José Lencastre & Nuno Rebelo / Luís Vicente & Andrew Lisle
Noite de duos
Na noite de 17 de maio a Galeria Zé dos Bois (ZDB), em Lisboa, acolheu dois duos praticantes de improvisação livre. Na primeira parte atuaram José Lencastre (saxofone) e Nuno Rebelo (guitarra); na segunda parte atuaram Luís Vicente (trompete) e Andrew Lisle (bateria). Estivemos lá.
Lencastre é um dos mais ativos músicos da cena nacional, entre múltiplas parcerias e colaborações, particularmente ao vivo; editou recentemente um disco com o trio SPOS, com Miguel Petruccelli e Aleksandar Škorić. No palco da ZDB, Lencastre esteve acompanhado por Nuno Rebelo que, além de ter integrado as bandas lendárias do rock português Street Kids e Mler Ife Dada, e de ter criado o inesquecível hino da Expo ’98, “Pangea” (cuidado ao clicar no link, porque ouvi-lo é toda uma experiência sentimental e comunitária), se tornou uma figura de proa da música improvisada em Portugal desde os anos 90.
Em palco, assistimos ao cruzamento entre o discurso jazzístico e estruturado do saxofone de Lencastre com a experimentação e contínua desconstrução de Rebelo; na guitarra, ia-se servindo de técnicas extensivas, além dos pedais de efeitos, para criar sons atípicos; Lencastre ia desenvolvendo ideias e a música ia fluindo, no encontro entre as duas fontes, embora nem sempre alinhados. Um trabalho de diálogo e exploração, onde se destacou a criatividade de Rebelo.
Na segunda parte juntaram-se em palco o trompetista português Luís Vicente e o baterista inglês (acabado de aterrar, horas antes) Andrew Lisle. De Vicente, já pouco haverá a acrescentar: é um dos músicos mais omnipresentes da cena improvisada, espalha talento entre diversas colaborações e editou recentemente o disco “House in the Valley” ao leme do seu quarteto com John Dikeman (saxofone), Luke Stewart (contrabaixo) e Onno Goevart (bateria) - (recordamos aqui a crítica jazz.pt por Sofia Rajado). Do outro lado estava o músico londrino, baterista original que tem colaborado com músicos como John Edwards, Alex Ward, Dirk Serries e Kit Downes, além de já ter tocado com os nossos conhecidos Yedo Gibson e Vasco Furtado. Além desta atuação na ZDB, Lisle tinha agendada uma apresentação em trio (com José Lencastre e Hernâni Faustino na Cossoul) e outra a solo (no Água Ardente).
No trompete, Vicente foi liderando e lançando ideias, que eram seguidas pela bateria de Lisle, que ia respondendo e articulando a base rítmica. A principio discreto, o inglês foi-se mostrando à medida que a atuação ia evoluindo, e a sua capacidade técnica foi sendo cada vez mais notada. Além do trompete, Vicente servou-se ainda de outros instrumentos e objetos (flauta, sinos, etc.), desenvolvendo diferentes sons na ligação com o trabalho de percussão. Mais interligado que a primeira dupla, o duo Vicente/Lisle mostrou uma música dialogante. Esta atuação teve o condão de nos deixar com curiosidade para conhecermos melhor o trabalho do baterista inglês.