Fail Better!: “The Fall” (JACC Records)
JACC Records
Tensão. É esse o grande factor construtivo do novo álbum de Fail Better!, logo definido no primeiro tema, “Ground Floor”. Como vem sendo habitual em todos os contextos que habita, a guitarra de Marcelo dos Reis desenha uma estrutura e instala um ambiente, com os restantes instrumentos, e muito especialmente o sax soprano de Albert Cirera, a extrapolarem esse tipo de “input”.
O súbito corte que nos conduz à segunda faixa parece de apaziguamento, mas depressa “Rise Up” vai crescendo em inquietação, com o trompete de Luís Vicente e, de novo, a guitarra a conduzirem o conjunto. A peça tem algo de dançante e de africanista, muito devido ao motivo repetitivo do saxofone tenor, mas o mesmo lado escuro perpassa a música. Que é improvisada, percebe-se, mas tem contornos compositivos. Quando o tenor e o trompete entram em plano dialogante estamos claramente dentro da prática harmolódica de Ornette Coleman.
Já “Falling Stars” nos coloca no quadro textural da livre-improvisação, descolando do invólucro free jazz e das pulsões rock. A atmosfera tropical, essa, mantém-se, com a flauta tocada pelo baterista Marco Franco e o “drone” guitarrístico sugeririndo uma tamboura indiana a darem um cunho étnico à peça. Imaginamos uma floresta e perigos iminentes, com o contrabaixo com arco de José Miguel Pereira a adicionar mistério. Tensão, ainda e sempre.
“Skyfall” é tudo o que o título indica: uma queda no abismo retardada pelas correntes de ar. O esqueleto surge por repetição e o mais que ouvimos ajusta-se por deriva, em movimentos simultaneamente concêntricos e excêntricos. “Down Under” é o que vem depois, literalmente. O solo a que se chega e o subsolo que logo se abre, mas num ir mais fundo contrariado por ímpetos ascensionais. A música demora-se depois na zona ambígua entre esses descer e subir, pairando, e assim nos deixa. Fail Better! continua a impressionar-nos com as suas abordagens fortemente imagéticas, como se fosse cinema para os ouvidos.
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The Fall (JACC Records)
Fail Better!
Luís Vicente (trompete); Albert Cirera (saxofones tenor e soprano); Marcelo dos Reis (guitarra eléctrica); José Miguel Pereira (contrabaixo); Marco Franco (bateria, flauta)