David Maranha & Will Guthrie, 15 de Setembro de 2013

David Maranha & Will Guthrie

Sempre no vermelho

texto Nuno Catarino fotografia Nuno Martins

Foi o mais surpreendente concerto da série Isto é Jazz?, mas a sala esteve meio vazia. Fez mal quem não foi à Culturgest, porque a música esteve sempre no limite, colocando-nos em estado de transe.

É verdade que o ciclo Isto é Jazz?, programado por Pedro Costa (Clean Feed / Trem Azul), nunca apresenta propostas óbvias. Indo de encontro à interrogação que dá título ao ciclo, vão passando pela Culturgest músicos e projectos que trabalham nas fronteiras do jazz e da música improvisada, desafiando convenções e estereótipos. Contudo, o duo de David Maranha e Will Guthrie terá sido uma das propostas mais inesperadas.

O músico português, que vem trabalhando um som de órgão saturado, teve na edição de “Marches of the New World” o seu pico de maior visibilidade e colabora regularmente com o guitarrista Manuel Mota, uma ligação que se prolonga nos grupos Dru e Curia. Com Mota partilha, além da improvisação, a procura de um universo sonoro particular. Tal como Mota também, Maranha já conseguiu definir esse universo individual.

Will Guthrie não será um nome imediato para o público português, mas este baterista australiano residente em França participa num disco recentemente editado pela Clean Feed, integrando o trio The Ames Room com Jean-Luc Guionnet e Clayton Thomas.

David Maranha

Will Guthrie 

O Pequeno Auditório da Culturgest não encheu, registando-se cerca de meia casa. Fez mal quem não foi, pois naquele palco aconteceu uma das mais surpreendentes actuações que o ciclo já promoveu. Maranha despejou o seu órgão sujo, manipulado o teclado com uma alta intensidade e acrescentando-lhe efeitos, aumentando assim o grau de impureza, já de si elevado. Do outro lado, Guthrie respondia com uma percussão vertiginosa.

A dupla manteve os níveis de intensidade altíssimos, mantendo o tempo acelerado. Entre Maranha e Guthrie sentiu-se um envolvimento orgânico e, apesar da toada muito estável, evitando desvios, foi visível essa ligação. Se o som de Maranha pode habitualmente ser associado a uma dimensão hipnótica, a adição da bateria levou a música para um estado de transe. Sempre no limite, sempre no vermelho, esta foi uma verdadeira viagem. 

Agenda

10 Junho

Imersão / Improvisação

Parque Central da Maia - Maia

10 Junho

O Vazio e o Octaedro

Parque Central da Maia - Maia

10 Junho

Marta Hugon & Luís Figueiredo / Joana Amendoeira “Fado & Jazz”

Fama d'Alfama - Lisboa

10 Junho

Maria do Mar, Hernâni Faustino e João Morales “Três Vontades de Viver”

Feira do Livro de Lisboa - Lisboa

10 Junho

George Esteves e Kirill Bubyakin

Cascais Jazz Club - Cascais

10 Junho

Nuno Campos 4tet

Parque Central da Maia - Maia

10 Junho

Tim Kliphuis Quartet

Salão Brazil - Coimbra

10 Junho

Big Band do Município da Nazaré e Cristina Maria “Há Fado no Jazz”

Cine-teatro da Nazaré - Nazaré

10 Junho

Jorge Helder Quarteto

Fábrica Braço de Prata - Lisboa

11 Junho

Débora King “Forget about Mars” / Mayan

Jardins da Quinta Real de Caxias - Oeiras

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