Tania Giannouli Trio: “In Fading Light” (Rattle)

Rui Eduardo Paes

O novo disco da pianista e compositora Tania Giannouli com Andreas Polyzogopoulos no trompete e Kyriakos Tapakis no oud tem um conceito que, não sendo propriamente novo (por cá o mesmo tem feito José Peixoto com uma abordagem à guitarra que descola do “modus operandi” e da carga geo-histórica do alaúde médio-oriental e norte-africano acima apontado), tem a particularidade de, por via do jazz, colocar a cultura musical grega no contexto mediterrânico. Giannouli reivindica para este projecto uma condição: aquilo que resultaria se Manfred Eicher tivesse nas suas produções como referência o Mediterrâneo e não a Escandinávia. A intenção não é apenas estilística ou estética, chama a atenção para questões iminentemente políticas e éticas, como a das trágicas migrações das gentes que fogem da guerra nos países de que provêm, aventurando-se no mar, para encontrarem na Comunidade Europeia o contrário daquilo que esta propagandeou como a sua identidade programática. O certo é que este poderia ser um álbum da ECM – de resto, o trompetista adopta por vezes o tipo de sonoridade de um Arve Henriksen, com o piano a navegar por terrenos não muito distantes de John Taylor ou Keith Jarrett, e o oud a lembrar Anouar Brahem. É editado pela Rattle, “label” de uma das nações da Europa, a Grécia, em que os campos de refugiados são os campos de concentração dos nossos dias.

A música que o trio nos entrega é bela, definindo-se por um melodismo que tem tanto de sofisticado quanto de misterioso, mas tem um carácter de urgência, a urgência de criar música num período pandémico em que a arte foi designada como um bem não essencial. Escreve Tania Giannouli nas notas de apresentação de “In Fading Light”: «Apesar do que está a acontecer presentemente no mundo, as pessoas precisam de música. Precisam de arte, e esta não é um luxo. É essencial para a nossa psique, para mantermos a saúde e o equilíbrio, em termos mentais, físicos, emocionais, espirituais e políticos. A música deste álbum é uma expressão de amor, esperança e compaixão, um apelo à compreensão, à gentileza e à necessidade de respeitar e abraçar as nossas conexões.» Ou seja, este é um disco de resistência, de afirmação. Suave, prazenteiro, procurando aproximar-se do sublime e do inefável, algo ingénuo talvez, pecando pela colagem (ah, a aceptabilidade…) ao modelo eicheriano sem dúvida, mas interventivo. Estava a fazer falta.

Agenda

10 Junho

Imersão / Improvisação

Parque Central da Maia - Maia

10 Junho

O Vazio e o Octaedro

Parque Central da Maia - Maia

10 Junho

Marta Hugon & Luís Figueiredo / Joana Amendoeira “Fado & Jazz”

Fama d'Alfama - Lisboa

10 Junho

Maria do Mar, Hernâni Faustino e João Morales “Três Vontades de Viver”

Feira do Livro de Lisboa - Lisboa

10 Junho

George Esteves e Kirill Bubyakin

Cascais Jazz Club - Cascais

10 Junho

Nuno Campos 4tet

Parque Central da Maia - Maia

10 Junho

Tim Kliphuis Quartet

Salão Brazil - Coimbra

10 Junho

Big Band do Município da Nazaré e Cristina Maria “Há Fado no Jazz”

Cine-teatro da Nazaré - Nazaré

10 Junho

Jorge Helder Quarteto

Fábrica Braço de Prata - Lisboa

11 Junho

Débora King “Forget about Mars” / Mayan

Jardins da Quinta Real de Caxias - Oeiras

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