Mário Costa “Chromosome”
Mário Costa a puxar para cima
Foi com merecida pompa que Mário Costa apresentou a 24 de fevereiro o seu novo disco no CCB. Uma apresentação inicial ao público português. O grupo seguiu para Braga e depois para Paris. O concerto do CCB foi bem apoiado pela Antena 2, que fez questão de estar presente e de o transmitir em direto, o que não impediu a plateia do auditório do CCB de encher num dia de muito frio, agradecendo ao baterista a cortesia e conscientes do privilégio.
Com a presença de músicos, críticos, fotógrafos, editores, o lançamento de “Chromosome” foi um acontecimento muito bem planeado que merece desde já, ainda antes de o ouvir, os parabéns por todo este esforço e boa organização de divulgação. A jazz.pt obviamente que também não quis faltar, antecipando a importância do sucessor de “Oxy Patina” que foi disco do ano.
Mário Costa veio com o super-quarteto que montou para este disco e que de algum modo constrói uma ligação com o trabalho anterior, mantendo Bernoît Delbecq no piano e Bruno Chevillon no contrabaixo. A novidade nesta gravação é a presença do trompetista vietnamita-americano Cuong Vu e, claro, as novas composições de Costa (parêntesis necessário: Cuong Vu fez parte da geração Knitting Factory novaiorquina do final dos anos 90; tem discos muito interessantes em nome próprio e com, entre outros, Dave Douglas, Pat Metheny, Bobby Previte, Myra Melford, Chris Speed, Laurie Anderson, Gerry Hemingway).
O baterista parecia feliz ou pelo menos soava feliz. Inicialmente mais contido, rapidamente se soltou e sentimos a alegria na sua música e forma de tocar. Continua único no modo como consegue detalhar as ideias rítmicas, com um som fantástico na bateria, uma paleta sonora rica e cheia de minúcia.
O concerto não trouxe surpresas, os músicos tocaram o alinhamento do disco, sem grandes alterações. “Victoria”, que já tinha encantado na gravação, ao vivo ficou ainda mais bela; uma balada deslumbrante. “Moluccas” é outro dos temas tremendamente sedutores do disco que ao vivo ganhou ainda mais cor. “Moonwalk”, em passo estugado, ficou com mais “groove” e as interações entre os músicos mais nítidas e por isso mais espantosas. O solo de Mário Costa, perto do final do concerto foi inteligente. Sem malabarismos ou exibições técnicas espúrias, foi uma construção de uma ideia simples que, magicamente se complexificou, permanecendo enraizada na sua natureza compreensível, mas deixando de o ser. Um fenómeno raro e valioso, daqueles que o David Attenborough filmava. Vimo-lo ali, no CCB, right before our eyes. Citando o divulgador e ambientalista: “The living world is a unique and spectacular marvel yet the way we humans live on earth is sending it into a decline.” Vimos Mário Costa fazer o contrário. Puxá-lo para cima.
Esperemos que “Chromosome” possa tocar muito ao vivo para que este concerto do CCB possa ser o primeiro episódio de próximos capítulos; e para que este encontro extraordinário de músicos, mestres dos seus instrumentos e artistas criativos, possa ser mais partilhado e ouvido. “Chromosome” é um digníssimo sucessor de “Oxy Patina” e prova que o primogénito não foi um assomo mas sim um começo.