KAZE & Ikue Mori: “Crustal Movement” (Circum-Libra Records)

KAZE & Ikue Mori: “Crustal Movement” (Circum-Libra Records)

Circum-Libra Records

Paulo André Cecílio

O quarteto KAZE, formado por Christian Pruvost e Natsuki Tamura no trompete, Satoko Fujii no piano e Peter Orins na bateria, juntou-se à exploradora Ikue Mori. “Crustal Movement” é o segundo disco em parceria.

A crosta terrestre é formada por placas tectónicas, que se movimentam deslizando pelo magma sobre o qual se situam. Este movimento - que pode ser convergente, divergente ou transformante - é o que leva à formação de vulcões ou terramotos. Se adotarmos uma postura romântica e pensarmos no free como uma dessas duas coisas, ou talvez até ambas em simultâneo, poderíamos pensar à partida que não haveria outro título para dar a um trabalho onde à crueza de dois trompetes é acrescentada uma percussão nervosa e um borbulhar eletrónico.

“Crustal Movement” é o segundo disco a juntar o quarteto KAZE, formado por Christian Pruvost e Natsuki Tamura no trompete, Satoko Fujii no piano e Peter Orins na bateria, a Ikue Mori, artista consagrada pelo punk irregular dos saudosos DNA (Lester Bangs, ao vê-la na bateria, disse dela que metia Sunny Murray no bolso), e logo depois aclamada pelos campos da música mais dedicados à experimentação do que ao género. À semelhança de quase tudo em 2023, é um disco nascido na pandemia, composto a partir de esquemas traçados e compostos individualmente, e depois partilhados entre cada músico, através da internet. Com um twist: Pruvost e Orins, ambos a residir em Lille, França, pegaram no que os seus companheiros haviam feito e tocaram por cima dessas composições, ao vivo, perante uma plateia. 

Desta junção entre o mundo do estúdio e o mundo dos vivos nasce porém uma obra que, apesar do título, não parece disposta a provocar uma destruição sísmica ou uma explosão vulcânica. Há demasiados silêncios, que é como quem diz: não é tão agressivo quanto se supunha. O suspense inicial de “Masoandro Mitsoka” é ligeiramente enganador, desaguando num duelo entre os dois trompetes apenas interrompido por uma ocasional estalada (nem sequer chega a soco) percussiva e pelo balbuciar digital de Mori, até o piano, no final, apaziguar os ânimos. O próprio Fujii admitiu-o: «a música pode soar mais silenciosa do que quando tocamos ao vivo».

“Crustal Movement” será, assim, melhor apreciado num outro tipo de contextos que não implique escutá-lo em casa. Recorrendo apenas a um computador e a um par de colunas, é um daqueles sismos que não chega a três pontos na escala de Richter, e do qual só tomamos conhecimento quando os telejornais nos dizem que aconteceu. O que não quer dizer que o potencial para o caos não esteja lá. “Motion Dynamics” conta com a “Matrix” de Mori em proeminência sob disparos de bateria, “Shifting Blocks” ameaça causar estragos até se calar para deixar passar o ritmo, e a última faixa, que dá nome ao disco, é aquilo que este deveria ter sido sempre: geométricas maradas e gritos. Venham daí esses concertos.

 

 

  • Crustal Movement

    Crustal Movement (Circum-Libra Records)

    KAZE & Ikue Mori

    Christian Pruvost (trompete); Natsuki Tamura (trompete); Satoko Fujii (piano); Peter Orins (bateria) + Ikue Mori (eletrónica)

Agenda

10 Junho

Imersão / Improvisação

Parque Central da Maia - Maia

10 Junho

O Vazio e o Octaedro

Parque Central da Maia - Maia

10 Junho

Marta Hugon & Luís Figueiredo / Joana Amendoeira “Fado & Jazz”

Fama d'Alfama - Lisboa

10 Junho

Maria do Mar, Hernâni Faustino e João Morales “Três Vontades de Viver”

Feira do Livro de Lisboa - Lisboa

10 Junho

George Esteves e Kirill Bubyakin

Cascais Jazz Club - Cascais

10 Junho

Nuno Campos 4tet

Parque Central da Maia - Maia

10 Junho

Tim Kliphuis Quartet

Salão Brazil - Coimbra

10 Junho

Big Band do Município da Nazaré e Cristina Maria “Há Fado no Jazz”

Cine-teatro da Nazaré - Nazaré

10 Junho

Jorge Helder Quarteto

Fábrica Braço de Prata - Lisboa

11 Junho

Débora King “Forget about Mars” / Mayan

Jardins da Quinta Real de Caxias - Oeiras

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