José Lencastre: “Common Ground” (Phonogram Unit)

José Lencastre: “Common Ground” (Phonogram Unit)

Phonogram Unit

Sofia Rajado

Os últimos tempos têm sido produtivos para José Lencastre. Nem um ano se passou desde o lançamento de “Thoughts Are Things”, disco de Nau Quartet - quarteto liderado pelo músico, a quem o percussionista Pedro Carneiro se juntou - e o saxofonista, compositor e improvisador, acaba de lançar um novo álbum, “Common Ground”. Este trabalho junta, em formato quinteto, os músicos Carlos “Zíngaro no violino, Clara Lai no piano, Gonçalo Almeida no contrabaixo, João Sousa na bateria e o próprio José Lencastre no saxofone. É um álbum lançado pela jovem editora Phonogram Unit e foi gravado em Lisboa, em Novembro de 2021, no conhecido estúdio Namouche, por Joaquim Monte e Bernardo Centeno. Foi misturado e masterizado por David Zuchowski. O design do disco é da autoria de João Lomelino e a fotografia de Nuno Martins.

“Common Ground” percorre um caminho diverso. Poderá dizer-se que é um disco democrático, pois aborda um pouco da estética de cada integrante. Inicia-se com uma sonoridade mais livre, na ótica da música improvisada, mas à medida que a escuta avança, podemos ir encontrando outros elementos e influências. Tal como o nome indica, é um terreno comum, mas não é um terreno qualquer. É a celebração da partilha, o encontro de diferentes linguagens, da diversidade sonora, para construir um conjunto. Talvez se possa assemelhar a um jardim, onde várias espécies de árvores, plantas ou pequenos arbustos se encontram e crescem em simbiose. Onde também as ervas daninhas, na sua beleza disruptiva, contrariam a harmonia esperada e irrompem na sua liberdade improvisada, para encontrar também um espaço em comum.

O disco “Common Ground” conta com cinco faixas. “Revolutionary Periods”, a primeira faixa, combina diferentes momentos com diferentes diálogos. Num marcado tom de respeito mútuo entre as sonoridades de cada músico, podemos escutar longas “conversas” entre o saxofone, o violino e o contrabaixo, em que os três instrumentos se misturam de tal forma que podem chegar a ser confundidos, mesmo numa escuta mais atenta. É a exploração de ideias onde, mesmo nas notas mais orgânicas, a afinação e a certeza do tempo de cada som surge numa precisão assinalável, à qual a bateria se junta, de forma subtil, criando um ambiente de plena sintonia. Embora com ausência do piano, nesta primeira faixa percebe-se logo que nenhum instrumento aparece como acessório, ao acaso, todos dialogam entre si, umas vezes assumindo papel de suporte, outras surgindo na dianteira.

Por sua vez, “Unbroken Flow” assume-se mais frenética no seu todo. Desde o início apresenta interações rápidas entre os músicos, com movimentos fraseados a lembrar os ornamentos muito usados na música clássica, aqui com um carácter mais atonal. Numa primeira impressão, destaca-se a presença certeira do piano, mas na atenção ao detalhe, encontramos os restantes instrumentos, inquietos, como pequenos insetos que trabalham incessantemente.

Devido à base do piano, da bateria e do contrabaixo, mais constante e cíclica, talvez se possa considerar “Inspirational Souls” a faixa mais próxima de uma estética mais “groove”, ou como o próprio nome sugere, “soul”. Em todo o disco é assumida a importância dos diálogos entre os vários instrumentos. Todos interagem entre si. Qualquer um que intervenha recebe de imediato uma resposta certeira, quase como um debate entre os instrumentos.

“Common Ground” foi lançado a 1 de abril de 2022 e pode já afirmar-se que se trata de um disco muito positivo no universo da música para este ano. Percorre um caminho próprio e diferenciador, em contracorrente com alguma música que se vai lançando por vezes muito repetitiva e num estilo muito semelhante. Ao longo do álbum, o saxofone de José Lencastre vai lançando ideias, mas sempre numa postura pouco invasiva ou impositiva, deixando igual espaço de liberdade criativa aos restantes músicos, destacando a qualidade individual de cada um que, simultaneamente, se funde para dar lugar a este quinteto com uma sonoridade muito própria.

 

  • Common Ground

    Common Ground (Phonogram Unit)

    José Lencastre

    José Lencastre (saxofone alto); Carlos Zíngaro (violino); Clara Lai (piano); Gonçalo Almeida (contrabaixo); João Sousa (bateria)

Agenda

07 Junho

Choro do Neckar

Cascais Jazz Club - Cascais

08 Junho

Afonso Pais e Tomás Marques

Miradouro de Baixo - Carpintarias de São Lázaro - Lisboa

08 Junho

George Esteves

Cascais Jazz Club - Cascais

08 Junho

Jam session

Sala 6 - Barreiro

08 Junho

Paula Sousa, João Moreira e Romeu Tristão

Távola Bar - Lisboa

09 Junho

Pedro Neves Trio “Hindrances”

Parque Central da Maia - Maia

09 Junho

No-Bise

Nisa’s Lounge - Algés

09 Junho

Lorena Izquierdo, Alvaro Rosso e Abdul Moimême

Cossoul - Lisboa

09 Junho

MOVE

BOTA - Lisboa

09 Junho

Mané Fernandes “Matriz Motriz”

Parque Central da Maia - Maia

Ver mais