Yedo Gibson no Penha sco
Luzes baixas
A programação da editora Robalo no espaço cultural Penha sco, em Lisboa, tem-se revelado atenta e interessante. Esta quarta-feira apresentou Yedo Gibson, saxofonista brasileiro radicado em Portugal, numa atuação a solo.
O Penha sco é um espaço situado na Penha de França, em Lisboa, que tem acolhido diversas atividades culturais. Desde maio do ano passado, a editora Robalo começou a fazer programação de concertos no espaço, com foco no jazz e nas músicas improvisadas, apresentando regularmente (sempre às quartas-feiras, às 19h30), uma programação atenta, sobretudo focada nos talentos emergentes nacionais, mas não só. Esta programação tem tornado o Penha sco um ponto de visita obrigatório da capital para todos os interessados no jazz e nas músicas criativas.
A cave do Penha sco recebeu, na passada quarta-feira, dia 2 de março, uma atuação a solo de Yedo Gibson, saxofonista brasileiro radicado em Portugal. O músico tem estado particularmente ativo na cena improvisada, colaborando em diversas formações ad-hoc, embora não se cingindo a estas. Tem colaborado amiúde com o percussionista Vasco Trilla, com quem tem gravado de forma profícua, em duo e noutras formações. Um dos seus projetos mais interessantes é o Fish Wool, trio com Trilla e Susana Santos Silva, que depois de um interessantíssimo disco de estreia homónimo (JACC Records, 2019), editou no ano passado o registo "Live In Cerkno" (edição da label polaca Fundacja Słuchaj!)
Com luzes baixas, Gibson trabalhou uma impressionante atuação a solo, servindo-se, em diferentes momentos, de três saxofones: soprano, alto e tenor. Começou por dizer: «Não tem plano.» Assumiu logo que nem o próprio saberia o que poderia acontecer, mergulhando na improvisação sem rede. Arrancou no saxofone soprano e, desde logo, exibiu a sua notável capacidade técnica, em especial na exploração de abordagens criativas no instrumento. Em alguns momentos, se nos abstraíssemos, poderíamos pensar que se tratavam de sons eletrónicos, e por vezes o som do saxofone imitava sons de animais. Pelo meio interpretou uma composição de Pixinguinha, de forma desconstruída, mas mantendo o eixo central e a emoção.
Para o final apresentou um inesperado dueto, com a sua filha Jasmin. O saxofone de brinquedo de Jasmim lançava sons e Gibson ia reagindo e construindo diálogos, estruturando ideias. Além de absolutamente ternurento, este momento revelou-se musicalmente rico, pela capacidade de reação e invenção. Gibson mostrou-se um músico surpreendente, capaz de cruzar referências com uma criatividade sem limites. Ficaremos atentos aos seus próximos passos.