Nuno Rebelo + Rodrigo Pinheiro / Thomas Lehn
Com método
Nos dois concertos do Rescaldo mais conotados com o jazz e a música improvisada foram os processos que estiveram mais em evidência. As expectativas eram altas e os resultados superaram-nas.
Chegado à sua sétima edição, o Festival Rescaldo conseguiu consolidar-se e ganhou já uma dimensão institucional. A Culturgest é a sala que acolhe a maior parte dos concertos, que vão alternando entre múltiplos registos, desde a música exploratória ao rock, passando pela electrónica e pela música improvisada. Esta mistura de géneros é mesmo, nas palavras do programador, Travassos, uma das linhas orientadoras do festival. A jazz.pt marcou presença nos momentos com mais ligação ao jazz e à improvisação.
O festival arrancou na Galeria ZDB, no dia 20 de Fevereiro, com as actuações de The Jack Shits e 10.000 Russos. Na noite de 21 de Fevereiro o pequeno auditório da Culturgest acolheu um “double bill” com o solo de Nuno Rebelo e a dupla formada por Rodrigo Pinheiro e Thomas Lehn.
Na primeira parte actuou Nuno Rebelo, acompanhado de guitarra eléctrica, pedais e objectos. Se na semana anterior Rebelo tinha actuado no grande auditório do Centro Cultural de Belém, com os seus Mler Ife Dada, num aplaudido regresso, desta vez teve pela frente uma sala mais pequena e despida de público. Apesar da utilização de técnicas não convencionais, Rebelo foi explorando a guitarra de forma metódica. Numa primeira fase, serviu-se de técnicas extensivas – por exemplo com objectos aplicados à guitarra, emitindo sons processados pelos vários pedais de efeitos. Em outras ocasiões, recorreu ao dedilhar (obsessivo) das cordas.
Não se ouviu qualquer fraseado ou melodia linear. Ao longo de cinco peças, relativamente curtas, o guitarrista gerou sons inóspitos, abrasivos. Da guitarra de Nuno Rebelo continuam a surgir coisas que fascinam.
Segundo acto
O segundo acto foi da responsabilidade do duo constituído por Rodrigo Pinheiro e Thomas Lehn. O pianista português, membro do Red Trio, teve aqui um encontro inédito com o alemão Lehn (sintetizador analógico). O encontro não se antecipava fácil: piano clássico e sintetizador, instrumentos de amplitudes sonoras diversas, com poucos pontos de contacto. Os dois músicos trataram de fazer pontes, de aproximar os respectivos universos sonoros.
Pinheiro raras vezes se serviu do piano simples. Utilizou, sobretudo, o piano preparado, colocando objectos sobre ou entre as cordas, assim “sujando” o som natural do instrumento. A abordagem de Lehn no sintetizador emulava o ataque às teclas do piano, com uma energia e uma agressividade que transpareciam para lá da música. Não sendo possível trabalhar a ligação entre ambos a nível melódico e harmónico, foi trabalhada a interligação ao nível das texturas e do ritmo. O resultado superou as expectativas.
O festival continuou no dia 22 com as actuações de duas duplas, Tiago Sousa & Maria Leite e Eduardo Raon & Tomaž Grom, também na Culturgest. No próximo fim-de-semana outros concertos acontecerão.