Ståhls Trio: “Källtorp Sessions Volume Two” (Moserobie)
Moserobie
O trio sueco que junta Mattias Ståhl (vibrafone), Joe Williamson (contrabaixo) e Christopher Cantillo (bateria) chega ao seu segundo registo. Não é música saudosista, nem está parada no tempo.
No início do século XXI algum do jazz mais interessante e inovador daquela altura vinha dos países nórdicos. Músicos oriundos da Suécie e Noruega - como Jonas Kullhammar, Torbjörn Zetterberg, Alberto Pinton, Per Zanussi, Magnus Broo ou Fredrik Nordström - produziam um jazz contemporâneo original, assente em composições e com espaço para a improvisação, onde frequentemente se ouviam crescendos incendiários, típicos do free jazz. Essa mescla era inovadora e conquistava ouvintes pela Europa fora e a editora Moserobie era responsável pela edição de muitas dessas pérolas nórdicas. Muitos desses músicos editaram depois na editora Clean Feed, para onde trouxeram a sua música fogosa e onde exploraram diferentes configurações.
Ao encontrarmos esta nova edição da Moserobie, essa viagem ao passado acaba por ser inevitável. Contudo, nem esta música é saudosista nem a Moserobie ficou parada no tempo. O Ståhls Trio é uma formação recente que junta o vibrafonista Mattias Ståhl, o contrabaixista Joe Williamson e o baterista Christopher Cantillo. O trio pratica um jazz moderno, com a peculiaridade de ter como instrumento-estrela o vibrafone. Em 2019 o trio o seu registo de estreia, “Kalltorp Sessions Volume One”, onde o grupo interpretava sobretudo originais, mas incluía-se também uma revisão de “Jealous Guy” de Lennon. Chega agora o segundo volume.
Como principal dinamizador, Ståhl é um vibrafonista imaginativo. Já o conhecíamos de diversos projetos, sendo o disco “Grann Musik” (Clean Feed, 2008), em duo com o pianista Sten Sandell, um favorito; e gravou com o luso RED Trio o disco “North and the Red Stream” (NoBusiness, 2014). Agora, a música produzida por Ståhl (vibrafone), Williamson (contrabaixo) e Cantillo (bateria) resulta eminentemente rítmica. O vibrafonista é virtuoso, mas não exibicionista, nem sempre está ao centro; Ståhl mete os seus recursos ao serviço das composições. O segundo tema do disco conta com a participação do trombonista Mats Äleklint, monstro do instrumento que rapidamente consegue roubar a atenção. Outro instrumento que aparece pontualmente, em duas faixas, é o saxofone soprano: gravado pelo próprio Mattias Ståhl (em overdub), aqui numa estreia - e surpreendentemente eficaz.
Vibrafone, contrabaixo e bateria estabelecem diálogos precisos e vão solidificando as composições. Entre o tempo lento de “Guldkort”, o swing de “Nu Borjar Det” ou a vertigem de “Ayler-Ekberg”, o trio mostra-se capaz de explorar diferentes registos, sempre com a mesma segurança. Este segundo volume funciona como confirmação definitiva de um trio original.
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Källtorp Sessions Volume Two (Moserobie)
Ståhls Trio
Mattias Ståhl (vibrafone, saxofone soprano); Joe Williamson (contrabaixo); Christopher Cantillo (bateria); Mats Äleklint (trombone)