13.º Festival Porta-Jazz
Take me back to Rivoli: a 13.ª edição do Festival Porta-Jazz está à porta
Como deve acontecer às coisas boas, o festival portuense Porta-Jazz regressa de 3 a 5 de fevereiro com dias intensos com vários concertos no Rivoli. Corporaliza a dinâmica da comunidade jazzística do Porto e o empenho e disponibilidade humana e artística de um coletivo heterogéneo que tem vindo a crescer consistentemente.
Como nas edições anteriores, o festival usará os vários palcos e bastidores do teatro para uma espécie de showcase do trabalho feito pela associação. Um prestar de contas à cidade pelo apoio que lhe dá e um motivador para tocar, experimentar, participar.
O Festival organiza-se em três dias, com três blocos de dois concertos por dia (com exceção do primeiro dia onde só haverá dois blocos de dois concertos). Depois dos concertos, showcases das escolas Art’J – JOBRA, ESMAE (dia 4) e Conservatório de Músicas do Porto (dia 5), seguidas de jam sessions com os músicos. Os concertos são às 16h, 18h15 e 21h30 em diferentes palcos e sub-palcos do Rivoli. A festa é rija.
Com uma nova sede para ser apresentada publicamente, o festival pré-inaugura no dia 2 de Fevereiro à noite numa sessão de abertura do novo espaço. Um momento celebratório que une o Ensemble Porta Jazz/ com o Robalo ou seja o encontro com a congénere lisboeta, a Associação Robalo. Nazaré da Silva (voz), Bernardo Tinoco (saxofone), Gil Silva (saxofone), Duarte Ventura (vibrafone), Pedro Molina (contrabaixo) e Eduardo Dias (bateria) apresentarão música original. Abrirá também uma exposição com instalações sonoras de Nuno Trocado, Sofia Sá e Susana Santos Silva.
Feitas as solenidades abris começa o festival no dia 3, às 18h15 no pequeno auditório do Rivoli, com o “Hindrances”, o quarto disco do trio de Pedro Neves (Miguel Ângelo, contrabaixo e José Marrucho, bateria); seguir-se-á o trio Suíço Wabjie (voz e electrónica, piano e teclados, bateria.
O segundo bloco de concertos do dia ocorrerá no Grande Auditório do Rivoli com o contrabaixista Gianni Narduzzi a apresentar ao vivo "Dharma Bums" (lançado em 2022); seguido do quarteto de Carlos Azevedo Quarteto que vem apresentar o disco "Serpente", com Miguel Moreira (guitarra), Miguel Ângelo (contrabaixo) e Mário Costa (bateria). Vamos ouvir Azevedo num formato reduzido, em vez das grandes formações orquestrais a que se dedicou no passado.
À noite, perto da meia-noite, no café Rivoli tocarão os showcases e as jam sessions
O dia 4, sábado, é mais intenso com 3 blocos de dois concertos. O primeiro começa às 16h, no Palco GA; mostra o Coletivo Osso com o Porta Jazz para apresentarem “Interferências”, que resulta de uma residência de criação, que cruzou a criatividade de seis músicos: João Grilo - piano, eletrónica e voz, Joana Castro - movimento e voz, Nuno Morão - bateria e voz, Ricardo Jacinto - violoncelo, eletrónica e voz e Susana Santos Silva - trompete, eletrónica e voz.
Logo de seguida, no sub palco o “Umbral”. O guitarrista e compositor Nuno Trocado e o dramaturgo Jorge Louraço Figueira criaram uma peça musical que não teve o destaque que perecia. Um trabalho multidisciplinar com cinco músicos (João Pedro Brandão – flauta, saxofone alto; Nuno Trocado – guitarra elétrica, composição; Sérgio Tavares – contrabaixo;Acácio Salero – bateria; Pedro Pires Cabral – theremin, samples, gravações de campo) e uma atriz (Catarina Lacerda – voz). A peça musicada ouve-se com imenso prazer e prende-nos na sua unidade e sequência (apesar de não ter uma narrativa linear).
Com um pequeno intervalo, às 18h, subimos para o pequeno auditório onde o trio lituano/norueguês do prolífico Lidas Mockunas, Arnas Mikalkenas e Häkon Berre abre o palco. Música sempre interessante do lituano, jazz de câmara atualizado devedor à música contemporânea. Mockunas tem uma carreira internacional crescente e notável e uma produção musical intensa e interessante com músicos como Barry Guy, Augusti Fernandez, Mats Gustafsson, Marc Ducret, Nate Wooley ou Otomo Yoshihide.
Outro trio, desta feita nacional, de Eurico Costa, fecham o bloco da tarde com a apresentação de “Copal”, com Demian Cabaud no contrabaixo e Marcos Cavaleiro na bateria.
Jantados será tempo de regressar à plateia do Grande Auditório do Rivoli para ouvir a peça encomendada a Miguel Meirinhos, um dos destaques desta 13ª edição do festival. O pianista da nova geração portuense, convida o saxofonista inglês Joshua Schofield, o espanhol Ricardo Formoso para tocar trompete, e os portugueses João Fragoso (contrabaixo), e João Cardita (bateria), para um concerto onde se ante ouve muita energia e espontaneidade.
Para fechar, o duo “Alfons Slik” que é o pianista polaco Grzegorz Tarwid e o baterista Szymon Pimpon Gasiorek. Aos instrumentos os aventureiros polacos juntam vocalizações e sons traficados, músicas das mais variadas proveniências, numa grande sopa entusiasmante de ouvir.
Chegamos a domingo, último dia do festival à mesma hora do dia anterior para o último dia no palco GA e no sub-palco para assinalar o regresso de Bode Wilson, oito anos depois da estreia com “26” e cinco após o segundo álbum, “Lascas”; o trio constituído pelo saxofonista e flautista João Pedro Brandão, o contrabaixista Demian Cabaud e o baterista Marcos Cavaleiro apresentará o seu terceiro disco “Aether”.
Segue-se Inês Malheiro com “Liquify, Spread and Float“ que resultou de uma residência artística no âmbito da oitava edição do Projeto Guimarães Jazz / Porta-Jazz. Curiosos para ouvir o desenvolvimento desta sono-performance.
No bloco de dois concertos das 18h15 ouviremos “Into The Big Wide Open”, do austríaco Alfred Vogel, que virá em quarteto com três músicos da cena musical de Berlim, numa formação que acrescenta à sua bateria, sopros, piano e live sampling e contrabaixo.
A tarde resolve-se com “293 Diagonal”, ou seja, a dupla de Joana Raquel e Daniel Sousa, os “Membrana”. A colaboração entre o par nasceu numa porta com este número de polícia qua acabou por batizar este projeto. É um projeto que alarga o espectro musical do Porta-Jazz para territórios menos abordados pela associação, o que é de saudar (aliás como o de Inês Malheiro), entre a canção, a improvisação e a eletrónica.
E para fechar o festival o Porta Jazz convidou o admirável guitarrista e compositor AP apresenta-se “Nu” em quarteto. AP é um dos músicos mais originais que apareceu na guitarra elétrica com uma forma de tocar rápida, intensa, integradora e com um som muito original. Que não tem medo de usar pedias e usa-os com mestria. Virá com José Diogo Martins (piano e teclados), Gonçalo Sarmento (baixo elétrico e contrabaixo) e Gonçalo Ribeiro (bateria). A novidade e imprevisibilidade estarão certamente em palco.
O encerramento caberá ao “Do Acaso”, que cruza música e literatura. Em palco, 12 músicos liderados pela contrabaixista Sara Santos Ribeiro usa uma ideia de Stockhausem para atirar os músicos para um exercício difícil, materializando musicalmente "os sonhos da humanidade que dorme". Será a apresentação de “Catarse Civil”, o disco editado em julho de 2022.