The Michael Lauren Trio: “Live at Mobydick Records” (Mobydick Records)
Mobydick Records
O veterano baterista que se mudou de Nova Iorque para Portugal apresenta um novo disco, gravado em trio com o guitarrista Vasco Agostinho e o contrabaixista João Custódio. “Live at Mobydick Records” mostra o trio a atacar um jazz de alta intensidade.
«Daquilo que me apercebi, os cursos superiores de jazz em Portugal, em Lisboa e no Porto, são muito desiguais, são experiências de picos. Tive a sorte de ter Michael Lauren como professor, porque ele é um dos maiores exemplos daquilo que uma figura pedagógica deve ser. Porque tem o lado exigente que faz o aluno trabalhar, mas também tem o lado de “pai”, que estimula a confiança e que te vai ver tocar, mesmo fora do contexto escolar.» As palavras são de Pedro Melo Alves, autor do melhor disco de 2021 segundo a equipa da jazz.pt (“Lumina”, Clean Feed). Numa entrevista à jazz.pt, publicada em 2018, o baterista, compositor e improvisador expressava admiração sem reversas pelo seu professor e mentor.
Filho de Nova Iorque, Michael Lauren mudou-se para Portugal há vinte anos e, com o tempo, foi ganhando estatuto de figura fundamental da cena jazz portuguesa. Foi professor de bateria da ESMAE durante quase duas décadas, ensinando muitos talentos que hoje em dia ouvimos por aí, como Melo Alves, Marcos Cavaleiro e tantos outros. E, a par desse percurso como educador, Lauren tem desenvolvido um relevante trabalho como baterista, integrando grupos como The Postcard Brass Band, Hugo Alves Quartet ou Quinteto de Mário Santos "Bloco de Notas". Com o seu grupo The Michael Lauren All Stars editou os discos “Once Upon a Time in Portugal” (2015) e “Old School / Fresh Jazz” (2018), ambos documentos de um jazz vivo, ambos herdeiros da tradição hardbop.
Agora, o baterista nova-iorquino explora uma outra dimensão: acaba de lançar um novo disco, “Live at Mobydick Records”, gravado em trio, na companhia do guitarrista Vasco Agostinho e do contrabaixista João Custódio. Em entrevista à jazz.pt, Lauren confessava a Eray Aytimur que a origem deste disco não foi a mais feliz: «Em dezembro de 2020, fui hospitalizado com covid. Felizmente recuperei e pude voltar a atuar. Durante os períodos sem trabalho, passei muito tempo a praticar, a tocar, mantendo a forma e trabalhando em novas ideias. Na primavera de 2021 fui convidado para um concerto em livestream e na preparação para esse concerto estive a compor muitos temas novos, foi uma altura muito criativa para mim, motivada pelo concerto.»
Desse processo nasceu o material para o disco: o concerto teve lugar num estúdio de gravação - Mobybick, em Braga - sendo transmitido em livestream. Naturalmente a música foi gravada e, após pequenos retoques, transformou-se neste álbum. Diferente dos trabalhos anteriores de Michael Lauren, este registo apresenta uma música mais concentrada. Despida aos elementos essenciais, a música de Lauren ganha em força, precisão e intensidade.
O disco arranca com uma versão pujante de um clássico de Sonny Rollins, “Biji”. Fora essa versão que abre o disco, o disco apresenta unicamente temas originais, saídos da pena de Lauren e também com contribuições de Agostinho. Em “Ritual do Cabrito” e “Sempre em Frente” ouvem-se aproximações ao rock, sempre com groove. Contrastando, em “Bonfim Blues” ouvimos um blues arrastado e em “Looking Back at Life” chega-nos uma balada, um tema enternecedor que dá espaço a um memorável solo de contrabaixo de Custódio. Ao longo de todo o disco, o trio atravessa diferentes ambientes e o resultado é um objeto muito equilibrado.
A bateria precisa e enérgica de Lauren guia o grupo, sempre atenta; a guitarra de Agostinho não só cumpre, como muitas vezes consegue roubar a atenção; e o contrabaixo de Custódio é um esteio central. Neste álbum ouvimos uma faceta distinta de Michael Lauren, diferente daquilo que lhe conhecíamos anteriormente. Sem o envolvimento e calor dos sopros dos “Allstars”, esta música é mais focada. Este é um jazz com espírito rock: há groove, há swing, há melodia, há sentimento, há muita energia. Ao leme de um trio irrepreensível, o veterano baterista ataca um jazz de alta intensidade.
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Live at Mobydick Records (Mobydick Records)
The Michael Lauren Trio
Michael Lauren (bateria); Vasco Agostinho (guitarra elétrica); João Custódio (contrabaixo)