Anna Lundqvist Lisboa Cinco: “Sou Anna” (Prophone)
Prophone
Anna Lundqvist, cantora e compositora sueca, vê Lisboa como uma “segunda casa” e resolveu formar um grupo com músicos portugueses. No quinteto Lisboa Cinco ouvimo-la ao lado de Desidério Lázaro (saxofone), Daniel Bernardes (piano), André Carvalho (contrabaixo) e Joel Silva (bateria). Este é o registo de estreia do novo grupo luso-sueco.
São cada vez mais os músicos estrangeiros que se têm mudado para Portugal, e particularmente para a cidade de Lisboa, mas nem todos se têm envolvido e trabalhado com músicos da comunidade local. Para Anna Lundqvist, Lisboa é uma “segunda casa” e a cantora e compositora sueca tratou de se integrar rapidamente com a comunidade musical, criando um grupo exclusivamente com músicos portugueses, o quinteto Lisboa Cinco: Desidério Lázaro (saxofone), Daniel Bernardes (piano), André Carvalho (contrabaixo) e Joel Silva (bateria) – cinco músicos lusos notáveis, todos com percursos sólidos e bons discos em nome próprio.
Em entrevista dada a Eray Aytimur, publicada aqui na jazz.pt, Lundqvist explicava a sua ligação a Portugal: «Visitei Lisboa em 2008 para ficar uns dias com um amigo que aqui trabalhava; e perdi-me de amores por Lisboa... Não consigo explicar, mas foi quase como uma experiência religiosa. Uma intuição que me dizia: “Anna, deves ficar em Lisboa. Está aqui alguma coisa à tua espera”. Pode parecer tolo ou romântico, mas este sentimento foi suficientemente forte para me fazer querer perceber o que era. Levei alguns anos para o tornar real, mas em 2015 disse a mim mesma: “Chegou a hora!” Comecei a viajar para Lisboa duas vezes por ano com a esperança de construir uma rede de contactos.» Lundqvist conheceu músicos em jam sessions e concertos: «Tinha conseguido construir algumas relações num novo país e assim, no final de 2019, senti-me pronta para iniciar um novo quinteto em Lisboa. Conheci alguns músicos incríveis que me impressionaram e inspiraram a escrever música nova.»
Ao leme da sua banda principal, Anna Lundqvist Quintet, já editou cinco álbuns, entre 2009 e 2017; e mantém um duo com o pianista Jonas André (“Reunion”, 2020). Neste novo grupo português, a sueca explora outras possibilidades musicais, numa espécie de “projeto alternativo”. O grupo acaba agora de editar o seu registo de estreia, “Sou Anna” (Prophone) – e o próprio título do disco revela o propósito de “apresentação”. E os três singles de antecipação ao álbum – “This Place”, “Fragile. Power.” e “When the rain is coming down” – já revelavam as matrizes da música deste grupo: canções bem desenhadas, de matriz pop sofisticada, com interpretação irrepreensível. A voz de Lundqvist é muito sólida e guia o grupo, com um tapete instrumental “made in Portugal” que revela muita competência.
Temos aqui doze canções, composições originais saídas da pena da sueca. Sobre o processo de composição, Lundqvist conta: «Eu só escrevo o que ouço na minha cabeça, foi sempre assim. Nunca componho para um certo tema, conceito, tradição ou intenção comercial. Deixo o meu coração e a minha vida decidirem o que vai ser criado a seguir. Só depois de escrever com estes músicos portugueses em mente, reparei que a música que fiz foi um pouco influenciada por eles e pelas suas origens musicais. Depois de ter tocado ao vivo com eles, comecei a aprender como construir canções que fizessem brilhar as qualidades musicais de cada um.»
O disco abre com “To Gösta”, homenagem ao pianista sueco Gösta Rundqvist (1945-2010), um tema anguloso onde Lundqvist canta sem palavras, mostrando-se sem rede, afirmando desde logo a sua capacidade vocal. Em “When the rain is coming down” o piano pingado de Bernardes evoca a chuva, num tema que arranca lento onde a voz se mostra mais melancólica. “Leaving gravity” abre com voz e piano, em toada clássica, até que a dupla rítmica entra para puxar o tema para outro nível. Embora a voz esteja sempre no centro, há oportunidade para todos os músicos brilharem.
Neste disco encontramos um jazz vocal de travo pop, num conjunto de músicas acessíveis conduzidas pela voz forte de Lundqvist, com ótimas intervenções instrumentais (particularmente os solos de saxofone de Desidério). Este disco não irá revolucionar a história da música, mas apresenta-nos uma música bem trabalhada por ótimos músicos.
-
Sou Anna (Prophone)
Anna Lundqvist Lisboa Cinco
Anna Lundqvist (voz, composição); Desidério Lázaro (saxofone tenor); Daniel Bernardes (piano); André Carvalho (contrabaixo); Joel Silva (bateria)