Puzzle 3: “D” (Carimbo Porta-Jazz)
Quando muita da música para trio de piano jazz que se publica hoje pelo mundo, e por cá, se caracteriza composicionalmente por uma demasia de ornamentação e de maneirismos detalhísticos que, na sua superficialidade formal, de nada servem à música, antes a escondem, é bom ouvir um disco como este “D”, tocado por Pedro Neves, João Paulo Rosado e Miguel Sampaio, ou seja, o Puzzle 3 designado na capa. Os temas são simples, limpos, funcionais, pouco mais do que a definição de uma melodia, de um enquadramento harmónico e de uma ambiência. Deixa-se à improvisação o que mais importa e isso, no jazz, deveria ser fundamental (não vai sendo, infelizmente). As malhas, os “grooves”, a expressão, os factores argumentativos são deixados à criatividade espontânea dos três músicos. É então que a música levanta voo, e assim está bem.
É verdade que há muito Bernardo Sassetti e muito Mário Laginha a passar por esta música: a influência que ambos os pianistas têm nos seus sucessores geracionais parece algo de incontornável e aconselha um esforço suplementar de emancipação (o mais não seja porque, nesta área da criação artística, o que importa é a construção de personalidades próprias e afirmativas), mas também é verdade que foi (é) este legado que fez (faz) com que ficasse definido um entendimento português da combinação entre um piano, um contrabaixo e uma bateria. Este não é um álbum que fique para a história, mas tem a virtude de, no contexto em que surge, marcar a possibilidade de uma abordagem outra, mais saudável, a um jazz que devia ser “feeling” e não estilismo.