural, este álbum de Coltrane revelar-se-á uma aventura espiritual imperativa.
No entanto, no final de 1964, dá-se uma fricção temperamental entre Larry Newton, presidente da ABC-Paramount, e Thiele, que ditará, mais tarde, a saída do produtor da editora. O contexto cultural dos anos 60, conhecido pela agitação política, a luta pelos direitos civis e a presença americana no Vietname, não deixa o espírito da editora indiferente. A Impulse! introduz no seu catálogo elementos de protesto, como por exemplo “Praise for a Martyr” e “Man from South Africa” do álbum Percussion Bitter Sweet (1961) do baterista Max Roach e, em 1963, “Alabama” do músico e pacifista John Coltrane[3], uma composição elegíaca forte, que se ergue contra a injustiça e a segregação racial, escrita depois do atentado de supremacistas brancos a uma igreja baptista, em que morreram quatro crianças. Aliás, a melodia desta música, segundo o pianista do quarteto, foi escrita por Coltrane a partir do discurso de Martin Luther King sobre a tragédia-atentado acontecida em Birmingham, USA.
Em 1966, o álbum “Ascension” [A(S)-95] surpreende, de modo controverso, auditores e músicos com a sua força, espécie de monumento musical intenso e livre, mas simultaneamente intrigante e denso. O produtor lembra que, por um erro da editora na escolha do take, existem duas versões do álbum a correr mundo, o que contribui para aumentar o grau enigmático que circunda o álbum. É, assim, criada The New Wave ou New Thing, inicialmente conhecida por New Black Music (cf. Kahn, 2006: 138).
Thiele continua a fervilhar e adita duas novas editoras ao seu portefólio: BluesWay, apostada em novas descobertas e em velhos companheiros musicais, e Contact, abrangendo a swing-era.
No final de 1965, Thiele edita “The Definitive Jazz Scene” [A(S)-99, 100, e 9101], uma série de três volumes, que marca a centésima edição da Impulse!, celebrando o talento artístico de Ray Charles, Lionel Hampton, Oliver Nelson e John Coltrane. Por um breve período, John Coltrane e Sonny Rollins, dois pilares do jazz, apresentam a mesma chancela editorial (cf. Kahn, 2006: 153), enquanto outros dois compositores de renome, Herbie Hancock e Sonny Rollins, adentram o mundo cinemático: o primeiro, através da criação da banda sonora para o “Blow Up” de Michelangelo Antonioni; o segundo, para o filme “Alfie”. (cf. Ibid.: 154)
Com a intervenção multímoda de Thiele, contando com figuras de proa como Johnny Hodges, Archie Shepp, Gabor Szabo e, claro, John Coltrane, a Impulse! reforça o seu catálogo versátil e, no começo de 1967, apresenta uma nova geração de improvisadores da New Thing. Um dos exemplos paradigmáticos da colaboração de Thiele para a Impulse! pode rever-se na edição elegante do álbum “The Kennedy Dream” [AS-9144] de Oliver Nelson, datado de 1967.
A meio dos anos sessenta, a cena musical permite a convergência de vários estilos musicais, desde o folk, passando pelos blues, até à explosão do rock and roll. A música jazz, o mercado jazzístico e o produtor da Impulse! não ficarão indiferentes a esta abordagem heterogénea e inovadora: em 1967, o título da revista de Thiele passa a ser Jazz & Pop e um dos números seguintes mostra Archie Sheep e Frank Zappa na capa, contendo uma entrevista conjunta no miolo. No mesmo ano, o produtor visita San Francisco e vê frustrada a sua tentativa de trazer para o catálogo da editora as figuras de Janis Joplin e Steve Miller. Nessa altura, também o produtor surge, por breves instantes, no catálogo da editora, com uma colaboração com Gabor Szabo.
Ainda em 1967, Coltrane, experimentando ritmos dissonantes e atonais, edita “Meditations” [AS-9110], a continuação espiritual de “A Love Supreme”, e na primavera desse ano consagra os seus auditores com “Expression” [AS-9120], álbum memorial da Impulse!. Em Julho de 1967, o mundo da música perde o seu gigante. A colaboração de apenas seis anos entre o compositor, o produtor e a editora, deixa um lastro supremo de luz ou criação, que se traduz na edição de dezasseis álbuns.
Alice Coltrane constrói um estúdio na garagem de Dix Hills, a casa que partilhara com o seu marido e, no final de 1967, a Impulse! edita o segundo álbum póstumo de Coltrane: “Om” [AS-9140], uma união vibrátil e sublime, que resgata a energia espontânea de “Ascension” e a ressonância espiritual de “A Love Supreme” (cf. Kahn, 2006: 184). Em 1968, Thiele nota que um outro título de Coltrane, com a chancela da nova editora Coltrane Records, entra no mercado: “Cosmic Music” [CRC-5000].
Durante algumas semanas, a editora de Coltrane entra em competição directa com a Impulse!. No entanto, é feito um acordo: “Cosmic Music” seria editado pela Impulse! e Alice Coltrane tornar-se-ia uma artista da editora. “A Monastic Trio” [AS-9156], uma fusão entre o gospel americano e o misticismo ocidental, é o primeiro e último título de Alice, que conta com a produção de Thiele: “‘My experience with Bob Thiele was so short that all I can say is that he was a gentleman, and very professional,’ she says. ‘And I think that, in the memory of John, he wanted to just present everything in the best way possible.’” (Kahn, 2006: 185)
A colisão entre Thiele e Newton tem lugar: em Julho de 68, numa das sessões de gravação de Louis Armstrong, Newton vê a sua entrada no estúdio a ser barrada. Eis o esclarecimento do produtor acerca do episódio: “I fought for the black musicians all my life. ... What happened in the last few years with me at ABC, the musicians, when they couldn’t get what they wanted, the only person they had contact with was me. And they would blame me, not knowing I was the only one fighting for them at the time.” (Kahn, 2006: 199)
Thiele passa a trabalhar projecto a projecto e os créditos da produção revelam a criação de uma editora independente: Flying Dutchman Productions, que conta com as presenças de Louis Armstrong, Johnny Hodges, Oliver Nelson e a recente descoberta do saxofonista argentino Gato Barbieri.
O último triunfo editorial de Thiele, sob a chancela da Impulse!, é “Karma” [AS-9181] de Pharoah Sanders, efebo directo de Coltrane. No entanto, Thiele deixa ainda alguns álbuns preparados para sair (“At the Top: Poinciana Revisited” [AS-9176] de Ahmad Jamal e “Ornette at 12” [AS-9178] de Ornette Coleman), não sem antes editar as mais refinadas colecções de hits da editora: “The Best of Gabor Szabo” [AS-9173] e “The Best of Chico Hamilton” [AS-9174].
1969 é um ano de reviravolta para o produtor e para a editora: a saída de Thiele acontece e o logótipo da editora, com o seu esquema de cores mítico e o ponto de exclamação, é abandonado, sendo o álbum “Selflessness” de Coltrane exemplo disso mesmo. Os anos 70 mostram o lado vibrante e robusto da Impulse! que revela um catálogo imponente de artistas avant-garde (Alice Coltrane, Pharoah Sanders, Albert Ayler, Archie Shepp, Marion Brown e Sam Rivers), um gosto pelo jazz mainstream (Ahmad Jamal e Mel Brown), sem deixar de possuir linhas experimentais do free jazz (Ornette Coleman e Sun Ra) e introduzir novas figuras (Keith Jarrett e Dewey Redman).
Antes da venda da Impulse!, em 1977, com a entrada em cena de Rubenstein, a editora ainda contaria com a colaboração inovadora de três produtores: Ed Michel, Steve Backer e Esmond Edwards. Thiele colabora, já em 1974, no penúltimo álbum de estúdio de Coltrane, “Interstellar Space” [AS-9277], que apresenta uma semântica inovadora e complexa. Mas a história não termina aqui.
[1] O primeiro casamento de Coltrane com Juanita Austin ou Naima, como ficou conhecida, faz com que Coltrane crie Antonia Andrews, sua enteada, como filha. Esta confessa que numa noite densa de neve, depois de um concerto, sabendo que ela precisava de um par de sapatos, Coltrane veio imediatamente para casa, evitando gastar o dinheiro e dar à filha o que precisava: um par de sapatos.
[2] Miles permitia intermináveis solos a Coltrane. Existe, aliás, um episódio maravilhoso sobre esta dupla: Coltrane confessa a Miles a dificuldade que sente em parar de tocar. Veja-se a resposta de Miles, cheia de wit: que tal experimentares tirar a boca do saxofone? (vide https://www.jazzwise.com/features/article/miles-davis-and-john-coltrane-yin-and-yang)
[3] A este propósito, atente-se nas palavras de Alice Coltrane: “I would imagine John’s philosophy would be closer to Martin Luther King: ‘Let me try to reach your heart, your spirit, and your soul, and then we can move forward uniformly as a people, and we can accomplish great things.’ Coltrane’s pacific tendency proved one of the strongest forces he left behind at Impulse (...).” (Kahn, 2006: 197)