Gapp / Carreiro / Sousa: “Habitat” (Robalo)
Robalo
Com selo da editora Robalo, o álbum “Habitat” marca a estreia de um trio que reúne Samuel Gapp (no piano), João Carreiro (na guitarra) e João Sousa (na bateria). Um disco que deixa o ouvinte na expectativa.
Lançado a 19 de julho de 2023 pela editora portuguesa Robalo Music e apresentado, também com carisma de estreia, no Festival Robalo Antena 2 (que já conta com seis edições desde 2018 e uma programação diversificada), ouvimos a conjugação de diferentes nortes: Samuel Gapp ao piano, João Carreiro na guitarra e João Sousa ao cuidado da bateria. Em laços de união, e em flutuação em torno do ritmo de improvisação livre do jazz, gravaram, com vista para o vasto descampado de Serpa, na residência artística Musibéria, em outubro de 2021.
No prolongamento e extensão de um horizonte. A brisa. A vibração prolongada de um piano, extensiva. O pedal de uma guitarra que urge, ressonante. E a bateria que se aconchega, tímida e leve. O abraçar percutido por entre a harmonia.
Sobre as teclas, pressente-se a desconstrução de escalas em queda constante, ligeiras, desconcertantes, afastadas do clássico teclar e da pauta que o acompanha, que em tempos, ora previsíveis ora não, são preenchidas de forma arbitrariamente contida por um riscar de unhas na guitarra, som corrosivo, entre o melódico e o metálico, de entrada dissonante e nunca adquirindo um molde assertivo. Enquanto isso, permanece, como pedra basilar, o introvertido raspar da confortante bateria, de leve timbre e poucas agitações, o ressoar de curtos toques sobre os pratos.
Porém, o trio, durante o caminho e em fases de improvisação, parece atuar individualmente, quase à priori, desmascarando o enredo apresentado pelo primeiro tema “primeiro take” e respeitando a estruturação e exploração de cada um, discurso esse, que se estende linearmente ao longo de todo o álbum. No balanço e equilíbrio (ou desequilíbrio) da percussão e harmonia, o experimental que procura permear os temas, encontra-se num caminho propício de construção e florescimento.
Uma linguagem de sons que se contraem neles mesmos – podendo ter uma maior margem para a improvisação livre – deixando assim o ouvinte em espera e vontade para algo mais. A intenção não é posta em causa, mas a força com que se materializa, essa que permanece contida, a expansão, o riscar, o arranhar ruidoso a seu tempo, adaptando-se e enlaçando uma preposição totalmente incerta, a necessidade de perda de rumo, de horizonte, de ar. O puxar cá para fora, o acordar. Um despertar liberto de certezas, que não necessita de conclusões, apenas de estímulos, de força, de união. Do deixar-se ouvir, do ambiente.
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Habitat (Robalo)
Gapp / Carreiro / Sousa
Samuel Gapp (piano); João Carreiro (guitarra); João Sousa (bateria)