Helena Espvall / Maria da Rocha / Luís Lopes
Beleza e intimidade
Três dos mais interessantes improvisadores nacionais – Helena Espvall (violoncelo), Maria da Rocha (violino) e Luís Lopes (guitarra) – apresentaram-se ao vivo na Cossoul, em Lisboa, num encontro musical que era uma estreia. Fomos assistir à atuação do novo trio.
A Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul fica localizada na zona de São Bento, em Lisboa, junto à Assembleia da República, e tem sido um palco privilegiado para quem acompanhe a cena da música improvisada. A Cossoul tem acolhido concertos de jazz e música improvisada com regularidade, destacando-se a programação semanal promovida pela editora Phonogram Unit. O fotógrafo Nuno Martins tem documentado este ciclo de concertos e daí resultou a exposição “Noites Phonogram Unit” (mais informação aqui).
Desta vez, a pequena sala lisboeta acolheu a atuação de um trio inédito, reunindo Helena Espvall (violoncelo), Maria da Rocha (violino) e Luís Lopes (guitarra acústica). Os três instrumentistas têm explorado diferentes contextos e tem sido sobretudo na música livremente improvisada que cada um deles trabalha com mais liberdade. Seria difícil de antecipar como resultaria o encontro destes três músicos que nos seus percursos atravessam diferentes universos: Espvall vai da folk indie à improv (integra o sexteto Lantana, que editou o registo de estreia “Elemental”), Rocha vai da clássica à experimental (e até tem acompanhado Sam The Kid), Lopes vai do jazz ao rock (destacando-se sobretudo ao leme do Humanization 4tet).
O concerto arrancou com os três músicos a dedilharem as cordas: a guitarra de Lopes definiu esse momento inicial, sendo seguido por Espvall e Rocha, que começaram por explorar violoncelo e violino no pizzicato; a música foi evoluindo e as instrumentistas mudaram depois para o arco. Ao centro, Helena Espvall mantinha um fluxo sonoro contínuo, funcionando como âncora, encontrando pontos de diálogo com cada um dos outros. O dedilhado de Lopes ia estabelecendo padrões, puxando pelo trio. E Maria da Rocha, no violino, acrescentava novas cores, com imaginação, levando a música por novas direções.
Apesar de já terem tocado entre si, em diferentes grupos e contextos, esta foi a primeira vez que os três tocaram juntos, em formato de trio. Numa atuação intimista, o grupo trabalhou dois temas, com um primeiro mais longo (cerca de trinta minutos) e um segundo mais breve (cerca de quinze/vinte minutos). Ao longo do concerto o trio foi explorando diferentes ambientes, marcados por momentos de pesquisa, diálogo e encontro. Sentiu-se uma boa ligação instrumental, com os três músicos em permanente atenção, pela escuta atenta, que criava mais pontos em comum mais do que desencontros. E ao longo da viagem fomos encontrando momentos de particular beleza e brilhantismo.
Apesar de não haver muito público, quem estava na plateia ficou rendido e aplaudiu com entusiasmo. Depois desta atuação, exclusivamente acústica, o trio vai voltar a apresentar-se ao vivo, desta vez na SMUP, na Parede, no dia 28; o grupo irá atuar em versão elétrica, pelo que será seguramente uma atuação diferente. Depois deste íntimo e belo concerto, ficámos expectantes com o rumo que este trio irá seguir.