Samuel Lercher Trio: “Ballade” (Edição de autor)
Edição de autor
Ao segundo disco como líder, o pianista nascido em França assume as suas influências de forma direta, particularmente o seu amor pela chanson. Ao leme de um trio com André Rosinha e Bruno Pedroso, neste novo álbum conta ainda com dois convidados especiais: a cantora Lou Tavano e o trompetista Gonçalo Marques.
Pianista e compositor, Samuel Lercher nasceu em França e vive em Portugal há vários anos. No ano de 2015 apresentou o seu disco de estreia – “Épiloque”, numa edição Sintoma Records – ao leme de um trio com André Rosinha (contrabaixo) e Marcelo Araújo (bateria). Lercher integra ainda os quartetos Fauksa (com Hamza Touré, Freddy Blondeau e Rui Pereira) e Not There Yet – este último com Daniel Neto, Gonçalo Leonardo e Pereira, que editou neste ano de 2022 o seu registo de estreia, "Which Way?". Agora, o pianista acaba de editar um novo trabalho, em nome próprio: “Ballade”.
Sobre o primeiro disco, escrevi na altura: «Neste disco é o piano que está no centro de tudo, a assumir sobre si mesmo toda a atenção. Não é caso para menos: à sua formação clássica, Lercher junta uma ótima fluência discursiva jazzística. A dupla rítmica não tem um papel estático, meramente acompanhante, e sabe intervir, acrescentando dinâmica sempre que necessário. O trio trabalha um conjunto de temas originais onde se evidencia um notório cariz lírico (...). Mas atenção, este disco não se limita a essas coordenadas de lirismo e beleza melancólica, também aqui há swing e groove (...). Com a tranquilidade e a elegância dos grandes, Samuel Lercher acaba de chegar e já marcou a sua posição. Com delicadeza, sem estrondo.»
Chegado a este segundo tomo, “Ballade”, confirma algumas dessas caraterísticas, mas não se fica por aqui. O álbum está recheado de originais, da pena de Lercher, mas o pianista assume aqui, e de forma muito directa, as suas influências musicais. Desde logo, uma clara ligação ao seu país natal, ao incluir diversos clássicos eternos da canção francesa: “La Javanaise” de Serge Gainsbourg e “La Bohème” de Charles Aznavour e “Il n'y a pas d'amour heureux” popularizada por Georges Brassens; Lercher não se fica pela herança francesa e mostra outro lado: o disco conta ainda com uma revisão de “We See” de Thelonious Monk.
Neste disco Samuel Lercher, além do piano, também se serve do elétrico Fender Rhodes. Ao seu lado estão André Rosinha no contrabaixo e Bruno Pedroso na bateria (o primeiro já colaborou no disco anterior, o segundo é novidade). Este disco conta ainda com participações, esporádicas, da cantora Lou Tavano (cantora francesa ligada à ACT Music) e do trompetista Gonçalo Marques.
Novamente, o piano de Lercher revela a elegância da formação clássica aliada à fluência jazzística, resultando sempre cativante. A base rítmica, assegurada pelos sempre sólidos Rosinha e Pedroso (curiosamente a mesma dupla que vimos há dias no Hot Clube com Eduardo Cardinho), é sempre atenta e vibrante. A voz surge pontualmente para dar vida às palavras, no ponto de equilíbrio, sem exageros, sem surpresas. Sempre que aparece, Gonçalo Marques enquadra-se na perfeição, acrescentando o seu trompete luminoso em intervenções precisas, também dialogando com a voz.
O título do disco é enganador: não se trata de um disco de baladas. Embora também se ouçam por aqui, este disco vai mais além. Há momentos em tempos mais acelerados, onde o pianista e a sua trupe mostram a flexibilidade e versatilidade. Já não se trata de uma novidade, este disco é a confirmação definitiva do talento do pianista agora luso-francês. De novo, Lercher confirma-se com delicadeza e sem estrondo.
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Ballade (Edição de autor)
Samuel Lercher Trio
Samuel Lercher (piano, Fender Rhodes); André Rosinha (contrabaixo); Bruno Pedroso (bateria; Lou Tavano (voz); Gonçalo Marques (trompete)