João Carreiro: “Pequenos desastres” (Robalo)
Robalo
O guitarrista João Carreiro lança-se em nome próprio acompanhado pela superlativa trupe da Robalo: Gonçalo Marques, Demian Cabaud e João Lopes Pereira. A esta formação “all-star” junta-se ainda o saxofonista catalão Albert Cirera. Uma estreia discográfica que revela boas ideias e maturidade.
A primeira vez que ouvimos João Carreiro foi com o Fragoso Quintet, um grupo surpreendente que inaugurou o carimbo editorial Cena Jovem jazz.pt, onde a sua guitarra se fazia notar. Desde então, o jovem guitarrista lisboeta tem estado ligado à associação e editora Robalo que, entre outras iniciativas, promoveu ao longo de um ano uma excelente programação semanal no Penha sco em Lisboa (que terminou no fim de maio e já deixa saudades). Carreiro tem explorado, em simultâneo, os campos do jazz e da improvisação livre, com igual proficiência, e tem desenvolvido diversas parcerias e colaborações. Tem privilegiado o duo e nesse formato tem colaborado com as cantoras Leonor Arnaut e Mariana Dionísio, o pianista Guilherme Aguiar e o percussionista César Burago, entre outros. Integra ainda o trio Living With a Couple, com Arnaut e João Lopes Pereira.
Para a sua estreia discográfica, o guitarrista reuniu um quinteto de nível altíssimo, quase todos oriundos da trupe Robalo: Gonçalo Marques no trompete, Demian Cabaud no contrabaixo e João Lopes Pereira na bateria. Como se não bastasse, à formação “all-star” junta-se ainda o reputado saxofonista catalão Albert Cirera. O disco apresenta um total de oito temas, seis composições originais e duas improvisações coletivas. Desde logo, evidencia-se a qualidade da composição, temas bem estruturados que servem de alicerce ao trabalho do quinteto. Sobre as composições, o grupo pratica um jazz sólido, assente no envolvimento coletivo e abrilhantado por algumas intervenções individuais.
O disco abre com “Dialeto”, tema que abre espaço para um solo inicial de guitarra de Carreiro, que começa contido mas vai revelando a sua expressividade. Em “330” há espaço para Cabaud e Cirera brilharem, além de Carreiro. O tema que dá título ao disco, “Pequenos desastres”, arranca numa toada arábica e após os uníssonos iniciais vai-se expandido - todos os músicos colaboram no processo de evolução/desconstrução, embora o motivo principal nunca seja abandonado. Pelo meio há dois momentos de exploração livre, “Livre #1” e “Livre #2”, onde o grupo navega sem amarras. E o disco fecha com “Morcegos”, um tema curto de contrastes, entre um arranque vertiginoso em uníssonos e uma continuação lenta, repetindo depois a fórmula, em desconstrução.
Os sopros Cirera e Marques são fulcrais, a base rítmica de Cabaud e Pereira é estável e sabe ser reativa; e a guitarra de Carreiro está sempre no meio, atenta, interligando as peças. As vozes instrumentais, convivem dialogam e discutem, numa bem-vinda profusão de ideias. Temos aqui um jazz sólido e criativo. Apesar da juventude do guitarrista, esta estreia discográfica revela ambição e maturidade.
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Pequenos desastres (Robalo)
João Carreiro
João Carreiro (guitarra); Gonçalo Marques (trompete); Albert Cirera (saxofone alto e soprano); Demian Cabaud (contrabaixo); João Lopes Pereira (bateria)