Beats & Pieces Big Band: “Good Days” (Efpi Records)
Efpi Records
Acaba de ser lançado o terceiro álbum de estúdio da Beats & Pieces Big Band, formação de 14 músicos britânicos liderada por Ben Cottrell. Tem selo da Efpi Records, criada por Cottrell e baseada em Manchester. “Good Days” mostra que é possível olhar para trás sem ser saudosista. A jazz.pt já o escutou.
Ao terceiro álbum de estúdio – depois de “Big Ideas”, de 2012, e “All In”, de 2015 –, a britânica Beats & Pieces Big Band, fundada em 2008 pelo maestro, compositor, arranjador e produtor Ben Cottrell, alarga um perímetro sonoro cuja elasticidade reconhecíamos, com uma música que enraizada na longa tradição das grandes orquestras de jazz dá resolutos passos noutras direções. A formação de 14 músicos mostra que sem descartar o lastro histórico, não enferma de problemas de obsolescência, sendo capaz de refletir a contemporaneidade e sim, swingar, swingar com imaginação e frescura, sem necessitar de emular modelos passados.
“Good Days”, agora lançado pela Efpi Records, começou a germinar em Berna, onde Cottrell residiu entre 2018 e 2020, e foi gravado na Escócia, em janeiro de 2020, pouco antes de tudo parar. Afastando-se do seu método habitual de trabalho de apresentar à banda composições praticamente formadas, desta vez optou por trabalhar esse material durante vários meses, se não mesmo anos, conferindo-lhe um caráter mais aberto e coletivo. E isso transparece na amplitude emocional do que escutamos.
“Wait” anuncia a alvorada com os sons de uma floresta a serem interpelados pelas notas cálidas de Rhodes. Nada que prenuncie “Op”, da autoria do baterista Finlay Panter, tempo médio com os sopros a exporem o tema, para logo se elevarem as deambulações do pianista Richard Jones, que conduzem a peça ao seu clímax. Um dos momentos mais interessantes do disco chega na lenta e sentida “Elegy”, com o saxofone etéreo de Oliver Dover a destacar-se do belo arranjo de sopros, qual fio de Ariadne a mostrar o caminho.
Bem mais exuberante é “DB”, vinheta em que os sons de uma estação de comboios berlinense (DB poderão ser as iniciais de “Deutsche Bahn”) dão lugar ao caos que antecede uma serenidade angustiante, na fronteira do quase-silêncio. Novo contraste acontece na passagem para “Cminriff”, em que o saxofone tenor de Anthony Brown toma a frente de um arranjo elegantemente garrido.
Encontramos o pináculo em “Blues (for Linu)”, onde as várias vozes instrumentais coalescem numa peça assente em uníssonos compactos, com o trompete de Graham South a destacar-se, antes de uma passagem de grande dinamismo rítmico. Em “Woody” guitarra e contrabaixo dão o mote para uma peça poliédrica, que vai adquirindo momento, para logo tudo se aquietar e Phil O’Malley solar no trombone. O tutti reemerge para uma secção poderosamente festiva, até que a atmosfera é tomada pelo som de sinos longínquos.
“Good Days” é um caldeirão para onde convergem múltiplos elementos e que poderá recompensar tantos os ouvidos mais conservadores, como aqueles que buscam a surpresa.
-
Good Days (Efpi Records)
Beats & Pieces Big Band
Ben Cottrell (direção); Anthony Brown, Emily Burkhardt, Oliver Dover (saxofones); Simon Lodge, Rich McVeigh, Phil O’Malley (trombones); Owen Bryce, Graham South, Nick Walters (trompetes); Anton Hunter (guitarra); Richard Jones (piano/Rhodes); Stewart Wilson (contrabaixo); Finlay Panter (bateria); Tullis Rennie (desenho sonoro)