MIA – Encontro de Música Improvisada de Atouguia da Baleia
O regresso (mais do que) possível
O “congresso dos improvisadores” do concelho de Peniche voltará em Junho próximo a acontecer, depois de a sua edição de 2020 ter sido cancelada devido à pandemia. E necessariamente que adaptado às circunstâncias, com menos participantes. É o regresso possível, mais ainda assim muito prometendo.
Com a edição presencial de 2020 cancelada devido ao encerramento dos espaços públicos obrigado pela contenção da Covid-19 e de uns poucos concertos apenas com transmissão “online”, eis que o MIA regressa este ano com aquela que será a sua 12ª edição. Adaptado às circunstâncias impostas pela pandemia, mas ainda com a maior parte das características que vêm definindo aquele que é considerado o “congresso dos improvisadores” – ainda que faltem os costumeiros concertos em sorteio e as lendárias “jams” até ao nascer do sol. Em vez dos habituais 70 ou 80 participantes entre convidados e músicos de vários países que respondiam à “open call” ano após ano repetida, teremos em 2021 apenas 34, com lotações máximas de público fixadas nas 50 pessoas. Representações de França, Itália e Dinamarca são esperadas, fruto da integração da Zpoluras, produtora do festival, na S.H.A.R.E., uma associação internacional entretanto criada de promoção da música improvisada. O evento decorre a 18, 19 e 20 de Junho a Oeste, na vila de Atouguia da Baleia (concelho de Peniche).
O arranque ofical do MIA - Encontro de Música Improvisada terá lugar, no entanto, antes de Junho, já a 29 de Maio, com um quinteto «da casa», «preparatório», formado por Paulo Chagas, Fernando Simões (os dois organizadores), Carlos Cañao, Luís Guerreiro e Paulo Duarte, que promete uma “Viagem Sonora” no auditório da Sociedade Filarmónica de Atouguia, base de operações desta iniciativa. A 18 de Junho serão duas as sessões: à tarde um “workshop” orientado por Nuno Rebelo naquele mesmo local e à noite um concerto de instrumentos graves na Igreja de S. José, com dois sopradores (João Pedro Viegas no clarinete baixo e François Mellan na tuba) e dois contrabaixistas (Alvaro Rosso e Miguel Falcão).
O sábado 19 inicia-se à tarde, na Filarmónica, com os 5T01 de Fernando Simões, ao trombonista atouguense juntando-se Maria Radich (voz), Maria do Mar (violino), Paulo Pimentel (piano) e Mário Rua (bateria). Segue-se uma formação do projecto S.H.A.R.E., com a cantora Elisabetta Lanfredini, o guitarrista Niels Mestre, o pianista Manuel Guimarães e o contrabaixista Jonathan Aardestrup. Mais adiante, será projectado o documentário de longa-metragem “Caos e Afinidade”, de Pedro Gonçalves, que inclui fragmentos de actuações em MIAs anteriores e depoimentos de figuras que no festival frequentemente se reúnem. Antes da pausa para jantar, uma ida à Fonte Gótica permitirá a audição do estreante Voltaic Trio, que terá disco quase a sair por essa altura, com Luís Guerreiro no trompete, Jorge Nuno na guitarra e João Valinho na bateria. À noite, de volta à Sociedade Filarmónica, vez para o trio de Rodrigo Amado (saxofone tenor), Hernâni Faustino (contrabaixo) e João Lencastre (bateria).
Os trabalhos de domingo, 20 de Junho, começam logo de manhã, com um concerto para crianças conduzido por Elisabetta Lanfredini e o violoncelista Uygur Vural. À tarde toca uma delegação do colectivo OSSO de Caldas da Rainha, com Ricardo Jacinto (violoncelo), Nuno Torres (saxofone alto) e Nuno Morão (bateria). Depois sobe ao palco a saxofonista Maria Dybbroe, num quarteto com Joana Guerra (violoncelo), Paulo Duarte (guitarra) e Vito Basile (baixo eléctrico). Antes do quarteto que fechará a tarde, com o trombonista Carlo Mascolo, Uygur Vural, Carla Santana (electrónica) e Carlos Cañao (gongo, taças tibetanas), haverá tempo ainda para uma contribuição do autor destas linhas em formato de palestra, sob o tema “A Utopia Segundo Derrida”. A despedida faz-se à noite com Paulo Chagas (flauta, saxofone alto), Nuno Rebelo (guitarra), Miguel Mira (violoncelo) e Felice Furioso (bateria) nos labores sonoros e Pedro Gonçalves nos visuais.
Refere a Zpoluras em comunicado a propósito: «A gestão da programação decorreu de um conceito muito simples, com a repescagem de artistas convidados para a edição de 2020, juntamente com artistas representativos de outras associações e grupos apadrinhados por músicos ligados à organização. Todos os grupos programados são de pequeno formato (um duo, três trios, cinco quartetos e um quinteto), admitindo-se ainda a hipótese de fazer um “ensemble” mais alargado se houver condições que o permitam.»
A normalidade possível nestes tempos terá com o MIA 2021 esta configuração, e tudo o que acontecer será gravado em vídeo e áudio, para posterior divulgação e memória deste tempo de resistência à adversidade.
P.S.: A S.H.A.R.E. está a preparar um banco de dados. Para o efeito, agradece o fornecimento de informações relativas às cenas da livre-improvisação de vários países por parte de músicos, técnicos, "designers", jornalistas, críticos, auditórios, associações, etc., neste "link": https://database.shareimpro.eu/en