Ben Zucker: “Fifth Season” (Amalgam)
Amalgam
Apesar de pouco conhecido entre nós, o multi-instrumentista (sobretudo vibrafonista), compositor e improvisador Ben Zucker não é propriamente um recém-chegado. Membro fundador de grupos tão diversos como Apres-Garde Ensemble, Jabberwock, Metafauna, Don Froot, Arcadio, Improviser's Choir, World Beside Us e Three Hands Clapping, do seu currículo constam também colaborações com figuras gradas como Anthony Braxton, Matana Roberts, Myra Melford e Vinny Golia.
O seu trabalho mais recente tem gravitado em torno do conceito de “experiência” e na forma como entendemos o mundo à medida que ele evolui em tempo real e nos posicionamos de forma responsável (não “responsible” mas “response-able”, como Zucker refere em notas de apresentação do álbum).
“Fifth Season” é o registo que assinala a sua estreia na condição de líder, lançado em 2020 pela editora Amalgam Records, gerida por um coletivo de músicos. Operando atualmente a partir de Chicago, o músico arquiteta um universo sonoro que busca inspiração em diferentes fontes e géneros (jazz, erudita, folk, eletroacústica, pós-rock) apurados em estudos e experiências nos Estados Unidos e no Reino Unido. Nas suas apresentações a solo não é raro cruzar vibrafone, outras percussões, voz, instrumentos de tecla e mesmo de sopro, num turbilhão sonoro gizado no momento.
A música que se escuta em “Fifth Season”(escrita em vários momentos que remontam a 2014) emerge da gestão criteriosa de uma base rigorosamente estruturada, expandida nas improvisações que se estabelecem e para os quais concorrem os vocabulários pessoais dos quatro músicos: com Zucker estão a pianista Mabel Kwan, o contrabaixista Eli Namay e o baterista Adam Shead, todos com créditos já firmados na cena das músicas criativas da cidade ventosa.
O álbum abre em tons amenos com “Sussurigation A”, peça na qual o vibrafone de Zucker encontra na bateria detalhada de Shead a parceira ideal para a construção de uma atmosfera relaxada. Segue-se o coração do disco, que é a suíte que lhe dá nome, dividida em quatro andamentos que se metamorfoseiam em lume brando, sem pressas, assumindo diferentes configurações. Na parte I, um motivo proposto por Kwan dialoga fluentemente com o contrabaixo tocado com arco, conferindo uma certo cunho camerístico bem vindo, entrecortado por espasmos.
A parte II é introduzida pela bateria, que lança as bases para um “groove” alimentado por piano e contrabaixo, sobre o qual assentam as deambulações do vibrafone. Segue-se a mais repousada parte III, com Zucker a desenhar linhas suaves desafiadas por um piano anguloso. A derradeira parte será das quatro porventura a mais declaradamente jazzística, com as intimidades que o vibrafone entabula com piano e depois, notavelmente, com o contrabaixo de Namay, dando azo a um final em crescendo.
Mas é no ocaso do álbum que se encontram os seus momentos mais interessantes. Pela forma como sustém a tensão, a peça intrigantemente intitulada “Moths Eating the Wallpaper of Concorde” (a mais extensa das aqui incluídas) funciona qual banda sonora de um filme imaginário com adiado epílogo. “Sussurigation B” retoma o travo camerístico e “Sixth Skin Pataforming” encerra a jornada em modo sombrio. “Fifth Season” justifica inteiramente o tempo que ganhamos na sua audição atenta.
-
Fifth Season (Amalgam)
Ben Zucker
Ben Zucker (vibrafone); Mabel Kwan (piano); Eli Namay (contrabaixo); Adam Shead (bateria)