Tetuzi Akiyama + Rafael Toral
Som Godzilla
O “cowboy” samurai esteve de novo em Portugal, mas desta vez com uma guitarra eléctrica, e o R2D2 português mostrou de que “swing” são os robôs capazes. Foi na ZDB.
A última vez que ouvimos Tetuzi Akiyama foi num concerto com a primeira parte também a cargo de Rafael Toral, que dessa vez se apresentou em trio. Esse concerto, acompanhado por Afonso Simões na bateria e Ricardo Dillon Wanke no Fender Rhodes, ficou imortalizado na gravação “Space Collective Live in Outfest” (Medusa, 2011).
Rafael “R2D2” Toral apresentou os instrumentos electrónicos construídos por si mesmo no passado dia 26 de Fevereiro, numa rara actuação a solo na cidade onde reside a maioria dos seus parceiros musicais. Sem banda, o som por vezes queixou-se do desconforto da sua própria nudez, mas foi também possível abanar a cabeça com o quase-“swing” que por vezes se sentiu na ZDB. Tivesse Sun Ra sido cientista e o resultado seria um mundo povoado por robôs que falassem a língua de Toral.
Este tocou três temas, cada um com um instrumento diferente. Sob os monólogos dos engenhos musicais ouvia-se uma gravação de grilos, a lembrar que no universo deste músico ainda há vida para além das máquinas dotadas de sensibilidade artificial.
O segundo concerto da noite esteve a cargo de Tetuzi Akiyama. Sendo o Japão uma potência jazzística mundial, a sua tradição mais transgressora tem muitas vezes redefinindo e questionado as fronteiras deste género. Sendo porventura questionável a sua ligação ao jazz, Akiyama insere-se assim no limbo entre o japanoise e o free de ilustres violadores sonoros que vai de Kaoru Abe a Otomo Yoshihide, entre muitos outros.
Apresentou-se em Lisboa longe da abordagem à guitarra acústica que encheu o Teatro Municipal do Barreiro de “feedbacks” no concerto da edição de 2010 do Out.Fest. Desta vez veio munido de uma eléctrica, com inúmeros pedais e um Korg Stage Echo. O som Godzilla que resultou dessa combinação pode ter afugentado os menos resistentes, mas foi uma violenta dádiva para os demais. Como se de um “rodeo” se tratasse, o “cowboy” samurai Tetuzi foi domando a besta sonora e levando-a para o caminho que quis, com paciência e devoção.
Na rua, do lado de fora do “aquário”, um transeunte descamisado imitava livremente na sua “air guitar” os acordes de Tetuzi Akiyama.