, 11 de Novembro de 2022

Uma porta fechada, tantas por abrir

texto e fotografia: Gonçalo Falcão

Para avançar, Ricardo Toscano resolveu recuar. A uma música, a um género e ao lugar que o formou e lhe deu asas. A apresentação do seu novo disco foi feita no Hot Clube em Lisboa, numa quarta-feira. Chegados ao histórico clube sentimos no ar a energia da curiosidade. Um grupo de músicos e amantes de música (e os inevitáveis turistas) não quis faltar ao lançamento do disco e à apresentação dos novos temas pelo grupo de sempre, agora menos um.

Não cabia nem mais uma pastilha de menta no clube da Praça da Alegria quando o músico apareceu no palco. Ao segundo tema, “Orange Blossom” estávamos rendidos. No primeiro set tocaram o alinhamento do disco. Estava cumprida a solenidade.

Na segunda parte, ainda com a casa cheia, o grupo tocou alguns standards com leituras muito pessoais das quais há que destacar a de “Round Midnight”. Rapidamente o trio passou a quarteto com a chamada ao palco de João Pedro Coelho que estava na assistência. Desempoado o piano e reorganizado o palco num ápice, o gang reencontrou-se.

 


Finda a noite ficamos com uma certeza e uma dúvida. Toscano é hoje um músico muito diferente daquele que apareceu do nada a tocar bop com chispa, acompanhado por um grupo de amigos que tinham todos o mesmo foco e a mesma faísca.

Podemos assegurar que é um saxofonista notável, não só tecnicamente, mas como no modo como é capaz e pegar nas músicas e de as reler; e que João Pereira e Romeu Tristão são uma secção rítmica estupenda. O modo como João Pereira sola é sempre encantador: usa ideias muito simples e diretas e desenvolve-as com inovação e sortilégio (e rodos de elegância). É como se um mágico pegasse num velho truque que todos conhecemos e sabemos como é que se faz e o reinventasse.

Romeu Tristão também é capaz de pegar numa linha de baixo repetitiva e fazê-la brilhar como pouco baixistas de funky conseguem. Esta é a certeza.

A dúvida: o que é que Ricardo Toscano vai fazer com tudo o que tem? Ao ouvirmos “Orange Blossom” ouvimos uma música nova que parece construída com pedaços de muitas músicas que conhecemos bem. É encantadora, melodiosa, mas não avança. E por isso este disco e este concerto são uma verdade e um impulso: daqui para onde é que se vai? Sem querer soar a Passos Coelho quando orientou os jovens licenciados para a emigração – ocorreu-me que aqui, onde neste momento Ricardo Toscano está, parece estar tudo cumprido, arrumado e limpo.
 


Naquela noite e naquele lugar, ao ouvir este novo disco, pareceu-nos que estava a ser feita uma afirmação importante, que não abre horizontes, pelo contrário, fecha portas. Não fazemos a mínima ideia do que vai na cabeça do músico, mas sentimos que poderíamos estar a presenciar o lançamento de um futuro ainda desconhecido, que não passará mais por aqui, como a água de um rio pela ponte. 

Agenda

02 Abril

Zé Eduardo Trio

Cantaloupe Café - Olhão

02 Abril

André Matos

Penha sco - Lisboa

06 Abril

Marcelo dos Reis "Flora"

Teatro Municipal de Vila Real / Café Concerto Maus Hábitos - Vila Real

07 Abril

Jam Session hosted by Clara Lacerda

Espaço Porta-Jazz - Porto

08 Abril

Greg Burk Trio

Espaço Porta-Jazz - Porto

08 Abril

Carlos “Zíngaro”, Ulrich Mitzlaff, João Pedro Viegas e Alvaro Rosso

ADAO - Barreiro

12 Abril

Pedro Melo Alves e Violeta Garcia

ZDB - Lisboa

13 Abril

Tabula Sonorum

SMUP - Parede

14 Abril

Apresentação do workshop de Canto Jazz

Teatro Narciso Ferreira - Riba de Ave

14 Abril

Olie Brice e Luís Vicente

Penha sco - Lisboa

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