Jazzahead!
Passo de gigante
O festival Jazzahead! voltou a realizar-se em formato presencial, entre 28 de abril e 1 de maio, na cidade alemã de Bremen. Portugal marcou presença, pela primeira vez, numa união de esforços com o objetivo de promover o jazz português. Aqui fica o relato de Eray Aytimur.
Depois de dois anos de pandemia, o festival Jazzahead! voltou a realizar-se em formato presencial, entre 28 de abril e 1 de maio, na cidade alemã de Bremen, com o mote “Novamente juntos” (“Together again”).Como referiu Hans Peter Schneider, diretor da Messe Bremen (a entidade organizadora do festival), mais nenhum sector sofreu tanto com a pandemia como o mundo da cultura, pelo que este regresso ganhava especial relevância e funcionou também como celebração.
O Jazzahead! não é apenas um festival, é uma grande mostra do jazz global e realiza em paralelo uma feira internacional. Já o programa musical estava segmentado em cinco categorias principais: “Showcases”, “Canada”, “German Jazz Award”, “Circus Tent” e “Clubnight”. Foram realizados quarenta concertos, em quatro palcos, ao longo das três noites de “Showcases”, dividindo-se por quatro áreas temáticas – “Canadian Night”, “European Jazz Meeting”, “German Jazz Expo” e “Overseas Night”. Das várias atuações a que pude assistir, destaco a trombonista Audrey Ochoa, a trompetista Steph Richards e especialmente a flautista síria (nascida em Paris) Naissam Jalal, instrumentistas que merecem muita atenção.
Em paralelo, o programa incluía dezenas de conferências, workshops e apresentações - estive particularmente interessada nas conferências de Laura Block e Monika Herzig, sobre o tema “Contexto histórico e social dos desequilíbrios de género no jazz”, e de Lisa Buck e Rachel Therrien, sobre “Como alcançar a igualdade de género no jazz?”.
Nesta edição de 2022 ano o país parceiro do Jazzahead! foi o Canadá, sendo o primeiro país fora do continente europeu a ser convidado. Nesse sentido, os canadianos fizeram um ótimo trabalho, com vinte bandas com cerca de oitenta músicos a mostrar a diversidade do jazz daquele país transatlântico. Laila Baila, Malika Triolien, Erin Costelo e a “rising star” Melissa Aldana foram os destaques. Por falar no país parceiro, foi anunciado que a Alemanha será o país parceiro da edição 2023, uma escolha que levanta muitas questões... Não seria preferível escolher um país com uma menor indústria cultural, para poder mostrar o seu mercado num cenário global?
Este ano o jazz português esteve representado no Jazzahead!, pela primeira vez na sua história, e deixou toda a gente surpreendida. Organizada pela Rede Portuguesa de Jazz, a presença portuguesa reuniu instituições importantes no sector, nomeadamente: Ao Sul do Mundo, Associação Sons da Lusofonia, Clean Feed, Jazz ao Centro Clube, Nischo, Orquestra Jazz de Matosinhos, Hot Clube Portugal, Porta-Jazz e Robalo. O stand Portugal Jazz estava bem estruturado, com a apresentação de cada instituição/parceiro e com booklets muito úteis para os participantes. Contudo, o melhor de tudo foram os momentos de provas de vinho, organizadas na perfeição por Inês Lobo e Catarina Fernandes. Esperemos que a comunidade internacional venha a apreciar o jazz português da mesma forma que aprecia os vinhos do Porto, verde e Douro. Acho que não cheguei a conhecer todos os participantes portugueses, e peço desculpa se esqueci alguém, mas foi ótimo ter encontrado Carlos Martins, Pedro Cravinho, Luís Cunha, Pedro Costa, Rui Teixeira, João Lopes Pereira, João Carreiro, Katerina L'dokova, Mariana Bessa, Manuel Linhares e Pedro Melo Alves.
Não assisti à atuação dos The Rite of Trio – grupo de André B. Silva, Filipe Louro e Pedro Melo Alves – na tenda de circo porque fui convidada por outra organização e assumi que iria ter oportunidade para os ver noutra altura. Acabei por me arrepender muito, porque após o concerto toda a gente estava a falar do quão vibrante e explosiva tinha sido a atuação – Gonçalo Frota escreveu no jornal Público: “numa atuação que deixou muita gente de olhos esbugalhados, a formação portuguesa abanou Bremen”. Espero que esta atuação permita que eles cheguem a audiências globais.
Pessoalmente, fiquei orgulhosa por ser considerada jornalista de jazz portuguesa e extremamente satisfeita ao ouvir muitos comentários positivos sobre muitos músicos nacionais. Por outro lado, encontrei alguns promotores a queixar-se da dificuldade de organizar concertos em Portugal. Mas não acho que Portugal seja uma exceção nesse contexto, a maioria das economias precisa de tempo para superar a pandemia. Mas, se tivemos a oportunidade de participar num grande evento, sem o uso obrigatório de máscaras, após estes dois anos de dificuldade, tudo será possível! O Portugal Jazz deu um passo de gigante com esta primeira participação no Jazzahead!. O próximo objetivo deverá ser conquistar o estatuto de país parceiro. Força, Portugal Jazz!