Frank Zappa: “Zappa’80 Mudd Club” (Zappa Records / Universal)

Frank Zappa: “Zappa’80 Mudd Club” (Zappa Records / Universal)

Zappa Records / Universal

Gonçalo Falcão

Nos anos 80 0 Mudd Club era um dos spots da contracultura novaiorquina. Funcionou entre 1979 e 1983 e auto designava-se como um “art bar cabaret” na altura em que surgiu o punk e o CBGB era o epicentro de uma série de palcos que davam voz ao movimento (Max’s Kansas City, 82 Club, Café Au Go Go, A7). Frank Zappa gostava tanto do Mudd Club e da cena punk/new wave e do seu éthos, que se organizou para poder lá tocar, paralelamente aos concertos nos locais maiores como o Palladium.
O "Mudd Club" acabou por ser perpetuado numa das suas músicas (incluída no You Are What You Is) que descreve o ambiente louco do estaminé e das suas personagens.

Nova Iorque estava colorida, tatuada, cortada pela cena punk e new wave e o underground era provocante, exagerado e exótico. Farinha para o pão de Zappa. O Mudd Club era “serious leather (…) bouncin' off-a the wall”. “The folks down there's on auto-destruct”. O compositor adorou o clube e a sua vibração. 

A banda que montou para este período estava tão sólida como uma ponte romana, com o duo vocal de Ike Willis e Ray White, Arthur Barrow no baixo, no baixo, Tommy Mars (com uma presença muito significativa no som do grupo deste período) nos sintetizadores. David Logeman na bateria (a substituir Vinnie Colaiuta [Herbie Hancock] que depois regressará para novamente; é um excelente baterista com um grande som acústico e muito Groove, mas que não fará mais nada de significativo para além de tocar com Zappa). Tocam na perfeição, reagem intuitivamente, como uma equipa da NBA fruto de 5 meses de ensaios, 5 dias por semana, 8 horas por dia. Era este o método Zappa antes de ir para a estrada e é por isso que a banda chega ao Mudd Club para o primeiro concerto da tour, está sedenta de palco  “You Can’t Do That On Stage Anymore”. 

Steve Vai ainda não tinha entrado na banda, mas conseguiu a dificílima passagem pelos porteiros do Mudd Club porque Zappa o pôs na guest list e viu o espetáculo da plateia. Tinha 19 anos e queria muito entrar no Zappa bus... conseguiu.

Este é – grosso modo – o “Rockin’ Teenage Combo” de “Tinseltown Rebelion” e “You Are What You Is” (aliás o alinhamento deste LP duplo é muito Tinseltownico). As gravações mostram um som cru, pouco produzido, com os amplificadores a servirem de PA e uma banda sólida como a Lonsdaleíta.

Zappa sempre gostou de grupos grandes, orquestrais. Neste período montou um sexteto com 3 guitarras, voz, baixo, teclados e bateria que funciona como uma banda de rock. E é por isso que a música deste período é tão boa para mim. Porque continuam as estruturas complexas, as ideias disruptivas, o humor, um controlo absoluto das dinâmicas, mas tudo condensado num grupo pequeno, a tocar com a ligação de um grupo rock com 20 anos de estrada. E há ainda os registos kitsch de Mars nos sintetizadores (que não são para todos, reconheço e podem afastar alguns; nestas gravações não está tão em cima). Muito bons solos de Zappa (muito bons mesmo) e o duo Ike e Ray perfeito a cantar no seu melhor. 

O LP duplo (a 45 rpm), tem a gravação feita no dia 8 de Maio de 1980 no clube de nova Iorque. São 15 temas deste período (com algumas repescagens de “Chunga’s Revenge” e “Cruising With Ruben & The Jets”) que depois irão parar a “Joe´s Garage”, “You Are What You Is” e “Tinseltown Rebelion”. Uma gravação crua, de clube, sem a produção imaculada que o genial compositor nos habituou. Quem gosta de ouvir os Talking Heads a tocar em “The Name Of  This Band” percebe o prazer de ouvir estas gravações no Mudd Club. Um disco para os colecionadores e “hardcore fans”. 

Zappa 80: Mudd Club + Munich

Para os que passam o estatuto de harcore e já estão no patológico, há que subir a parada e comprar o LP triplo com as gravações completas do concerto do mesmo período, mas em Munique (Zappa ’80 Munich). 

Um alinhamento parecido com o do Mudd Clubb (Frank Zappa raramente repetia alinhamentos), mas com mais temas (22 em vez de 15 dado que era um show da tour em salas grandes) impecavelmente gravados no Olympiahalle no dia 3 de Julho de 1980, 2 meses depois do espetáculo no clube de Nova Iorque. É o primeiro concerto gravado digitalmente num Sony PCM 1600, que tinha sido lançado no mercado pouco tempo antes, em Março de 1978, para gravação profissional, a um preço que equivaleria hoje a aproximadamente 150 000 euros. A nova tecnologia que gravava digitalmente em cassetes U-Matic veio substituiu o velho portátil Nagra, um gravador analógico de bobines ainda hoje caríssimo e muito procurado pela sua qualidade (basta ouvir a qualidade da gravação no Mudd Club e percebe-se porque é que ainda hoje é muito difícil encontrar um abaixo de 3000 euros no ebay).

Zappa era obsessivo a gravar tudo o que fazia (o que pode ser uma prova que Deus existe) e tentou fazê-lo sempre com o máximo de qualidade para o seu tempo.

Munique foi o último espetáculo desta tour, com a banda na estrada há três meses, desgastada com a intensidade e trabalho. Para além dos solos de Zappa, de realçar o baixo de Arthur Barrow (“Clounmeister”, responsável pelos ensaios deste grupo na ausência de Zappa), que está deslumbrante. Quem já tem o "Tinseltown Rebelion" não precisa (na verdade, precisar, precisar, não se precisa, mas...) comprar este. Entre os dois, o primeiro é claramente uma escolha mais curiosa.

  • Zappa '80 Mudd Club (Zappa Records / Universal)

    Frank Zappa

    Frank Zappa (voz e guitarra), Ike Willis (voz e guitarra), Ray White (voz e guitarra), Tommy Mars (teclados), Arthur Barrow (baixo, teclados e voz), David Logeman (bateria)

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