Rocky Marsiano & Meu Kamba Jazz
Beats que são bass'es
Foi na quinta-feira passada, na quinta edição das Noites Azuis que aconteceu uma primeira: a estreia em palco de um projeto de Rocky Marsiano (também conhecido como D-Mars).
Rocky Marsiano faz um trabalho extraordinário de digger ao recuperar de beats afro old school e transformá-los em batidas de hip-hop. Ouvido o concerto no excelente sound system do Lux, ficamos com a sensação que mais do que beats, Marsiano faz bass'es.
Junto um quarteto com Rodrigo Amado no saxofone, Vicente Booth na guitarra elétrica e António “Toni” Duarte na percussão e atirou-se para o palco para nos dar a conhecer este seu novo projeto, o “Meu Kamba Jazz".
Desde o início do concerto que a relação entre os beats/basses e o saxofone dominou a música, com Rodrigo Amado a surpreender-nos, tocando num esquema formal mais contido do que aquele em que o estamos habituados a ouvir, construindo ciclos e encontrando escalas melódicas em batidas por vezes pouco afinadas. Conseguiu navegar nas bases criadas por Marsiano com imensa elegância, construindo um concerto bom de ouvir, onde está quase sempre presente. Para Amado esta não é uma situação nova. Já tinha tocado nas Pyramid Sessions de D-Mars e com Allen Halloween.
Também Marsiano soube criar formas de nos manter dentro dos seus beats/bass'es, que nunca soaram repetitivos. Foi sempre construindo e retirando frases menores dentro das estruturas principais e mantendo a música viva e interessante, nunca repetitiva.
Booth (dos Mazarin) ouviu-se pouco e com pena minha pois nunca cedeu à tentação fácil de funkyzeit, mantendo-se num registo discreto mas interessante. Toni está no seu meio, acrescentando pormenores e cor.
O cruzamento entre hip-hop e jazz já é uma velha história que começou no início dos anos 90 do século passado com os US3, United Future Organization, A Tribe Called Quest, Digable Planets, Arrested Development e tantos outros. A proposta de Marsiano é distinta não só pela singularidade da formação, com o saxofone a assumir a frente, como pelos beats, que destilam os clássicos africanos, algum jazz como matéria-prima sampladélica e um certo brasil a assomar.
Pena que estas noites no Lux ainda não tenham ganho o embalo de público que mereciam e os concertos interessantes oferecidos (como o de Rui Reininho com as "20.000 Éguas...") tenham tido pouquíssima assistência. A música ao vivo merece mais.