The Selva / Quatroconnection
Inebriante
O trio The Selva levou à Galeria ZDB, em Lisboa, a sua música original e inebriante. Na primeira parte atuou Carla Santana, com o seu projeto solo Quatroconnection.
Depois das férias de agosto, a lisboeta Galeria ZDB regressou ao ativo neste mês de setembro e no programa não faltam propostas ligadas ao jazz e à improvisação (e lembramos que no próximo dia 29 o baterista Pedro Melo Alves regressa ao ciclo “Conumdrum”, desta vez com o convidado Ignaz Schick). No passado dia 14 de setembro a Galeria ZDB apresentou dois concertos de projetos nacionais, o regresso dos The Selva e a atuação de Carla Santana a solo, com o seu projeto Quatroconnection.
O trio The Selva nasceu da reunião de três músicos portugueses: Ricardo Jacinto (violoncelo), Gonçalo Almeida (contrabaixo) Nuno Morão (bateria). O trio formou-se em 2016 e desde então editou os discos “The Selva” (2017), “Canícula Rosa” (2019) e “Barbatrama” (2021), este último em parceria com Machinefabriek. Se a formação instrumental é atípica (dois instrumentos de cordas e percussão), o processo de trabalho também não será convencional.
Apesar de se tratar de três músicos com história ligada à improvisação livre, Jacinto, Almeida e Morão servem-se aqui de outros processos. A partir de elementos base, vão estruturando a música à volta de um eixo, a partir do qual a música se vai metamorfoseando, sem abandonar essa base. Nas cordas, Jacinto e Almeida têm abordagens criativas, servindo-se dos instrumentos para criar sons que vão dando forma ao tema; e a percussão de Morão complementa e desenvolve.
Com o arco e pizzicato, as cordas sobrepõem-se ou complementam-se, acrescentando camadas, juntando-se a percussão, num processo musical constantemente evolutivo. Sem medo de se servir da repetição de padrões, o trio explora uma música que não deixa o ouvinte pendurado, trata-se de uma música confortável onde temos sempre pé. A música gerada acaba assim por resultar original e inebriante, deixando o ouvinte sempre atento à sua evolução.
Na primeira parte atuou Carla Santana, a solo. Manipuladora de eletrónica, costumamos ouvi-la em contextos de improvisação coletiva e integra o grupo Lantana, onde contribui com elementos eletrónicos. A solo, sem rede, Carla Santana ficou no palco da ZDB com a responsabilidade de preencher todo o espaço, e conseguiu fazê-lo com êxito, trabalhando diversos elementos em simultâneo (ora ambientais, atmosféricos, ora mais rítmicos), num trabalho de crescente soma e construção. Tratou-se de uma abordagem criativa que resultou muito interessante.