Zoh Amba Trio
A forca da inocência
Apresentamos um texto de Hugo Pinto, que está dedicado à musica eletrónica; partilhou connosco uma leitura impressiva e emocional do concerto de Zoh Amba Trio no Jazz em Agosto.
Começa com raiva. Um sopro agudo, uma cacofonia, um rasganço.
Zoh Amba é pequena e franzina. Uma miúda que parte a loiça toda. Quanta raiva e quanto pulmão podem caber em 22 anos?!
Aquele tenor ladra como quem morde, depois agudiza-se como quem lava vidros com jornais. Sempre a dar-lhe. Pelo meio também cantarola, tem temas e estrutura mas…
A vontade de estarolar é maior e logo ele estrilha. E grita, grita muito. Falo do sax. E dela? Talvez também, mas aquele bicho parece ter vida própria.
Nem tudo é pra mim e quando fica demasiado acutilante dói-me. Não percebo mas aceito. Como quem recebe uma carta de desamor.
Chris Corsano é um polvo numa direção. Seja contido ou em roda livre, toca como quem brinca, sustem e apara, larga e deixa voar. Ah! Que bom deve ser ter uma rede assim.
Luke Stewart navega pelo contrabaixo. Experimenta, indeciso mas atento.
Às vezes não ouço tudo dele. Quando os outros vão a abrir, vejo a sua mão andar pra cima e para baixo naquele braço e só ouço algumas notas. Irrita-me não ouvir. Mas passa-me.
Prefiro quando a coisa tem tema. É-me mais aprazível. Nem sempre me apetece espaço, às vezes só quero estar.
Esta música é aberta mas pede de quem a ouve. Mais que não seja pede disposição e espírito e eu já sabia disso quando vim. E ainda bem que vim. Esta música limpa.
No final, já no bar, ouvi falar de Gayle e Brotzman e que não era Ayler. Eles pareciam saber do que falavam, eu não que não sou do jazz.