Fail Better!
Impulsivo, imprevisível, explosivo
O quinteto apresentou o seu álbum “Zero Sum” num concerto no Salão Brazil, em Coimbra. Ficou demonstrado que é no palco que a sua música vive melhor. Imaginem uma mistura de Ash Ra Tempel, Neu! e Sun Ra em modo de improvisação total…
O Salão Brazil foi, no passado dia 26, o espaço de reunião do quinteto Fail Better!, formado por João Guimarães, João Pais Filipe, José Miguel Pereira, Luís Vicente e Marcelo dos Reis. Vindos de Coimbra, Lisboa e Porto, encontram-se actualmente reunidos em torno da apresentação do seu primeiro lançamento, “Zero Sum”, pela JACC Records.
Com uma aposta assumida num “modus operandi” de improvisação livre e total, a bateria de Filipe foi determinante: os ritmos longos e de carácter ritualístico deram à construção sonora fundações bem profundas. Pereira tendeu desta forma a libertar-se: o contrabaixo assumiu um papel bem mais melódico do que rítmico, emergindo com linhas de grande simplicidade e melancolia e dando o mote de cada fase.
Munido de uma guitarra eléctrica em vez da habitual acústica, mas inquietante como sempre, dos Reis juntou à sua abordagem habitual e característica, muito pontilhada, malhas cuja influência da vertente mais experimental do rock foi notória, contribuindo de forma certeira para a música do grupo e tornando-a mais solta e selvagem. Movendo-se pela superfície desta base sólida, os sopros de João Guimarães e Luís Vicente pincelaram de beleza outonal os momentos de maior acalmia, e de um expressionismo cortante os momentos de intensificação.
A música que criam é, de forma assumida e intencional, refém das circunstâncias, e este binómio de intensidade torna-se fundamental em Fail Better!. Na ocasião, tornaram também impossível não pensar num encontro que nunca se deu entre o psicadelismo árido e selvagem do álbum homónimo de Ash Ra Tempel, o rock (para não dizer punk) sincopado e musculado de Neu! e um sempre cósmico e espiritual Sun Ra na sua encarnação mais melódica.
Além da sensação de que deram um dos seus melhores concertos, ficou mais uma vez a ideia de que é no palco que melhor se conseguem projectar. O tratamento mais polido que o disco contém pode acabar por funcionar como castrador. Algo a resolver pelo grupo: salvaguardar o elemento que na música que criam mais a torna sua, impulsiva, imprevisível e explosiva.