Avishai Cohen: “Naked Truth” (ECM)

Avishai Cohen: “Naked Truth” (ECM)

ECM

Gonçalo Falcão

Este novo disco de Avishai Cohen na ECM faz-nos regressar um pouco ao período de ouro da descoberta da casa de Manfred Eicher. Era o som, o espaço, o silêncio. Um jazz que também tinha silêncios e que apresentava as ideias com nitidez, sem a urgência e o grito.

E “Naked Truth” impressiona-nos por ser uma música vulnerável, feita com poucos elementos e com ideias musicais muito bonitas. Como se tivéssemos a reconstruir-nos com o pouco que ficou e, com esses restos, encontrar novamente uma beleza e um novo sentido.

O seu trompete soa agora mais focado, com um som mais transparente. Nunca o ouvimos improvisar tanto anteriormente, largar a pauta e inventar. É talvez por isso que soa tão transparente, resumido e honesto, porque é grandemente feito de música que não foi escrita, que foi criada no momento. Apesar do disco ser dividido em nove faixas, nove partes (finalizando com “Departure”) ouve-se como se fosse uma longa suíte (vantagens do formato CD), o que aliás parece ser a intenção do trompetista quando escreve na contracapa “a suite in Nine Parts”. Ouvimo-lo de facto, ainda antes de entrar nas liner-notes, como uma peça única, coerente, feita de várias peças diferentes mas que constroem uma ligação conceptual lógica entre si. Como se tivesse sido gravado de um rasgo, numa sessão de gravação única em que os músicos andaram sempre a somar, a desenvolver uma ideia inicial e a levá-la para outros locais, através da improvisação.

O quarteto tradicional, com piano, contrabaixo e bateria insere-nos num “cool” pós Miles Davis, muito sereno, cheio de detalhes, que consegue andar sempre pousado e aberto, sem nunca soar sonolento. Música feita com pouco, que soa a muito.

É talvez o disco do trompetista israelita que mais gostei de ouvir até hoje, com o seu grupo de sempre, cuja partilha de ideias funciona agora telepaticamente. Como se tivessem descoberto finalmente o que a sua música deve ser, de como fazer mudanças micro que afetam o macro, que afetam o micro. Oiço finalmente uma música que é própria deste grupo. Posso estar errado, mas é essa a sensação, que andaram até hoje à procura para poder chegar aqui.

“Departure”, o tema que encerra o disco é um poema de Zelda Schneurson Mishkovsky, sobre a aceitação e pacificação. O poema, dito depois no final de toda a música, constrói um sentido para toda a audição que o precedeu. De algum modo (mesmo que seja uma associação artificial feita pelo nosso cérebro) passamos a perceber o disco à luz das ideias do poema. Fala-nos sobre a pacificação depois de uma perda; sobre deixar ir, afastar. De alguém. De um amor. “(...)to part from curiosity, part from words, all the words that I’ve read and heard”. É bom quando a verdade nos entra pelos ouvidos adentro.

  • Naked Truth (ECM)

    Avishai Cohen

    Avishai Cohen (trompete), Yonathan Avishai (piano), Barak Mori (contrabaixo), Ziv Ravitz (bateria)

Agenda

10 Junho

Imersão / Improvisação

Parque Central da Maia - Maia

10 Junho

O Vazio e o Octaedro

Parque Central da Maia - Maia

10 Junho

Marta Hugon & Luís Figueiredo / Joana Amendoeira “Fado & Jazz”

Fama d'Alfama - Lisboa

10 Junho

Maria do Mar, Hernâni Faustino e João Morales “Três Vontades de Viver”

Feira do Livro de Lisboa - Lisboa

10 Junho

George Esteves e Kirill Bubyakin

Cascais Jazz Club - Cascais

10 Junho

Nuno Campos 4tet

Parque Central da Maia - Maia

10 Junho

Tim Kliphuis Quartet

Salão Brazil - Coimbra

10 Junho

Big Band do Município da Nazaré e Cristina Maria “Há Fado no Jazz”

Cine-teatro da Nazaré - Nazaré

10 Junho

Jorge Helder Quarteto

Fábrica Braço de Prata - Lisboa

11 Junho

Débora King “Forget about Mars” / Mayan

Jardins da Quinta Real de Caxias - Oeiras

Ver mais