Evan Parker X-Jazz Ensemble: “A Schist Story” (JACC Records, 2022)

Evan Parker X-Jazz Ensemble: “A Schist Story” (JACC Records, 2022)

JACC Records

Nuno Catarino

Em agosto de 2012 um grupo de dezassete de improvisadores portugueses passou uma semana numa residência artística dirigida pelo lendário Evan Parker. Viveu-se uma “coisa utópica”. Dez anos depois, o resultado desse encontro está disponível.

Num dos seus projetos mais ambiciosos de sempre, o JACC – Jazz Ao Centro Clube, promoveu uma residência artística muito particular. Reuniu dezassete músicos nacionais, oriundos de diversas áreas musicais – do jazz à improvisação livre, passando pela eletrónica e pela experimental. Durante uma semana, os músicos estiveram às ordens do lendário Evan Parker, o mestre inglês pioneiro da improvisação livre. Isto aconteceu em agosto de 2012, na belíssima paisagem das Aldeias de Xisto. Na vila de Pedrógão Pequeno, no município da Sertã, a poucos quilómetros do centro geodésico do país, viveu-se uma “coisa utópica” (palavras de Parker), num lugar quase mágico, rodeado por um imenso verde e montanhas gigantes, com o rio Zêzere e a Barragem do Cabril em fundo.

Participaram os músicos Rodrigo Amado, João Martins e Pedro Sousa (saxofones), Luís Vicente (trompete), Miguel Mira (violoncelo), João Camões (viola), Angelica Salvi (harpa), Marcelo dos Reis (guitarra acústica), Luís Lopes e Gonçalo Falcão (guitarra elétrica), Hugo Antunes e José Miguel (contrabaixo), João Lobo, João Pais Filipe e Gabriel Ferrandini (bateria) e Miguel Carvalhais e Travassos (eletrónicas). Além dos músicos, a residência contou com a presença de artistas, técnicos, fotógrafos e jornalistas – foi nessa categoria que tive a sorte de ter vivido esse momento, tendo na altura publicado uma reportagem no jornal Público

Com as sessões de trabalho na Sociedade Filarmónica Aurora Pedroguense, o veterano Parker teve o desafio de orientar o grupo, de limar uma música que vive na liberdade. Propôs aos músicos diversos exercícios, obrigou-os a sair da sua zona de conforto, explorando o silêncio e o espaço, promovendo a comunicação musical. Cada músico carregava as suas características, as suas linguagens particulares, mas também os seus preconceitos e limitações. Parker foi trabalhando para que cada indivíduo se colocasse ao serviço do grupo, para que este soasse coeso e a música resultasse fluída. Além das sessões de trabalho, ou ensaios, que ocuparam quase todo o tempo, ao longo da semana o grupo fez algumas apresentações públicas (com alguns mini-grupos de músicos).

A semana terminou com uma apresentação ao vivo, com o grupo completo, na noite de sábado, na Casa da Cultura da Sertã e este disco, “A Schist Story”, documenta essa atuação. No concerto de apresentação, a música foi trabalhada sob a orientação/direção de Evan Parker, que também participou pontualmente como músico. A música vai evoluindo, de forma controlada, abrindo espaço para que vários instrumentos se possam revelar, sendo acrescentadas camadas sobre camadas.

No início destaca-se o encontro delicado dos instrumentos mais suaves, com destaque para a harpa de Salvi, a guitarra dedilhada de Reis e o trompete de Vicente. Passa-se depois para o rebuliço eletrónico, já com uma guitarra elétrica à espreita e um saxofone nervoso a querer entrar, com o grupo a subir num crescendo. Entre subidas e descidas, acelerações e quebras, são vários os músicos que se vão mostrando, sem nunca roubarem demasiado os holofotes de cena. Globalmente, os músicos souberam respeitar as indicações de Parker e a música soa coletiva, resulta contínua, fluída, ainda que surjam pontuais faíscas individuais.

Este disco é o testemunho de uma coisa utópica num lugar quase mágico. Apesar de a música não resultar sempre brilhante, conta com alguns momentos de verdadeira beleza. Dez anos depois, esta edição aviva as memórias de quem lá esteve. Para quem não viveu, este disco será uma prazeirosa descoberta.

 

 

  • A Schist Story

    A Schist Story (JACC Records)

    Evan Parker X-Jazz Ensemble

    Evan Parker (direção, saxofone); Rodrigo Amado, João Martins e Pedro Sousa (saxofones): Luís Vicente (trompete); Miguel Mira (violoncelo); João Camões (viola); Angelica Salvi (harpa); Marcelo dos Reis (guitarra acústica); Luís Lopes e Gonçalo Falcão (guitarra elétrica); Hugo Antunes e José Miguel (contrabaixo); João Lobo, João Pais Filipe e Gabriel Ferrandini (bateria); Miguel Carvalhais e Travassos (eletrónicas)

Agenda

30 Março

Johannes Gammelgaard

Café Dias - Lisboa

30 Março

Pedro Branco e João Sousa “Old Mountain”

Miradouro de Baixo - Carpintarias de São Lázaro - Lisboa

30 Março

Marmota

Casa Cheia - Lisboa

30 Março

Filipe Raposo e Uriel Herman “Dois pianos, um universo”

Centro Cultural de Belém - Lisboa

30 Março

Inês Camacho

Cossoul - Lisboa

30 Março

Abyss Mirrors Unit

ZDB - Lisboa

30 Março

Daniel Levin, Hernâni Faustino e Rodrigo Pinheiro

Biblioteca Municipal do Barreiro - Barreiro

31 Março

Blind Dates

Porta-Jazz - Porto

01 Abril

Elas e o Jazz

Auditório Municipal de Alcácer do Sal - Alcácer do Sal

01 Abril

Ill Considered

Musicbox - Lisboa

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