Eduardo Cardinho Quinteto
À procura da luz
O vibrafonista Eduardo Cardinho apresentou-se no Hot Clube, no dia 23 de junho, acompanhado pelo seu quinteto, ao lado de João Barradas, André Rosinha, Bruno Pedroso e Ben Van Gelder. Não há promessa de disco novo nem novidades, mas esta música continua vibrante.
Sendo a primeira vez que fui ao Hot Clube desde a morte de Paulo Gil, o primeiro olhar foi inevitável: o lugar onde ele se costumava sentar. Nunca fomos amigos, não sei sequer se ele sabia o meu nome, mas foram várias as noites que vimos concertos lado a lado e nessas noites tive a sorte de ouvir algumas das suas infinitas histórias. Particularmente nesta altura, em que decorre o ciclo "A Escola vai ao Clube", com os jovens alunos da escola a apresentarem-se ao vivo no palco, o Paulo adoraria apontar aqueles que seriam futuros talentos, sempre com o seu típico entusiasmo. Mas o Paulo Gil já não estava lá, o seu lugar estava ocupado por um jovem com um chapéu.
Mesmo não havendo promessa de disco novo nem novidades particulares, fui ao Hot Clube assistir a este concerto do Eduardo Cardinho Quinteto com curiosidade. Cardinho tem-se afirmado como excelente instrumentista, fazendo do vibrafone um instrumento de primeira linha. Estreou-se com “Black Hole” (Carimbo Porta-Jazz, 2016), mas foi ao segundo disco como líder, “In Search of Light” (Nischo, 2019), que confirmou todas as credenciais. Neste último, reuniu um verdadeiro grupo “allstar”, com talentos da sua geração (o acordeonista João Barradas e o contrabaixista André Rosinha), o saxofonista holandês Ben Val Gelder e o baterista Bruno Pedroso, músico de uma geração mais velha.
Foi este grupo que se apresentou no palco da Praça da Alegria. O grupo arranca e, ao ouvirmos o vibrafone de Cardinho interligado com o acordeão midi de Barradas, é inevitável lembrar o projeto Home e o seu excelente “An End As a New Beginning” (disco de 2017) - mas enquanto aí se ouviam guitarras, aqui há um saxofone que descola. Van Gelder rouba os holofotes com o seu saxofone vertiginoso, destacando-se desde logo. Mas a qualidade técnica é partilhada por todos, e à medida que a música avança todos se vão exibindo com naturalidade.
O quinteto passou por temas do disco (como “In Search of Light”, “Kraaiennest” e “Snow Fall”), mas tocou também outros, incluindo inéditos e um tema de André Rosinha, “Cerejas” (que integra o recente disco “Triskel”). O vibrafone de Cardinho tem a capacidade de nos surpreender sempre, quase parece ter a expressividade de um piano. Barradas, como sempre, esteve magnífico, mostrando não só técnica mas sobretudo capacidade dialogante. No contrabaixo, Rosinha puxou dos galões, exibindo-se a grande nível. E Pedroso, como sempre, esteve irrepreensível, na marcação rítmica com personalidade. Se no início foi o sax de Van Gelder a destacar-se, para o final todos tinham feito notar e, mais do que destaques individuais, sobressaiu a qualidade e envolvimento coletivo.
Por altura da edição do disco “In Search of Light” escrevi que se tratava da “afirmação definitiva de um músico talentoso, com um jazz que é original, moderno e vivo”. Esta atuação do quinteto de Cardinho no Hot Clube confirma exatamente essas palavras.