Mário Costa: “Chromosome” (Clean Feed)

Mário Costa: “Chromosome” (Clean Feed)

Clean Feed

Gonçalo Falcão

Foi numa cerimónia muito bem organizada no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, que Mário Costa apresentou na passada sexta-feira, 24 de fevereiro, o seu novo disco. O lançamento de “Chromosome” foi um acontecimento significativo que, ainda antes de ouvir o disco, merece ser parabenizado. A jazz.pt esteve lá a ouvir o concerto e, nessa sequência, o disco. Vamos a ele.

Mário Costa gravou “Chromosome” com um super quarteto construindo uma ligação com o trio anterior: mantém-se Bernoît Delbecq no piano; saiu Marc Ducret e entrou Bruno Chevillon no contrabaixo. A principal novidade nesta gravação é a presença do trompetista vietnamita-americano Cuong Vu (Pat Metheny, Bobby Previte, Dave Douglas, Myra Melford, Chris Speed, Laurie Anderson, Gerry Hemingway).

O baterista de Viana do Castelo é um caso pouco frequente no meio musical, ao liderar um grupo internacional franco-americano e ao escrever temas com enorme competência e beleza. As pautas de Mário Costa têm um cuidado e detalhe rítmicos assinaláveis, mas também uma grande inteligência melódica. São composições estimulantes sem rodriguinhos nem cantos arredondados que harmonizam saber e intuição.

Cada músico dá uma parte importante a esta música, sem músicos secundários nem principais, sem fundo e frente. Estão todos a dar e receber com intensidade e no mesmo plano.

Encontramos quase sempre duas unidades altamente ativas e em diálogo onde, tantas vezes, só está uma: por um lado a chamada “secção rítmica”, com a bateria e o contrabaixo e por outro o piano e o trompete. Entre estas dois duos há um jogo muito interessante, onde por vezes uma avança e a outra recua, para depois alternarem. Costa e Chevillon entregam ritmo complexo e cheio de detalhes. Estão sempre a acontecer coisas interessantes neste bloco, desde as mais evidentes - tempos complexos e imprevisíveis - às de pormenor, como micro ritmos com uma enorme amplitude tímbrica. É por isso um prazer ouvir o que está normalmente “por trás” e trazê-lo para a frente. Por outro lado, no piano e no trompete estão dois músicos muito especiais, com um uso alargado dos seus instrumentos, expandindo-os através de traficâncias físicas (piano preparado, por exemplo) e eletrónicas (o processamento em tempo real dos sons naturais dos instrumentos).

Benoît Delbecq é um pianista muito interessante e explorador que tem uma carreira notável e que desempenha neste grupo um papel fundamental, melódico, textural e que sabe dar espaço aos outros músicos, gerando ideias, interagindo. Sabe usar muito bem a eletrónica, colocando-se por vezes naquele fio fino em que só os franceses sabem estar, entre o kitsch e o muito bom. É um mestre.

Cuong Vu é a grande surpresa trazida para este disco. O seu som com muito reverb explora essa natureza larga e ampla do som do trompete, em frases largas e paisagistas em que o som metálico flutua. Depois consegue ser curto e cortante (“Moonwalk” por exemplo, o tema com mais groove do disco) com facilidade.

Depois de “Oxy Patina” que, recordemos, foi disco do ano, as expectativas para o seu sucessor eram altas. E de facto “Chromosome” mostra um músico que não ficou confortável no mesmo lugar e que está à procura. Será esta a grande dificuldade dos músicos de jazz, quando atingem a mestria técnica: o que fazer com ela. E Costa mostra que se está a desafiar, que está à procura e que se sabe rodear de uma elite de músicos que generosamente dão e usam todo o material que a criatividade do grupo gera. Por fim, é indispensável deixar uma vénia ao trabalho de João Bessa que criou uma gravação nítida e com excelente som e equilíbrio. 

 

  • Chromosome

    Chromosome (Clean Feed)

    Mário Costa

    Mário Costa (bateria e eletrónica); Cuong Vu (trompete e eletrónica); Benoît Delbecq (piano, sintetizadores e samplers); Bruno Chevillon (contrabaixo)

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