Ernesto Rodrigues / Guilherme Rodrigues / João Madeira: “Cosmos” (Creative Sources)
Creative Sources
Gravado ao vivo no Cosmos Campolide, este disco junta o violinista Ernesto Rodrigues com o seu filho Guilherme Rodrigues no violoncelo e João Madeira no contrabaixo, numa exploração da improvisação livre.
A discografia do improvisador Ernesto Rodrigues é quase impossível de acompanhar. Ao longo dos últimos vinte anos, através da sua label Creative Sources, Rodrigues tem editado centenas de gravações (está a aproximar-se das 800!), e neste seu catálogo incluem-se alguns grupos regulares - particularmente o Lisbon String Trio (com Miguel Mira e Alvaro Rosso), o String Theory e o ensemble IKB - , mas sobretudo formações ad-hoc, muitas vezes com esses encontros musicais a acontecerem pela primeira vez.
A produção discográfica de Ernesto Rodrigues continua neste ano de 2022 a ser alimentada por múltiplas colaborações, sobretudo parcerias com músicos nacionais como Bruno Parrinha, Luís Gonçalves e Maria da Rocha, entre outros - como porta de entrada para este enorme universo, vale a pena espreitar a sua página Bandcamp. A música de Ernesto sempre revelou um gosto pelo detalhe, pelo pormenor, e a sua aproximação a abordagens musicais minimalistas (near silence, lowercase, reducionismo) levou-o a ser considerado um dos expoentes mundiais dessa exploração. Contudo, a sua música, embora também inclua esses elementos, não se fica por aí.
Da produção mais recente destaca-se “Affinity Suite”, registo de um concerto na SMUP, na Parede, onde Ernesto Rodrigues sai da sua zona de conforto, estando acompanhado por um grupo de músicos mais ligados à improvisação livre/free jazz: José Lencastre (saxofone), Miguel Mira (violoncelo), Hernâni Faustino (contrabaixo) e João Lencastre (bateria). Também registado ao vivo, “Cosmos” foi gravado em trio, com o seu filho (e parceiro habitual) Guilherme Rodrigues no violoncelo e João Madeira no contrabaixo. Este disco documenta uma atuação do trio no Cosmos Campolide, um espaço cultural recente que partilha instalações com o Campolide Atlético Clube, em Lisboa.
“Cosmos” funciona como uma suite que se divide em quatro partes. Ernesto (violino), Guilherme (violoncelo) e Madeira (contrabaixo) formam um clássico trio de cordas e desenvolvem uma música improvisada que se aproxima da música de câmara. O trio vai trabalhando uma improvisação que assenta na comunicação e diálogo, com os três músicos a lançarem ideias, responderem, interligarem-se, fazendo a música evoluir. Sendo o disco marcado sobretudo pelo som do arco, os três músicos servem-se também de técnicas extensivas, criando outros sons, menos convencionais, que levam a música a seguir por outras direções.
O trio atravessa diferentes ambientes, de momentos de maior contenção até explosões de alta intensidade; e o ouvinte fica envolvido ao acompanhar no processo, vai ficando sempre curioso. Particularmente interessante é a parte III, nas suas variadas oscilações. Sendo impossível acompanhar toda a produção de Rodrigues, vale sempre a pena dar atenção a alguns dos seus trabalhos. Neste “Cosmos” o violinista joga em casa, num terreno musical que lhe é familiar - embora, como acontece na improvisação, exista sempre espaço para a surpresa.
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Cosmos (Creative Sources)
Ernesto Rodrigues / Guilherme Rodrigues / João Madeira
Ernesto Rodrigues (violino); Guilherme Rodrigues (violoncelo); João Madeira (contrabaixo)