Pedro Branco, 22 de Abril de 2023

Pedro Branco

Fora do quotidiano

texto e fotografia: Nuno Catarino

Quase um ano depois da edição do seu disco a solo, “A Narrativa Épica do Quotidiano”, o guitarrista Pedro Branco levou essa música aos palcos. Fomos assistir ao concerto na Galeria ZDB, em Lisboa.

Começámos por reparar em Pedro Branco em 2016, quando editou “Dancing Our Way to Death”, trabalho em parceria com o contrabaixista João Hasselberg. Desde então, o guitarrista tem estado envolvido em diferentes projetos, toca com You Can’t Win, Charlie Brown e Tiago Bettencourt e, como líder, tem promovido os projetos Old Mountain (duo com o baterista João Sousa) e Branco toca Marco Paulo (trio com Hasselberg e Sousa). O disco a solo “A Narrativa Épica do Quotidiano”, editado em junho do ano passado, mostrou outra faceta, a guitarra desligada da corrente em interpretações de composições originais. Foi preciso passar quase um ano desde o lançamento para o guitarrista apresentar esta música ao vivo.

O “aquário” da ZDB encheu-se para assistir à atuação de Pedro Branco, no noite de 20 de abril. Sozinho na guitarra, Branco começou por interpretar uma música já antiga, gravada em “Dancing…”, repescada n’“A Narrativa…”: “Lisboa” (e a cidade que lhe dá título já mudou tanto desde que foi gravada pela primeira vez). Desde logo, Branco mostrou a sua magnífica capacidade de fazer das cordas da guitarra uma fonte de beleza e melancolia. Com uma interpretação primorosa, e um som muito fiel à gravação, o guitarrista mostrou como fazer música com emoção, servindo-se de poucos recursos, no ponto certo de equilíbrio. Ao longo da atuação foram surgindo outros temas mais velhos, como “Although you’re going nobody wants you there” e “Norman”, alternados com temas mais recentes, como “Pressão na fronteira”, sempre com a guitarra impecável na precisão de cada nota.

Depois deste início puramente instrumental, Branco chamou ao palco o cantor Salvador Menezes aka Tipo, para interpretar o tema “Composição da Fuga”; juntou-se seguidamente outro cantor, David Santos aka Noiserv, que interpretou “Cinco Minutos Antes”. Depois, acompanhado por Noiserv e Tipo, Branco tratou de interpretar uma música de Fausto Bordalo Dias, “Não canto porque sonho” – a escolha não foi inocente, o guitarrista integrou a banda que celebrou o 40.º aniversário do disco “Por Este Rio Acima” (não será necessário referir que se trata de um dos mais brilhantes da história da música portuguesa porque vocês já sabem, não é?). Apesar das dificuldades em arrancar nesse tema, quando o trio Branco/Tipo/Noiserv encarrilou, ouviu-se um dos mais bonitos momentos da noite.

Já sem os cantores em palco, Pedro Branco voltou ao formato-base, guitarra solo, e fechou o alinhamento formal com “Vira-Lata”, um belíssimo tema que combina a acentuado pendor melancólico com uma boa dinâmica rítmica (e que se confirmou como ótima escolha para primeiro single). Branco regressaria ainda para o encore, onde incluiu um tema de Marco Paulo, “Morena, Morenita”, despido à essência melódica, fazendo a ligação com o seu projeto de revisões jazzísticas de temas do popular cantor. Se não havia dúvidas da qualidade técnica enquanto instrumentista, Branco afirma-se agora definitivamente como compositor original. Estamos perante um músico completo com assinalável bom gosto.

Na primeira parte, atuou o projeto Ry Vuh, que junta a guitarra de Jorge Coelho (ex-Zen) e a bateria de Jorge Queijo (atenção ao seu duo com Susana Santos Silva), acrescentando-se a projeção de imagem em tempo real trabalhada por João Guedes. Na ZDB, guitarra e bateria iam criando momentos atmosféricos, numa toada exploratória, sem nunca perder o eixo. Utilizando um retro-projetor “vintage”, Guedes ia acompanhando a música com desenhos sobre os acetatos; se a música já era globalmente interessante, a componente visual acrescentou outra dimensão.

Agenda

10 Junho

Imersão / Improvisação

Parque Central da Maia - Maia

10 Junho

O Vazio e o Octaedro

Parque Central da Maia - Maia

10 Junho

Marta Hugon & Luís Figueiredo / Joana Amendoeira “Fado & Jazz”

Fama d'Alfama - Lisboa

10 Junho

Maria do Mar, Hernâni Faustino e João Morales “Três Vontades de Viver”

Feira do Livro de Lisboa - Lisboa

10 Junho

George Esteves e Kirill Bubyakin

Cascais Jazz Club - Cascais

10 Junho

Nuno Campos 4tet

Parque Central da Maia - Maia

10 Junho

Tim Kliphuis Quartet

Salão Brazil - Coimbra

10 Junho

Big Band do Município da Nazaré e Cristina Maria “Há Fado no Jazz”

Cine-teatro da Nazaré - Nazaré

10 Junho

Jorge Helder Quarteto

Fábrica Braço de Prata - Lisboa

11 Junho

Débora King “Forget about Mars” / Mayan

Jardins da Quinta Real de Caxias - Oeiras

Ver mais