Yazz Ahmed, 23 de Maio de 2023

Yazz Ahmed

Braga, Roma, Manama, com escala em Londres

texto: Gonçalo Falcão / fotografia: Paulo Nogueira – Theatro Circo

Numa noite em que Braga estava romanizada (aquelas iniciativas tipo-históricas que eurodisnam as cidades), fomos até ao lindíssimo Theatro Circo para ir ouvir Yazz Ahmed. A trompetista é um dos mais recentes produtos da eficaz máquina promocional inglesa. Muitas vezes, onde há fumo há fogo: nós e muitos tantos que quase encheram a sala, fomos ouvir ao vivo o quarteto da música anglo-bahreinesa e avaliar pelos nossos ouvidos.

Este concerto esteve planeado para 2019, mas a paralisação do mundo adiou-o para 2023; quatro anos depois, a trompetista chegou embalada por uma série de discos que granjearam algum destaque.


Yazz Ahmed


Ahmed tem hoje três discos na bagagem e uma aparelho comercial que a apoia: uma imagem cuidada (ilustrações de Sophie Bass, com uma linguagem visual com uma expressão tradicional arabizante, que faz as capas dos discos mas também os vídeos do concerto) e uma agenda política hodierna: feminismo (canção dedicada a Haifaa al-Mansour, primeira mulher realizadora da Arábia Saudita), sufragismo (canção dedicada às mulheres sufragistas), direitos civis (canção dedicada a Rosa Parks) e médio oriente (usando os chamados “modos persas”).


Ralph Wyld


Como também é usual nestes casos, os concertos ao vivo são muito diferentes da música dos discos. Em “Polyhymnia” tocam 24 músicos. Ao vivo um quarteto com vibrafone (Ralph Wyld), bateria (Martin France) e contrabaixo (Dave Manington).
Ahmed trouxe o trompete o fliscorne e uma pedaleira que usa com muito saber. É este o seu elemento distintivo, pois além de colocar um longo rever à Jon Hassel, usa o grande número de processamentos, dos loops, às gravações, harmonizers, pitch shifters, manipulados em tempo real num kaos pad ou algo semelhante. Como um guitarrista faria.


Yazz Ahmed Quartet


O som do grupo é trabalhado para salientar um carácter médio oriental, especialmente a bateria que usa uma afinação que evoca o som seco e aberto dos tambores árabes.

Usando os modos persas, as melodias de Ahmed soam como as Masadas de John Zorn, subindo e descendo numa escala limitada e bem definida. Já ouvimos Dave Douglas usar, alongar, ondular, nestes modos com maravilha. Ahmed usa-os mais limitadamente, presa ao guião, investido tudo no processamento do seu som. A forma de tocar é muito lírica, como a de Enrico Rava.


Yazz Ahmed


Não ouvimos solos excecionais, mas um som de grupo muito coeso e uma grande vontade de bem tocar canções. É por isso um jazz sem muita verve mas com um projeto musical muito bem delimitado, apostando em ser acessível e agradável de ouvir. Só num dos temas a escrita não foi sequencial e pressentível. As outras canções foram redondas.

Ahmed é uma trompetista que não tem grandes predicados técnicos, mas encontrou um enquadramento teórico e um som com fumosidades árabes, produzindo um resultado consistente e comunicativo.

O público de Braga gostou, aplaudiu generosamente e saiu da sala entusiasmado e com vontade de levar a música de Yazz Ahmed para casa.


Dave Manington

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