Até Jazz 2022, 10 de Maio de 2022

Até Jazz 2022

Valores seguros

texto: António Branco / fotografia: Rodrigo Simas

A Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa foi palco para um novo festival de jazz em Lisboa. O Até Jazz, que decorreu entre os dias 6 e 8 de maio, trouxe um cartaz em doses duplas que mesclou propostas nacionais e internacionais com foco no chamado jazz de fusão, mas não só. A jazz.pt marcou presença no último dia.

No belo edifício projetado pelo arquiteto Pardal Monteiro na década de 1940, decorreu no passado fim de semana a edição inaugural do festival Até Jazz. Do programa do evento, com concertos duplos, constavam, na primeira noite (sexta, 6 de maio), o trio do pianista Diogo Vida, com o baixista Yuri Daniel e o baterista Vicky Marques e um quarteto liderado pelo guitarrista Mike Stern e pelo saxofonista Bill Evans; na segunda noite (sábado, 7 de maio) o cartaz era formado pelo quinteto da compositora, arranjadora, pianista e produtora lisboeta Isabel Rato e por um quarteto capitaneado pelo baixista Tom Kennedy e o baterista Dave Weckl. Concertos a que a jazz.pt não teve oportunidade de assistir.

O derradeiro dia do festival foi domingo, 8 de maio, e, por esta razão, os concertos começaram um pouco mais cedo. Às 20h15 (cumpridos os tão portugueses quinze minutos de tolerância académica, tanto mais pelo local onde estávamos...), com algumas clareiras na plateia, subiu ao palco o LAB, interessante projeto liderado por dois nomes de créditos firmados no jazz nacional  – o guitarrista Ricardo Pinheiro (na foto) e o baixista Miguel Amado – ambos com vasto percurso de quase duas décadas – acompanhados por dois músicos jovens mas de predicados já mais do que reconhecidos – o saxofonista Tomás Marques e o baterista Diogo Alexandre. (Foi deveras interessante escutar Marques e Alexandre num contexto sonoro totalmente diferente do da tarde anterior, em trio com o contrabaixista Nelson Cascais, no âmbito do Amadora Jazz.)

A abrir, duas composições de Miguel Amado; a primeira, “Way Around”, mostra a articulação fina entre guitarra e saxofone, suportada pelo possante baixo elétrico de Amado e a bateria sempre rica e inventiva de Alexandre; a segunda, “When I See You Again”, tem uma bela melodia desenhada por Marques que funciona como rampa de lançamento para solos conseguidos de guitarrista, baixista e do próprio saxofonista, e novo bom momento de Pinheiro, guitarrista hábil e competente seja qual for a configuração instrumental em que se movimente. No restante, três temas saídos da pena do guitarrista: à vertigem rock de “As U R” (Alexandre, imparável máquina rítmica!), seguiram-se a delicada balada “Canção de Embalar a Isabel” e a alta voltagem de “Mar Picado”, com novos solos dignos de menção de Pinheiro e Amado.

Um bom concerto de uma formação com bastante potencial para continuar a surpreender.

Seguiu-se, pouco passava das 21h30, o momento mais aguardado de todo o festival, o regresso do histórico baterista Billy Cobham, naquela que foi a quarta visita do músico norte-americano a Portugal. O palco era dominado pela mastodôntica bateria do líder, que surgiu com o seu inseparável lenço na cabeça. A banda que o acompanhou nesta sua aparição lisboeta, significativamente diferente da anunciada, é de inatacável competência técnica: Emilio Garcia na guitarra, Victor Cisternas no baixo elétrico, Jorge Vera e Steve Hamilton nos teclados.

Cobham trouxe uma amostra do seu vasto repertório, parte dele porventura hoje algo datado, abrangendo meio século de atividade: jazz-rock, groove musculado, alguns ingredientes latino-americanos (Cobham, recorde-se, nasceu no Panamá em 1944, embora tenha emigrado muito cedo com a família para os Estados Unidos.) Os resultados foram notoriamente desiguais em termos de interesse musical.

Houve momentos de alto nível, claro: intervenções de ambos os pianistas/teclistas (com destaque para o ágil piano elétrico de Jorge Vera), do guitarrista e, naturalmente, alguns solos de Cobham, que ainda conserva intactas muitas das qualidades que lhe deram merecido reconhecimento ao longo das décadas; mas também, no reverso da medalha, mantém a dispensável propensão para excessos virtuosísticos, como num solo com quatro baquetas que pouco acrescentou artisticamente. O que se escutou resvalou a espaços para soluções previsíveis e confortáveis, sem grande margem para a novidade ou sequer para indagações criativas de um passado que contém tesouros merecedores de outra abordagem. Os aplausos entusiásticos de um público em pé foram, porém, prova cabal de que os presentes exultaram com o aquilo que se ouviu.

Nota final para a organização do festival Até Jazz, que apostou num domínio pouco explorado entre nós – o designado jazz de fusão – pelo menos a nível das propostas internacionais, uma vez que os grupos nacionais escalados pouco têm a ver com esta veia estilística. Aguardamos com expetativa o que nos reserva a próxima edição.

Agenda

25 Março

Duke Ellington’s Songbook

Sunset Jazz - Café 02 - Vila Nova de Santo André

25 Março

Mário Laginha com Orquestra Clássica da Madeira

Assembleia Legislativa da Madeira - Funchal

25 Março

The Rite of Trio

Porta-Jazz - Porto

25 Março

Sofia Borges (solo) “Trips and Findings”

O'culto da Ajuda - Lisboa

25 Março

George Esteves e Kirill Bubyakin

Cascais Jazz Club - Cascais

25 Março

Katerina L’Dokova

Auditório ESPAM - Vila Nova de Santo André

25 Março

Kurt Rosenwinkel Quartet

Auditório de Espinho - Espinho

26 Março

Giotto Roussies Blumenstrauß-Quartett

Cantaloupe Café - Olhão

26 Março

João Madeira, Carlos “Zíngaro” e Sofia Borges

BOTA - Lisboa

26 Março

Carlos Veiga, Maria Viana e Artur Freitas

Cascais Jazz Club - Cascais

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