Margaux Oswald: “Dysphotic Zone” (Clean Feed)
Clean Feed
Um disco escuro e pesado, feito de extremos: de violência e de fragilidade; de intensidade e de contração. Uma tempestade num piano. Margaux Oswald dá-nos um solo raro.
Um disco escuro e pesado, feito de extremos: de violência e de fragilidade; de intensidade e de contração. Uma tempestade num piano. Margaux Oswald dá-nos um solo raro.
A música, agora fixada em CD, foi gravada um ano antes ao vivo numa improvisação feita no dia 24 de outubro em 2021 no festival “Monopiano” em Fylkingen, na Finlândia. Pouco sabemos da pianista para além de conter em si uma geografia variada, feita também de confrontos: de origem franco-filipina, nascida na Suíça e atualmente radicada em Copenhaga, na Dinamarca, faz-nos uma espécie de resumo da escuridão no piano – instrumento por excelência do virtuosismo da música europeia - numa improvisação.
Por vezes, leva o instrumento para locais onde raramente o encontramos, fazendo-o vibrar em graves, usando contrastes e uma abordagem intensa e brutalista, indo de um extremo ao outro do teclado. Podemos criar um paralelo com “Metal Machine Music” de Lou Reed onde pela primeira vez suou o lado mais extremo da guitarra elétrica, em que tudo é distorção e violência. Em “Dysphotic Zone” surgem terramotos sonoros aumentados pelo pedal de reverberação compensados com uma série de outros acontecimentos musicais, onde o jogo entre tensão e libertação é extremamente bem feito.
Para além dos concertos a solo, como este agora editado, pode ser ouvida em duos com músicos da novíssima geração como Jesper Zeuthen ou Kasper Tranberg, em trio com Sture Ericsson e Håkon Berre, ou no septeto que lidera intitulado Collateral Damage.
Quisemos perceber o que é uma “Zona Disfótica”, o título escolhido pela pianista para este solo, e descobrimos que é a camada aquática do oceano que se situa entre aproximadamente entre os 200 e os 1000 metros (dependendo da turbidez da água) onde a fotossíntese não é possível dado que a luz é de tal forma dissipada pela densidade da água que a luz consegue penetrar, mas já não tem intensidade suficiente para suportar a fotossíntese.
Afinal, o título explica tudo: a referência ao desânimo da luz perante a densidade da escuridão (ignorância, desconhecimento) é uma forma poética de explicar a música improvisada neste disco: este processo em que Margaux Oswalds se entrega à indeterminação, numa tentativa de encontrar beleza e um certo equilíbrio. E consegue-o.
-
Dysphotic Zone (Clean Feed)
Margaux Oswald
Margaux Oswald (piano)