Palmela Wine Jazz
Palmela acolhe diferentes formas de jazz
O jazz vai regressar a Palmela entre os dias 18 e 20 de agosto. O Palmela Wine Jazz promete concertos de Sul, Mad Nomad, João Espadinha, João Lencastre’s Unlimited Dreams, Samuel Lercher Trio e LUME – Lisbon Underground Music Ensemble. Aqui fica a antevisão das músicas que se poderão escutar no Parque Venâncio Ribeiro da Costa.
A edição 2022 do Palmela Wine Jazz, que estava prevista para acontecer nos dias 16 e 17 de julho, acabou por não acontecer nessas datas, na sequência de um grande incêndio que ameaçou a vila no verão passado; o festival foi então adiado para o mês de agosto. Agora, para a sua 9.ª edição, o Palmela Wine Jazz realiza-se entre os dias 18 e 20 de agosto, no Parque Venâncio Ribeiro da Costa – junto ao castelo. O Palmela Wine Jazz é organizado pela Câmara Municipal de Palmela e Rota de Vinhos da Península de Setúbal e aposta numa programação ancorada exclusivamente em projetos de jazz nacionais, explorando diferentes estilos. Para esta edição 2023 estão agendados concertos de Sul, Mad Nomad, João Espadinha, João Lencastre’s Unlimited Dreams, Samuel Lercher Trio e LUME - Lisbon Underground Music Ensemble. Além da música, haverá também uma feira de vinhos.
Quanto ao programa musical, o festival arranca no dia 18, sexta-feira, com o concerto do trio Sul (21h30). O grupo Sul reúne três músicos consagrados, dois deles ligados ao jazz – o contrabaixista Bernardo Moreira e o pianista Luís Figueiredo – e um outro ligado ao fado, Bernardo Couto (guitarra portuguesa). O trio desenvolve uma música instrumental original, entre o jazz, o fado e a música portuguesa – na senda de outros cruzamentos, desde os encontros pioneiros e lendários de Amália Rodrigues com Don Byas e Charlie Haden com Carlos Paredes. O trio editou o seu disco de estreia – homónimo – em novembro do ano transato, tendo reunido composições de três pianistas nacionais (Bernardo Sassetti, Mário Laginha e João Paulo Esteves da Silva), além de temas originais e outros tradicionais. Elemento pivot deste grupo é o contrabaixo de Bernardo Moreira, músico que em paralelo tem também trabalhado outras ligações entre o jazz e a música portuguesa nos projetos “Entre Paredes” e “Cantigas de Maio”.
No sábado o festival promove três concertos: Mad Nomad (16h00), João Espadinha (19h00) e João Lencastre’s Unlimited Dreams (22h00). Liderado por Catarina dos Santos, o grupo Mad Nomad propõe um encontro entre jazz, sampling e spoken word, encaixando-se entre a neo soul e o nu jazz. A acompanhar Catarina dos Santos (voz, composição, efeitos), estão aqui Óscar Graça (sintetizadores), Luís Candeias (bateria) e André Pinheiro (AKA Apache, no laptop e sampling). Em 2020 lançaram o álbum "Untamed".
Segue-se a atuação de João Espadinha, a apresentar o material do seu recente disco “Em terra alheia sei onde ficar”. O guitarrista e compositor tem neste trabalho um disco de confirmação, depois de se ter estreado com o disco “Kill the Boy” (2017). Se o primeiro álbum era um típico disco de jazz instrumental, este novo trabalho surgiu como um surpreendente disco de canções. Espadinha contou à jazz.pt: «A evolução foi acontecendo num contínuo. Neste período da minha vida este acabou por ser um lado que gostei de explorar, não apenas através tipo de música que escrevi, mas também e especialmente através da música que ouvi e pela forma como voltei a ouvir muitas das canções que já conhecia» (…) «Procurei por um lado explorar por esse lado da canção, que é comum ao jazz e à música com a qual cresci, e por outro que a improvisação e os músicos que nele participam trouxessem um fator de imprevisibilidade que contrastasse com o lado escrito da música». Ao vivo, Espadinha estará acompanhado por Primeira Dama e Marta Garrett (vozes), Luís Cunha (trompete), Bernardo Tinoco (saxofone), João Pedro Coelho (piano), Francisco Brito (contrabaixo) e João Sousa (bateria).
A noite de sábado fecha com a atuação do projeto Unlimited Dreams do baterista e compositor João Lencastre (na foto). O disco de estreia deste projeto foi distinguido nos Prémios Play 2022 na categoria de “melhor álbum jazz” e, na crítica ao disco, António Branco destaca que este «é um álbum que com sucessivas e atentas audições se deixa descortinar nos seus mais íntimos e fascinantes detalhes». O grupo apresentou-se ao vivo no Jazz em Agosto 2022, num concerto assim descrito por Gonçalo Falcão: «Um jazz aberto, paisagista, ritmado, onde o saxofone de Toscano e a guitarra de Pedro Branco se destacaram nos solos mas que funciona principalmente pela solidez da escrita que nos faz percorrer diferentes caminhos melódicos ao longo de cada música, resultando num concerto muito bom.» A acompanhar Lencastre (bateria e composição), encontramos Albert Cirera (saxofones tenor e soprano), Ricardo Toscano (saxofone alto), Benny Lackner (piano, eletrónica), André Fernandes (guitarra elétrica), Pedro Branco (guitarra elétrica), Nelson Cascais (contrabaixo), João Hasselberg (baixo elétrico, eletrónica).
Para o último dia do festival ficam reservadas mais duas atuações: Samuel Lercher Trio (18h00) e LUME (21h30). Samuel Lercher é um pianista e compositor que nasceu em França e vive em Portugal há vários anos. Em 2015 apresentou o seu disco de estreia, “Épiloque” (Sintoma Records), e Lercher integra os quartetos Fauksa (com Hamza Touré, Freddy Blondeau e Rui Pereira) e Not There Yet – este último com Daniel Neto, Gonçalo Leonardo e Pereira, em 2022 o seu registo de estreia, “Which Way?”. No ano passado editou um novo trabalho em nome próprio, “Ballade”, ao leme de um trio com André Rosinha (contrabaixo) e Bruno Pedroso (bateria). Além de trabalhar temas originais, o trio explora clássicos da canção francesa: “La Javanaise” de Serge Gainsbourg, “La Bohème” de Charles Aznavour e “Il n'y a pas d'amour heureux” popularizada por Georges Brassens; e o disco conta ainda com uma revisão de “We See” de Thelonious Monk. Será este material que será apresentado ao vivo em Palmela.
E o festival encerra na noite de domingo com a formação mais alargada do programa, o grupo LUME (acrónimo para Lisbon Underground Music Ensemble). O projeto liderado por Marco Barroso é um dos mais criativos projetos nacionais, uma formação de dimensão alargada que trabalha arranjos com inventividade e pujança. O mais recente registo – “Las Californias” (Clean Feed, 2021) – é representativo da atual sonoridade do grupo, pelo que aproveitamos para recordar as palavras de Gonçalo Falcão na sua crítica ao disco: «A orquestra de 15 elementos soa apertada, como se estivesse a tocar numa sala para quatro, muito coesa e sincronizada num clima de festa desorientada. A música é rápida e intensa, sempre a mudar, pedindo a máxima atenção. Passamos por quantidade enorme de estados de espírito, de referências numa viagem de montanha-russa. O espaço para a improvisação aparece frequentemente mas também ele estreito por pouco espaço e tempo, como um telefonema numa ambulância a caminho das urgências. O terceiro disco dos Lisbon Underground leva ainda mais longe as ideias e processos apresentados nos dois primeiros e convence-nos em definitivo que há uma música Marco Barroso / LUME que é única e distinta e que vale a pena ser ouvida». Em Palmela não será diferente.
Todos os concertos do Palmela Wine Jazz têm entrada livre.