Como domar um tufão
Tinha sido uma terça-feira de aluvião em Lisboa, com um tornado em Alcântara e os já tradicionais carros submersos em rios urbanos. Não era por isso a noite mais convidativa para uma saída noturna, mas veio algum público até ao B.O.T.A. (Base Organizada da Toca das Artes), nos Anjos.
Foi no palco deste espaço, um dos inúmeros novos spots culturais alternativos da capital, que o quarteto com Carlos “Zíngaro”, João Pedro Viegas, Alvaro Rosso e Ulrich Mitzlaff se instalou para um concerto singular.
Carlos “Zíngaro” no violino, João Pedro Viegas no clarinete baixo e soprano, Alvaro Rosso no contrabaixo e Ulrich Mitzlaff no violoncelo estão a planear uma edição que dê continuaidade a “Day One”, o disco de estreia editado pela JACC Records e este concerto fazia parte desse plano, gravado para avaliação futura.
O concerto começou com Carlos “Zíngaro” a propor um ciclo que acabou por determinar o espírito da noite. Talvez tenha sido essa proposta instituidora, ou a memória de um dia de tempestade - ou ambas - que levou o grupo a optar por uma noite de bonança.
O concerto teve vários temas, a maior parte curtos. Músicas plácidas, feitas de contínuos concordados, melodiosos e estruturados. Os músicos alimentaram as ideias propostas à improvisação pelos restantes concertantes e o quarteto foi frequentemente feito de duos ou de trios. Sabem abrir e fechar os temas - ou não fosse este um grupo doutorado em improvisação - evitando os típicos crescendos e diminuendos - com o clarinete de Viegas, o instrumento fora do naipe, a encaixar surpreendentemente bem não só no temperamento sonoro como nos processos próprios das cordas.
Findo o concerto, que se ouviu com muito prazer, os músicos misturaram-se com o público numa conversa bem acolhida pela arquitetura desconcertante do B.O.T.A., mas com um excelente som e uma escala própria para este tipo de acontecimentos.