Lantana / Rodrigo Amado, 7 de Novembro de 2022

Lantana / Rodrigo Amado

Como as ondas

texto: Nuno Catarino / fotografia: Vera Marmelo

O sexteto Lantana acaba de editar o seu disco de estreia, “Elemental”; o saxofonista Rodrigo Amado acaba de editar o seu disco de estreia a solo, “Refraction Solo”. O Teatro do Bairro Alto, em Lisboa, juntou-os numa sessão dupla, no dia 5 de novembro. Não podíamos faltar.

O Teatro do Bairro Alto (TBA), em Lisboa, tem promovido um programa com foco experimental, que se reflete também na área da música. Com programação musical do trompetista Yaw Tembe (líder do sexteto Chão Maior), o TBA tem acolhido projetos que cruzam os universos do jazz e das músicas improvisadas, tendo lançado recentemente as sessões duplas “Escuta Cruzada”, apresentando na mesma sessão duas propostas musicais oriundas de mundos distintos. Desta vez, o TBA deu palco a uma sessão dupla dedicada a dois projetos que trabalham a música livremente improvisada, embora de formas diferenciadas. A sessão dupla de 5 de novembro era particularmente especial, pois assinalava a edição de dois novos discos: o sexteto Lantana lançava o seu disco de estreia, “Elemental” (Cipsela); o saxofonista Rodrigo Amado lançava o seu disco de estreia a solo, “Refraction Solo” (Trost). 

O grupo Lantana é um fenómeno na cena improvisada nacional. Sexteto exclusivamente feminino, é uma espécie de formação “all star”, fundado por Joana Guerra (violoncelo) e Maria do Mar (violino). Juntam-se Helena Espvall (violoncelo), Maria Radich (voz), Anna Piosik (trompete e voz) e Carla Santana (eletrónica). Embora nem todas sejam oriundas do universo da improvisação livre, é este o terreno que é assumidamente explorado pelo sexteto. Tendo testemunhado as suas atuações ao vivo (Sofia Rajado escreveu sobre a sua atuação na galeria Mono Lisboa), havia alguma expectativa sobre a chegada de um possível disco. Chegou agora, chama-se “Elemental” e tem selo da Cipsela Records. Desde logo, este disco marca a diferença pela capa, ao trazer cor pela primeira vez ao catálogo até agora cinzento da editora portuguesa.

No palco do TBA, a atuação de Lantana arrancou com as sugestões eletrónicas lançadas por Carla Santana (que recentemente se apresentou a solo na ZDB). Os violoncelos entram e vão fornecendo a estrutura; contrastantes, assumem-se como alicerces para esta música, com as intervenções muito marcantes de Joana Guerra e Helena Espvall (ouvimo-la também recentemente num novo trio). O violino de Maria do Mar é sempre muito ativo e atento, articulando-se com as restantes cordas. A voz de Maria Radich é central, assumindo-se preponderante e puxando o grupo para a frente – acrescentando ainda uma vertente performativa. Mais esparso, o trompete de Anna Piosik surge em intervenções precisas, assumindo algum protagonismo. Ainda assim, sentimos sobretudo um som coletivo, pelo permanente envolvimento de grupo, sem particulares destaques individuais. A música do sexteto assenta nessa improvisação sem rede e evolui lentamente, pelas contribuições individuais para o bloco comum, que vão procurando mais pontos de encontro do que choque ou embate. Ouvem-se muitas ideias e sugestões, mas o grupo vai caminhando numa direção comum, sem desvios. A massa sonora vai evoluindo, em crescendo, em ciclos, como as ondas do mar. Perante uma sala esgotada, o sexteto Lantana apresentou uma longa peça única, sem pausas. No final, o público aplaudiu com entusiasmo.

Na primeira parte atuou Rodrigo Amado, numa atuação que assinalava a edição do seu “Refraction Solo”. Inicialmente estava prevista uma atuação de Evan Parker, também a solo, mas a vinda do veterano inglês foi cancelada por motivos pessoais, sendo substituído por Amado. Conforme escreveu António Branco na sua crítica a “Refraction”, este álbum «é uma viagem solitária e coletiva ao mesmo tempo, uma vénia aos mestres, um grito de liberdade». No palco do Teatro do Bairro Alto, o solitário Amado exibiu o seu fraseado jazzístico, num processo de desconstrução e reconstrução do tema “Ghosts” de Albert Ayler, santo padroeiro do free incendiário. Amado explorou um criativo processo de improvisação onde se evidenciava uma profunda alma jazz. Depois dessa primeira longa peça, Amado tocou uma peça mais curta (cinco minutos). O público aprovou.

Agenda

29 Setembro

Bruno Pernadas (solo)

SMUP - Parede

29 Setembro

Elisa Rodrigues “Até ao Sol”

Planetário de Marinha - Lisboa

29 Setembro

Jam Session com Fernando Brox

Porta-Jazz - Porto

29 Setembro

Marcos Ariel & Alê Damasceno

Cascais Jazz Club - Cascais

29 Setembro

Mr Monaco

Nisa’s Lounge - Algés

29 Setembro

Orquestra de Jazz de Espinho com Melissa Aldana

Auditório de Espinho - Espinho

29 Setembro

Rui Fernandes Quinteto

Jardim do Mercado - São Luís – Odemira

29 Setembro

The Selva

gnration - Braga

29 Setembro

Mário Barreiros Quarteto

Jardim do Mercado - São Luís – Odemira

30 Setembro

Clara Lacerda “Residencial Porta-Jazz”

Porta-Jazz - Porto

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