Chicago e o jazz, parte 1
“Do you know what they call a Quarter Pounder with cheese?”
O jazz nasceu em Nova Orleães. O jazz nasceu em Nova Iorque. O jazz nasceu em Chicago. As três frases são verdadeiras, o jazz tem múltiplas maternidades em vários pontos da América do Norte. Fomos a Chicago conhecer um dos polos mais interessantes do jazz atual. Entre arranha-céus, o festival da cidade e os clubes, o que por lá se passa (e muito mais....) é espantoso.
O Festival de Jazz de Chicago voltou em full steam após o hiato a que todos fomos forçados. A jazz.pt foi assistir a um dos grandes festivais americanos sabendo que isso não é possível. Mas trouxemos muito jazz da “Windy City” para contar. Aqui fica.
A cidade de Chicago surge no início do século XX, a partir do movimento a que se deu o nome de “grande migração”. A “Windy City” foi sempre uma cidade ligada à indústria: ferroviária, do frio, das carnes, das gulosiemas (o Wrigley building ainda nos recebe orgulhosamente no centro da cidade) e outras.
A música afro-americana – tanto os blues como o jazz – cresceram com a cidade e surgiram estilos locais (ex: o Chicago blues, Chicago jazz, com um peso especial do baixo e da guitarra, andamentos mais rápidos e solos mais longos) que fizeram prosperar mais uma das indústrias locais, a do entretenimento.
Louis Armstrong tinha 20 anos quando chegou à Illinois Central Station vindo de New Orleans, no dia 8 de Julho de 1922. Também ele participou na “grande migração”, mas com motivações diferentes das dos seus compatriotas: queria tocar com Joe “King” Oliver que o tinha convidado para segundo trompete do seu grupo. E foi-o, de 1922 a 1929. O jazz foi desde o seu início na américa parte da cultura da cidade.
O festival de jazz de Chicago é, por isso, um dos grandes festivais da américa, defendendo os pergaminhos locais na relação com esta música. É um grande número de concertos que começam antes do festival naquilo a que chamam “Neighbourhood Concerts”. Mesmo durante os 4 dias do festival, para além dos 4 concertos dia programados para o palco principal, acontecem mais de 10 outros em palcos secundários nas imediações do Jay Pritzker Pavillion.
Num mundo sem rugosidades estaríamos sentados no esplendoroso Jay Pritzker Pavilion, desenhado por Frank Ghery, a ouvir a 44.ª edição do festival anual de Jazz de Chigago. Mas o planeta congelou durante dois anos e por isso este festival, que decorreu ininterrupto durante 41 anos, parou em 2020 e 2021. A edição de 2022 foi por isso não só um festival de jazz mas um momento de reencontro e de partilha aguardado e a celebração dos 100 anos da primeira vez que o homem pisou a Windy City. Um pequeno passo para ele, um enorme para todos nós.
Entramos num parque enorme, à escala americana. O auditório escultórico tem 4000 lugares sentados e expande-se por um enorme relvado onde 10 000 Chicagoans se sentam. Vêm perfeitamente porque por cima do relvado há uma teia metálica com colunas de som e os concertos são transmitidos simultaneamente num ecrã gigante. Vieram com cadeiras, sofás insufláveis, tapetes e até mesinhas baixas com um jarrinho e umas flores usaram.
O festival aconteceu, como habitualmente, durante o fim-de-semana do Labor Day, nos dias 1 a 4 de Setembro. Mas, como referimos, desde o dia 23 de Agosto, que a cidade se enche de “Neighborhood Concerts”.
Inaugurado o festival, os concertos gratuitos oferecidos pelo mayor Lightfoot, começam às 11 da manhã e acabam às 11 da noite em vários locais do Millennium Park (o parque central e emblemático da cidade, onde está a “Cloud Gate” de Anish Kapoor. Assim o leitor poderá perceber melhor porque é que este não é uma reportagem do festival, mas de alguns dos concertos e desta realidade americana tão diferente da nossa, não só em quantidade como em protagonistas.
Para um visitante é curioso verificar como muitos dos nomes nos são familiares; mas muitos mais são complete strangers. Andrew Lawrence Sextet, Fulton Street Collective, The Shy Shēks, Mai Sugimoto, The Marlene Rosenberg Quartet, Mike Allemana Vonology, Roya Naldi, Lenard Simpson, Low Down Brass Band, Regina Harris Baiocchi, Arman Sangalang Quartet, Russ Johnson Quartet, Ethan Philion, Jazzmeia Horn, Christy Bennett’s Fume, Marques Carroll Quintet, Aurora Nealand & the Royal Roses, Carmen Lundy , Julius Tucker Quartet, Gustavo Cortiñas & Desafío Candente, Denise Thimes, Isaiah Collier, Abigail Riccards with Joel Frahm, Immanuel Wilkins Quartet, Mwata Bowden, Leon Allen, Yosef Ben Israel e Dushun Mosley, Donald Harrison, TOYOAKI Jazz Ensemble, The David Scott Quartet, Christy Bennett's Fumee, Erwin Helfer & John Brumbach, Herbsaint.
Mesmo com muita internet, grande parte da América continua a passar-nos ao lado.
A Quarter Pounder With Cheese
O primeiro concerto no palco principal foi no dia 1, quinta-feira. Depois de uma curta apresentação e agradecimento às instituições e patrocinadores foi a vez do hino nacional. Na América canta-se o hino antes de um festival de jazz... tudo de pé, mão no peito e canto emocionado como se tivessem ganho uma medalha nos jogos olímpicos.
Do lado direito do palco instalam a bandeira da América e a da Chicago que esvoaçam lenta e elegantemente com aquela maneira fílmica que as bandeiras americanas têm de drapear.
Para nós tudo isto é exótico: “It's the little differences. I mean they got the same shit over there, we got here, but it's just there's a little difference.”. Afinal estamos na terra que tem um campeonato chamado “World Series” onde só podem competir equipas americanas.
O primeiro concerto homenageava Von FreeMan e era liderado por um dos músicos que o acompanhou musicalmente na última fase, o guitarrista Mike Allemana.
Uma formação alargada com 3 metais (trompete, saxes alto e tenor e trombone) e um violoncelo) que tinha um papel curioso pois participava nos contínuos dos metais tocando como se fosse um sopro), um coro de quatro vozes, guitarra elétrica, baixo e bateria davam à música uma dimensão orquestral a que se adicionava a pose dos músicos, vestidos com cerimónia e a solenidade do palco que, mesmo tendo um desenho contemporâneo foi pensado para poder albergar orquestras sinfónicas, forrado a madeira.
Mike Allemana usou a carta astrológica de Von Freeman para compor as músicas (não explicou em detalhe o processo de transposição). “Vonology” assim se chama a peça, está claramente referenciada em Von Freeman e numa vontade cosmológica.
Von Freeman é uma figura de referência para o jazz de Chicago. O som do seu saxofone tenor era forte, amplo e ventoso como a cidade. Nasceu em 1923 e o seu pai, polícia de profissão, também era músico e amigo de Armstrong que era uma presença regular na casa dos Freeman (como também Fats Waller). Bopper convicto, soube abrir o estilo e explorar outras possibilidades recusando sempre sair de Chicago. A sua importância para a cidade fica bem expressa ao atribuírem o sem nome ao palco contíguo ao principal, onde decorriam os concertos da manhã: o “Von Freeman Pavilion”. Na fase final da sua careira foi acompanhado pelo trio que estava em palco, com Allemana na guitarra, Matt Ferguson no contrabaixo e Michael Raynor na bateria.
A música foi bonita, delicada, muito arrumada, orquestral. Com os quatro metais e o violoncelo a construírem fundos melódicos que acompanham suavemente o andar das músicas. Tudo muito lento, pensado e previsto. Foi claramente um concerto inaugural, polido, que, através desta solenidade sinfónica, acentuou a dimensão simbólica que o jazz tem na cidade e na cultura americana. Para os americanos esta é uma música popular, como o blues ou o hip-hop. É a música que toda a gente ouve e aprende a tocar. Não é uma música difícil para as elites.
They wouldn't know what the fuck a Quarter Pounder is.
Muito aplaudido o espetáculo inaugural deu lugar ao principal e ao grande concerto deste festival: Henry Threadgill com os Zoid. Não sem antes aparecer o MC para nos entreter a falar de vários assuntos. Na américa não pode haver “tempo morto” como na Europa. Por isso há uma série de acontecimentos entre concertos (nos 20 minutos necessários para trocarem os instrumentos no palco): vídeos dos dias anteriores, entregas de prémios a jovens e às suas famílias, In memoriam dos músicos de jazz que morreram no ano anterior e diferentes MC’s a contar histórias e a apresentar o que foi visto e o que virá; comes e bebes (provámos o Hot Dog de Chicago que é um disparou todos os alarmes das papilas gustativas tal era o exagero de diferentes sabores intensos; não tivemos coragem de provar a pizza de Chicago, a "Deep Dish Pizza", porque é uma chafurdísse de tomate que devia pagar uma indeminização ao estado italiano por usar o nome pizza numa tarte de pasta de tomate), merchandising do mais diverso, bancas de rádios e publicações de jazz.
Mas a música era a grande motivação para estar ali e o Zoid, de Henry Threadgill, o grande objetivo. Threadgill nasceu em Chicago, mas mudou-se para Nova Iorque nos anos 70, onde se estabeleceu. Nunca esqueceu a sua hometown, onde começou a tocar, e foi recebido como um hometown hero nas palavras do apresentador do concerto, depois de ter ganho o Pulitzer de música para a composição "In For A Penny, In For A Pound".
A música do altista é um caso sério de inovação. Depois do “Air”, o “Zoid” é o seu principal veículo musical e com quem explora as suas complexas ideias há 20 anos. O quinteto atualmente integra o guitarrista Liberty Ellman, na tuba e trombone Jose Davila, o violoncelista Christopher Hoffman e o baterista Elliot Humberto Kavee.
No palco Pritzker, o Pulitzer tocou uma seleção de partes da peça “Pathways”, de 2019, que escreveu inspirado na revitalização e limpeza do lago que banha a cidade de Chicago, o Erie. Para quem ouve, esta música é um mistério. São pontos, aparentemente dispersos, mas que, todos juntos fazem um movimento. Um pouco como um bando de andorinhas onde uma série de pintas passeriformes desenham movimentos abstratos, unidos com elasticidade. Os pontos musicais de Thereadgill são transparentes e elásticos, parecendo terem propriedades magnéticas, desenhando movimentos estranhos. Como se cada instrumento nos desse algumas partes e omitisse outras num alinhavo difuso, mas ao mesmo tempo compreensível. Ficamos com a sensação que o concerto era sobre som e movimento.
A escrita que dá estrutura a esta músca uma investigação sobre serialização (Schoenberg , Messiaen, Boulez) de intervalos harmónicos (em vez de notas [escalas/acordes] e ritmos). Ouvida é única, belíssimo, muito sofisticada e poética. Henry Threadgill não permitiu que o concerto fosse fotografado.
No segundo dia do festival, a dose de concertos duplicou. Começou mais cedo (isto para não falar dos vários da manhã, que começavam às 11h30). Às 16h montou.se no palco o Ethan Philion-Mingus Tribute. Big band de Chicago, música muito bem tocada, possante, musculada, e uma big-band capaz de acelerar como um comboio.
Royale with cheese
Outra das grandes surpresas deste festival americano é que as coisas começam rigorosamente a horas e acabam rigorosamente a horas como numa Chorus Line da Broadway. Os músicos cumprem escrupulosamente os tempos previstos, os instrumentos mudam-se com uma naturalidade ensaiada precisa e o checksound não tem falhas. O som para a plateia é soberbo. Uma I Did It My Way que impressionaria uma equipa de engenheiros de som alemães e dinamarqueses.
O segundo concerto foi com JD Allen, um saxofonista tenor em ascensão com um som à Sonny Rollins. Aquilo que na gíria se designa por um saxofonista à americana, rápido, forte, fluído com um som cheio. Começou a sua carreira musical ainda em 1999 é um saxofonista regular do grupo de Cindy Blackman e de Orrin Evans, tocou com Gerald Cleaver, Eric Revis e Dave Douglas, entre muitos outros.
Aproveitou a pandemia, saiu de Nova Iorque, refugiou-se em Cincinnati para criar o seu primeiro álbum a solo (“Queen City [Savant]). Em Chicago, de regresso aos palcos, tocou com vontade e energia, acompanhado por um power trio que soa. Sequioso, JD Allen quase não parou para aplausos. Esteve sempre a alta velocidade para aproveitar todo o tempo no palco que o festival lhe deu.
O trio está à procura de uma fórmula para resolver a música a três, que pareceu funcionar com uma ideia simples, mas muito original: só o contrabaixo dá a estrutura rítmica. A bateria cria uma avalanche, uma intensidade permanente, sempre com o motor ligado, sem marcar o ritmo em demasia. Cria uma onda rítmica para o saxofone surfar à vontade. Não se preocupa em explicar o ritmo mas sim em criar uma parede móvel de percussão, numa lógica primitivista. Intensidade, embalo, transe. O saxofone dá a parte melódica, com um som cheio e pesado, referenciado no som de Rollins
É o contrabaixo que nos vai mantendo ligados a uma ideia de tema. Dá-nos o cenário onde o saxofone dialoga. A bateria é todo o barulho envolvente, toda a vida que da cena enquanto o fala acontece .
O terceiro concerto apresentava a cantora Jazzmeia Horn a liderar um grupo. Ainda jovem, chegou ao palco com uma alegria a leveza raras. Cantou com prazer e descontração. As suas músicas são em grande medida improvisadas a partir de frases e ideias interessantes sobre a vida e sobre as relações.
O processo de inovação de Jazzameia é muito curioso. Por um lado é profundamente tradicionalista. Por outro, ao vivo (em disco isso não se sente tanto) está em permanente improvisação. Dá-nos o prazer de assistir a esse processo claro de improviso, usando formas muito abertas, exageros, agudos, desmaios, sempre com um swing descomunal. Jazz vocal novo, raro ouvir. Um pouco à semelhança do que Kendrik Lamar fez com no hip-hop, Jazzameia, traz temas diferentes para o jazz vocal: respeito por si e pelos outros, autoestima, pensamento livre, racismo. Jazz meets the blues, uma Betty Carter do século XXI, feminista, reflexiva que em vez do típico “my men” dos blues, canta o “my self”. Grande concerto onde não se esperava. O último disco de Jazzameia era de 2019 e por isso não sabíamos bem o que que esperar deste concerto que foi grandemente baseado nesse registo intitulado “Love And Liberation”, mas muito transformado pela improvisação ao vivo. Grande concerto de jazz com odds nada favoráveis.
E o encerramento do segundo dia, foi dedicado à perfeição. Bill Frisell tem aquela qualidade que todos os músicos procuram: bastam três segundos e conseguimos reconhecer o seu som transparente, e a sua new and old approuch à guitarra elétrica, profundamente enraizada na linguagem folk de Fahey ou Robbie Basho mas levando-a para territórios novos, com um domínio do tom e da expressão total. É a mestria absoluta. São 40 anos a tocar todos os dias que levam a este controlo. Aqui não é uma questão de rapidez - muito pelo contrário - tudo se passa em ritmos lentos, mas de domínio absoluto da expressão: do que é tocado e do que é omitido. De como é tocado. É o controle total do som e da forma.
Frisell também é um acompanhante generoso, mesmo quando lidera uma banda. Veio com o inseparável contrabaixista Thomas Morgan e Rudy Royston na bateria, o combo que ele lidera em seu último álbum, Valentine (Blue Note).
Já ouvimos este trio em Portugal algumas vezes (e até em duo com Thomas Morgan, onde esta música ainda fica perfeita em minha opinião) e por isso a curiosidade era sobre como é que ele toca na América. E de facto foi diferente. Empenhado em extrair todo o potencial harmônico e emocional de cada uma das músicas que escolhe tocar, constrói um reportório com muito menos Beatles e muito mais músicas populares americanas que estabelecem uma relação muito mais profunda com o público norte-americano, que as conhece bem e que fazem parte de um imaginário popular nacional.
Pareceu até haver a construção de um discurso paralelo através da escolha das canções. A penúltima música foi “What The World Needs Now”de Burt Bacharach e o concerto acabou emocionalmente com "We Shall Overcome", a música que ficou associada aos movimentos de luta racial dos anos 60 e 70 (Civil Rights Movements). A música, que surgiu pela primeira vez enquanto canção de protesto nos anos 40 associada ao protesto durante uma greve na Carolina do Sul, rapidamente ganhou uma escala nacional associada aos “Civil Right Movements”, integrando um discurso do presidente President Lyndon B. Johnson que dava direito de voto aos afro-americanos e depois com Martin Luther King.
Um final espiritual e pacificador que comoveu a assistência de Chicago.
Big Mac's a Big Mac, but they call it Le Big Mac
O terceiro dia era o menos entusiasmante Começou com o jazz académico, bem tocado e com boas canções de Greg Ward, saxofonista de Chicago. Nada de verdadeiramente novo aconteceu.
Veio depois o jazz caribenho de Miguel Zénon com um disco novo acabado de sair -“Música das Américas - Navegar”. Não se acrescentou nada ao que já sabemos sobre Zénon e sobre o latin jazz: muito bons músicos caribenhos e sul-americanos (Zénon é portoriquenho, Luís Perdomo venuzuelano), melodias meneáveis, bateria com mão pesada na tarola e muita bomba, mamão, rumba, salsa e bachata, em andamentos rápidos, muita velocidade e um quarteto super coeso.
Não conseguimos ter paciência para Carmen Lundy. Perdeu-nos nas três primeiras músicas. O seu jazz está ouvido, antes de Carmen Lundy cantar já sabíamos o que ia acontecer. Tudo muito bem vocalizado, muito bem tocado. Mas maçador.
Para fechar veio o concerto mais interessante do dia, o de William Parker. O músico, que acabou de fazer 70 anos, é um baixista, compositor e líder reconhecido, mas é também e ainda organizador, promotor, editor e escritor. Criador obsessivo, acabou de lançar um álbum décuplo (com 10 discos, não sei se a indústria tem uma designação própria para este exagero) “Migration of Silence Into and Out of The Tone World – [Volumes 1–10]”, uma coleção de suites vocais e instrumentais gravadas entre o final de 2018 e o início de 2020, centradas nas vozes femininas (voz no sentido amplo, tanto o aparelho vocal como metaforicamente, a expressão individual num determinado instrumento).
William Parker tem usado os grupos pequenos para explorar o continuo que liga o jazz tradicional ao mais abstrato, mergulhando no poço sem fundo e difícil de definir que é a chamada cultura afro-americana.
A Chicago veio em quinteto com três companheiros habituais – Rob Brown no saxofone alto, Cooper-Moore no órgão e Hamid Drake na bateria – e veio ainda com a estrela em ascensão – James Brandon Lewis – no saxofone tenor; da improvisação ao jazz espiritual e a ritmos africanos, foi um prazer. Brandon Lewis toca com uma tal leveza e flexibilidade que faz o tenor parecer maleável; mas é forte e afiado no que toca, sem desperdícios ou ornamentação excessiva. Cooper-Moore é um teclista com uma linguagem contemporânea, pontilhístico e ao mesmo tempo muito ligado à tradição do órgão no jazz. Hamid Drake mostra um enorme desrespeito pelos tempos, acelera e atrasa à descrição. É ele o centro rítmico já que Parker circula à volta dos temas. Estes, começam geralmente com formas simples que, sem percebermos como, ficam complexas, para depois regressarem a um primitivismo quase infantil, feita com pouca coisa. Um grande concerto deste quinteto que continua a surpreender dentro de um mundo musical aparentemente natural.
Chicago continua orgulhosa da sua história jazzística mas aberta em relação a outras narrativas e ideias. O público ouve com prazer o jazz mais tradicional e o mais imaterial como o de Henry Threadgill. O ambiente é magnífico, a arquitetura sofisticada está desenhada para uma fruição fácil e atenta. A organização espantosa. Apesar das notícias reportarem uma cidade com um grande problema de violência, o centro de Chicago é pacífico, as noites são feitas ao ar livre, a cidade é belíssima com arranha-céus espantosos que acompanham o curso do rio.
“Come on, baby, don't you wanna go?"