Amadora Jazz, 22 de Abril de 2023

Amadora Jazz

Quando as bolas vermelhas sabem às de Berlim: Amadora Jazz

texto: Gonçalo Falcão

Com mais de 1000 anos de história, a Amadora é uma das cidades da Área Metropolitana de Lisboa que está em mudança e rejuvenescimento. Densamente povoada – mais de 170 000 pessoas (mais que Coimbra, Matosinhos, Oeiras) – a cidade quer afirmar-se nas suas mais diferentes vertentes e a cultura faz parte da vida das cidades saudáveis. Com a BD como grande referência, o jazz assume uma importância gradual: 11 anos passaram e o festival da cidade segue sorrateiramente um crescimento sustentado, que assim enriquece a sua cidadania. Organizado pela Câmara Municipal da Amadora em parceria com o Jazz Ao Centro Clube (JACC), em maio há motivos para rodar a IC19, que é muito mais do que uma bola vermelha.

Este ano, os destaques são a aparição inaudita da cantora Maria João com o quarteto de Carlos Bica que vêm apresentar o novíssimo disco "Close to You". E para o solo de John Scofield no dia 12 de Maio às 21h00 (na sequência do seu último disco na ECM que a jazz.pt já ouviu, com crítica de Gonçalo Falcão): vamos ao menu completo: 

 

Quinta-feira. 11 de maio, 21h00
Ricardo Toscano Trio | Recreios da Amadora 

A abertura far-se-á na quinta-feira, com o trio de Ricardo Toscano (Romeu Tristão no contrabaixo e João Lopes Pereira na bateria). Este formato que o saxofonista resolveu apresentar em disco recentemente ("Chasing Contraditions", Clean Feed, que a jazz.pt já ouviu com crítica ce Nuno Catarino) com melodias bonitas, explora o espaço deixado vazio pela ausência do piano. Estamos ainda nas derivações do bop, num jazz fácil mas que não facilita. Três músicos excelentes num momento alto das suas capacidades. Músicos-músicos, rápidos, coesos e faiscantes.

Ricardo Toscano / foto: Vera Marmelo

 

Sexta-feira, 12 de maio, 21h00
John Scofield | Recreios da Amadora

Para fechar uma semana de trabalho, nada melhor que um bom concerto no fim do dia. E este será. Se a afirmação pode soar precoce (“prognósticos só no final do jogo”) a verdade é que tudo aquilo que sabemos sobre o guitarrista e sobre o que vem apresentar, faz com que a fórmula seja como a dos pastéis de Belém. Aquilo não falha. 

A primeira vez que “Sco” veio a Portugal foi nos anos 90, promover “Still Warm”. Vinha medalhado por ter entrado no grupo de Miles Davis (onde já tinham estado John McLaughlin, Larry Coryell, Mike Stern...). Foi preciso esperar 45 anos para ouvir o seu primeiro “Solo”: o seu disco mais recente, mostra um guitarrista de exceção que tem um controle total da expressividade e do fraseado. Toca com um nível de detalhe raríssimo. Foi dos primeiros no jazz que não teve medo de usar overdrives e de assumir um som mais elétrico. Hoje está muito mais acústico, mantendo uma pedaleira bem recheada, que usa para pormenorizar (e alguma poesia como na versão de “Not Fade Away” de Buddy Holly).

Será uma noite de canções tocadas na guitarra, por um mestre que o faz profissionalmente há 50 anos. Partilharemos um concerto intimista que faz um sumário das suas influências e gostos.

John Scofield

 

Sexta-feira, 12 de maio, 23h00
Luke Stewart Silt Trio | Recreios da Amadora - Salão Nobre

Depois do concerto da noite, uma noitada com um trio com as pilhas completamente carregadas. Começa às 23h e com entrada livre (limitada à lotação da sala). Dizer que Luke Stewart é um contrabaixista é talvez simplificar, pois ele é também saxofonista, produtor e agitador: um dos grandes dinamizadores da cena jazzística de Washington D.C.

Não toca música para colarinhos brancos nem para influencers. O seu jazz é cru, forte, impulsionado por grandes linhas de baixo. Foi com os Irreversible Entanglements que ficou mais conhecido e no ano passado apresentou-nos o Silt Trio, um projeto muito recente com Brian Settles no saxofone e Chad Taylor na bateria. No “Silt Trio” aproximamo-nos do som de um trio mais tradicional. A música de “The Bottom” (título do disco de estreia) é feita de temas cheios de forma, com melodias simples e muita improvisação, com uma energia muito própria, interventiva e com vontade de fazer andar o comboio do jazz. 

 Luke Stuart "Silt" trio

 

Sábado, 13 de maio, 18h00
Eugénia Contente Trio | Teatro Passagem de Nível - Auditório de Alfornelos 

Sábado será um dia feminino e prova-se que mulheres estão a dar cartas na guitarra elétrica. Eugénia Contente alinha pela bitola de Hedvig Mollestad.

Arquitetos músicos temos alguns: Aires Mateus deixou de ser um baterista vulgar dos Radar Khadafi para exercer uma arquitetura notável. Nuno Rebelo não autocada, mas é um músico extraordinário. Não sabemos como se notabilizará Eugénia Contente, que veio para Lisboa para se formar como arquiteta, mas para já lidera o seu trio (com Gabriel Silva no baixo elétrico e Luís Delgado na bateria) que debita um jazz elétrico de alta tensão. Cativante, fácil de ouvir, rápida, segura, a música de Contente é como o próprio nome indica; há muito rock na palheta de Eugénia e no seu trio elétrico. 

Não sendo possível ainda antecipar o futuro da música/arquiteta (que certamente não poderá passar por onde agora está), tentamos riscar perspetivas: acreditamos que se a guitarrista abrir os seus horizontes musicais e se referenciar em músicos que abrem caminhos, poderá vir a ter a projeção internacional de Mollestad ou Halvorson. A técnica e fluidez são impressionantes. Um concerto onde garantidamente não haverá ramerrame, mas algum kerrang pode assomar. 

Eugénia Contente Trio

 

Sábado, 13 de maio, 21h00
Maria João & Carlos Bica Quarteto | Recreios da Amadora 

Se me perguntassem com que músico é que eu juntaria a cantora Maria João para um concerto, Carlos Bica não seria certamente uma das primeiras, nem das segundas - nem provavelmente das terceiras escolhas. Não que não se conheçam e que não tenham tocado juntos no passado. Mas as suas viagens musicais foram em direções muito distintas. E é por isso que esta surpresa é tão atraente e curiosa. Passados mais de 35 anos sobre os primeiros encontros, Maria João e Carlos Bica voltam a partilhar um projeto musical, desta feita com a cumplicidade de Gonçalo Neto na guitarra e de João Farinha no piano e teclados. Começaram no início, como as histórias bem contadas: primeiro em 1986 com Carlos Bica a integrar o quinteto da cantora, depois com Maria João a cantar com os “Cal Viva” e depois ainda nos estreia do trio “Azul”.

Há muito tempo não ouvimos Maria João a improvisar de forma interessante – e se ela o sabe fazer! Basta ouvi-la como Bobby McFerrin e percebemos o quão especial pode ser quando larga a música obsequiadora. Não sabemos se Bica a conseguirá levar a nadar para fora de pé, mas certamente vai valer a pena ir ouvir este reencontro que virá também fixado em disco pela JACC Records. 

Carlos Bica e Maria João

 

Domingo, 14 de maio, 17h00
GeraJazz | Cineteatro D. João V 

O GeraJazz é, como o nome indica, um projeto da Orquestra Geração, dedicado ao Jazz (as pistas estão no nome). Inspira-se no sistema nacional das Orquestras e Coros Juvenis e Infantis da Venezuela. Este projeto português tem a direção (artística e condução) de Eduardo Lála.

O GeraJazz tem vindo a desenvolver um intenso trabalho de formação de jovens com vista à constituição de uma orquestra. Passando pela tradição popular afro-americana e pelo jazz modal de Herbie Hancock, bem como pelo swing e o funk soul de Jaco Pastorius e Nina Simone, ou pela bateria enraizada na tradição de Art Blakey, entre outras influências, o GeraJazz trabalha clássicos para dar aos jovens uma música e um futuro. Tem colaborado com vários músicos ao longo dos seus 12 anos de existência (ex: Mário Laginha, Salvador Sobral, Ricardo Toscano, Mário Delgado) e tocado em vários festivais. Mais um concerto para todos, em que nem o ingresso será seletivo, pois a entrada é gratuita (limitada à lotação da sala). 

GeraJazz

 

Os bilhetes para o Amadora Jazz estão à venda na Ticketline e no local, duas horas antes do início dos concertos, com preços entre os 5 e os 20 euros.

Agenda

10 Junho

Imersão / Improvisação

Parque Central da Maia - Maia

10 Junho

O Vazio e o Octaedro

Parque Central da Maia - Maia

10 Junho

Marta Hugon & Luís Figueiredo / Joana Amendoeira “Fado & Jazz”

Fama d'Alfama - Lisboa

10 Junho

Maria do Mar, Hernâni Faustino e João Morales “Três Vontades de Viver”

Feira do Livro de Lisboa - Lisboa

10 Junho

George Esteves e Kirill Bubyakin

Cascais Jazz Club - Cascais

10 Junho

Nuno Campos 4tet

Parque Central da Maia - Maia

10 Junho

Tim Kliphuis Quartet

Salão Brazil - Coimbra

10 Junho

Big Band do Município da Nazaré e Cristina Maria “Há Fado no Jazz”

Cine-teatro da Nazaré - Nazaré

10 Junho

Jorge Helder Quarteto

Fábrica Braço de Prata - Lisboa

11 Junho

Débora King “Forget about Mars” / Mayan

Jardins da Quinta Real de Caxias - Oeiras

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