Desidério Lázaro: “Oblivion” (AsUR)

Desidério Lázaro: “Oblivion” (AsUR)

AsUR

Nuno Catarino

O saxofonista algarvio está de regresso. Neste novo álbum “Oblivion”, o seu nono registo na condição de líder, o jazz volta a namorar com o rock.

Tendo começado por se afirmar sobretudo pela sua capacidade técnica, como instrumentista de improvisação fogosa, assumidamente coltraneana, o saxofonista Desidério Lázaro, natural de Tavira, apresentou-se ao mundo com o disco “Rotina Impermanente”, lançado em 2010 num trio com Mário Franco e Luís Candeias. Seguiu-se “Samsara” (2012), disco em quinteto com Afonso Pais, João Firmino, Francisco Brito e Joel Silva. Regressou ao trio com “Cérebro: Estado Zero” (2013). E em 2015 editou “Subtractive Colors”, com um grupo mais alargado e ambicioso (formação flexível que se expandia até septeto). Fechou a década de 2010 com a edição de mais dois discos, “Moving” (2018) e “Homegrown” (2019).

O saxofonista algarvio tem exibido um ritmo criativo imparável, que se reflete na sua imensa produção discográfica - desde a sua estreia como líder este novo “Oblivion” é já o seu nono (!) disco em nome próprio. Curiosamente, alguns dos trabalhos mais interessantes da sua discografia têm sido lançados nos últimos tempos. “Unknown Road”, um duo com Luís Candeias (2020), mostrava Desidério a servir-se do seu saxofone tenor para improvisar com energia e sem fronteiras - num concerto integrado num ciclo do Hot Clube de Portugal dedicado ao disco “Interstellar Space” de John Coltrane; já “Stillness in Time” (2021), revelava uma toada mais melancólica e sentimental, num duo de saxofone e piano, em parceria com Daniel Bernardes. Dois discos contrastantes que confirmam (mais uma vez) a capacidade do saxofonista de explorar diferentes mundos sonoros.

Agora chega “Oblivion” que, segundo o autor, conclui a tetralogia iniciada com “Samsara”, seguida de “Moving” e “Homegrown”, cuja temática foi a reflexão filosófica sobre a condição humana e as emoções. Neste novo disco todas as composições são assinadas por Lázaro (com exceção do tema final, de autoria partilhada com Mimi Froes). Nesta gravação o saxofonista está acompanhado por Mário Delgado e Ricardo Pinheiro (na guitarra), Cícero Lee (no baixo) e Carlos Miguel (na bateria); juntam-se ainda dois convidados: Eduardo Faustino (guitarra) e Mimi Froes (voz). O disco explora diferentes estilos e géneros, com o saxofonista a exibir a sua amplitude e diversidade.

O álbum abre com “Supernova”, um típico jazz-rock, banhado a funk e groove, com a guitarra “wah-wah” de Delgado em destaque e o saxofone de Lázaro a acentuar o ritmo. Ao segundo tema, “Morning hum”, o ritmo abranda: sobre um tapete de guitarra, o saxofone começa por navegar em registo abaladado, e vai depois crescendo - talvez o momento mais interessante de todo o disco. “Rebound” é mais um jazz-rock, evocativo da fusão de uns Weather Report, bem executado (a ligação entre o jazz e o rock já tem sido bem explorada por Desidério em alguns trabalhos anteriores); além do saxofone, também a guitarra brilha. Em “Suspension of Disbelief” regressa uma guitarra suave, sobre a qual Lázaro viaja tranquilamente, naquele que será o tema mais lamentoso do álbum.

“Thin Line” arranca na mesma toada do anterior, mas rapidamente evolui e vai crescendo, com o grupo muito expansivo. Em “Song for the End of Times”, é mais uma vez a guitarra dedilhada a marcar o ambiente, abrindo espaço para o saxofone (em overdub), que vem trazer luz e acaba por soar esperançoso, em contraste com o título. E o penúltimo tema, “The Final Journey”, mostra-se surpreendente nas suas voltas. Para fechar o disco chega o tema “Eclipse”, escrito por Desidério Lázaro e Mimi Froes, e que conta com a participação da cantora; daqui resulta uma boa canção, com ganchos pop, polvilhada com o tenor de Desidério. 

Se o anunciado objetivo era trabalhar à volta da condição humana e as emoções, a missão terá sido cumprida, uma vez que a música aqui apresentada por Desidério Lázaro explora uma vasta multiplicidade de emoções e sentimentos. Estilisticamente, e embora nem sempre coerente, o álbum é muito diverso. O saxofonista algarvio afirma-se com mais um registo de alta qualidade.

 

 

  • Oblivion

    Oblivion (AsUR)

    Desidério Lázaro

    Desidério Lázaro (saxofone tenor, saxofone soprano); Mário Delgado (guitarra); Ricardo Pinheiro (guitarra); Cícero Lee (baixo); Carlos Miguel (bateria); convidados: Eduardo Faustino (guitarras) e Mimi Froes (voz)

Agenda

01 Junho

André Santos e Alexandre Frazão

Café Dias - Lisboa

01 Junho

Beatriz Nunes, André Silva e André Rosinha

Brown’s Avenue Hotel - Lisboa

01 Junho

Ernesto Rodrigues, José Lencastre, Jonathan Aardestrup e João Sousa

Cossoul - Lisboa

01 Junho

Tracapangã

Miradouro de Baixo - Carpintarias de São Lázaro - Lisboa

01 Junho

Jam session

Sala 6 - Barreiro

01 Junho

Jam Session com Manuel Oliveira, Alexandre Frazão, Rodrigo Correia e Luís Cunha

Fábrica Braço de Prata - Lisboa

01 Junho

Mano a Mano

Távola Bar - Lisboa

02 Junho

Rafael Alves Quartet

Nisa’s Lounge - Algés

02 Junho

João Mortágua Axes

Teatro Municipal da Covilhã - Covilhã

02 Junho

Júlio Resende

Fábrica Braço de Prata - Lisboa

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