Herbarium
A Favola da Medusa: “Herbarium” (Cidade Nua)
Cidade Nua
Os antigos gregos não conheciam a ideia de arte, como a entendemos hoje. Mas se não podemos falar de “arte” (no sentido atual do termo, enquanto criação livre e criativa) até quase ao século XVIII, notamos que mesmo os gregos tiveram o cuidado de excecionar a poesia. Para eles a poesia era diferente pois, ao contrário de todos os outros saberes em que se ia aperfeiçoando com a idade, o verso de um rapaz jovem podia ser melhor que a de um idoso. E por isso, como não tinham o conceito de arte, usaram a ideia de pressagio para explicar o incompreensível na poesia; tal era a interrogação causada pela poesia que criaram três musas para a influenciar: Caliope, Erato e Euterpe. O filho de Caliope é Orfeu. Orfeu o deus da música, toca harpa (lira).
Uma harpa abre este disco e instala um ambiente poético. Quando começamos já sabemos que música e palavra vão andar juntas: o disco vem dentro de um livro.
Os dedilhados amplos iniciais dão lugar a outros acontecimentos musicais menos clássicos: o clarinete, o violino cortam a tranquilidade. Entramos na “Favola Da Medusa” que combina liga a poesia à música improvisada. A ideia partiu de Miguel Martins e Filipe Homem Fonseca.
O objeto é um livro/disco, editado na colecção “Batimento” da editora “Palavra”, que publica a criação área da palavra dita e da poesia performativa (“do rap à spoken word, do trap à música clássica, da eletrónica ao jazz” tudo é permitido, dizem).
Depois do tal Párodo musical seguem-se cinco poemas ditos por Miguel Martins e Ana Água por cima de um fundos instrumentais que assumem um papel complementar, criando um ambiente para a leitura. As últimas duas faixas do disco são só musicais. A primeira intenso, com a bateria em grande descarga rítmica e o theremin e o saxofone a somar. A segunda, que fecha o disco num Exodus volta com a palavra e a harpa.
O livro CD da Favola da Medusa é um projeto singular, em que a os dois meios – a palavra dita e a música improvisada – se cruzam com naturalidade para a criação de uma proposta feliz que não abdica de ser literária nem musical.
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Herbarium (Cidade Nua)
A Favola da Medusa
Ana Água (voz), Ana Isabel Dias (harpa), Filipe Homem Fonseca (theremin, voz, efeitos), João Pedro Viegas (clarinete baixo, saxofone), Mário Rua (bateria), Miguel Martins (voz, violino)