Luís Vicente 4tet
A boa casa do quarteto de Luís Vicente
Foi num fim-de-tarde quase veraneante que fomos até à Jazz Messengers ouvir o lançamento do disco e o início de uma tournée europeia do quarteto de Luís Vicente. O concerto apanhou o grupo já em movimento (vinham de concertos europeus, o último dos quais em Ljubljana) e a caminho de outros palcos em terras nacionais. Quisemos por isso aproveitar a oportunidade e ouvir este grupo em direto.
O espaço da loja foi pequeno (sendo realmente pequeno) para toda a gente que quis ir ouvir o disco que acabou por ocupar também o varandim superior.
O 4tet que gravou “House In The Valey” é composto por John Dikeman no saxofone tenor, Luke Stewart no contrabaixo e Onno Goevart na bateria e, claro, com Luís Vicente. As músicas do trompetista são curtas, feitas com poucos elementos e com coisas simples. Muito bonitas na sua miniaturização, abrem-se à improvisação que as explora e descerra muito para além da sua natureza inicial. Este é o primeiro encanto desta ideia de Luís Vicente, quase como se víssemos, em filme muito acelerado, um filho crescer.
Há uma beleza festiva nestes temas. São luminosos como se cuidassem da herança de Albert Ayler, que por sua vez foi legatário das marching bands iniciais do jazz. Começam muito pequenas e perfeitas e desenvolvem-se em formas imprevistas, alongando-se imensamente e ganhando novos contornos e formas. O quarteto funciona, maioritariamente, em dois planos. O primeiro, da frente, com o saxofone e trompete e, atrás, a bateria e o contrabaixo que se assumem como secção rítmica. Raramente se altera esta geometria.
Os dois sopros sopram com força e cruzam solos. Excelente o diálogo entre os dois quando aconteceu. A bateria e o contrabaixo são muito interessantes e apesar de lutarem com uma acústica pouco favorável estiveram bem, com um solo de contrabaixo muito bom e a bateria sempre inteligente, a rodear o tempo sem o esclarecer.
Luís Vicente tem vários méritos, mas um deles é o de saber montar um grupo. Dikeman, que começou por ser uma segunda escolha, mas que rapidamente se revelou perfeito para esta música, encaixa perfeitamente nas ideias de Vicente e é o elemento que rapidamente se afasta para lugares mais abstratos.
Este concerto prenuncia um disco que vamos querer ouvir. Parabéns ao trompetista por montar e pôr em andamento este projeto.