Louis Sclavis Quartet
As cadências do mundo em Espinho
A atuação do quarteto de Louis Sclavis foi, por certo, um momento único e de memória para aqueles que, no passado sábado, estavam no Auditório de Espinho. A música expandiu a partir da obra “Les Cadences du Monde” que, segundo Sclavis, «entra em ressonância com a obra do fotógrafo Frédéric Lecloux “L'Usure du Monde”, que é, por sua vez, uma homenagem ao livro do viajante Nicolas Bouvier “L'Usage du Monde”.» A jazz.pt esteve em Espinho para ouvir o melhor de França.
O quarteto soube levar a bom porto (com algum nervosismo inicial e de ambientação) uma viagem diversificada de temas, numa sequência perfeita.
Louis Sclavis nos clarinetes, Vincent Curtois e Bruno Ducret no violoncelo e contrabaixo e Keyvan Chemirani na percussão imprimiram na música o som do conjunto. Nos diálogos em duo e em trio, em cada solo, com sons subtis ou com os mais inarmónicos, tocados com imensa precisão ou usando a espontaneidade da improvisação, percorreram uma diversidade de paisagens sonoras, rítmicas, com várias cores espácio-temporais.
Nos ritmos orientais, na polirritmia africana, no colorido do folk, impuseram-se as percussões nos dedos de Chémirani. As cadências dos violoncelos, nos temas mais livres, construiram excelentes duos; Courtois, seguindo um solar com compassos classicisantes e com rasgos de precisão usou o pizzicato com o arco, enquanto Ducret, guiava com som de “contrabaixo” dedilhado, que nos trazia à memória Abdul Wadud. Sclavis, irrepreensível como sempre, no clarinete – sobretudo num excelente clarinete baixo – deixou solos soberbos.
No final, o público aplaudiu com fervor e foi brindado com uma bela suite suplementar, num intenso e fabuloso encore. Por certo, os que lá estiveram, deram por bem empregue o tempo. O Auditório de Espinho está de parabéns.