Paul Shaw Quintet: “Moment of Clarity” (Summit)
Summit
De entre os nomes que surgem na capa deste disco do quinteto de Paul Shaw, aquele que nos soará menos familiar é precisamente o de... Paul Shaw. Baterista, compositor e pedagogo, tem vindo a trilhar boa parte do seu percurso nas orquestras dos Marines e da Força Aérea (Falconaires) dos Estados Unidos, optando por papéis mais recatados e longe dos olhos e ouvidos de um público global. Apesar de não ser um novato, só em 2020 editou o seu disco de estreia em nome próprio, “Moment of Clarity” (em bom rigor o “momento” do título deveria estar no plural, pois são vários os episódios de clareza que por aqui se escutam).
Justifica-se, pois, brevíssimo proémio biográfico. Shaw cresceu no sul de Nova Jérsia, co-lidera, desde 2000, o quinteto (ou sexteto) Inside Out, fez parte do quarteto The Swing Association, baseado em Atlanta, e tem tocado ao longo dos anos com figuras importantes como Rufus Reid, Donald Harrison, Oscar Brown Jr., Frank Lacy, Nnenna Freelon, Steve Nelson e Bill Watrous, entre outros. Com a sua mulher, Melanie, formou há uma dúzia de anos o duo Acoustic Station, para o qual tem escrito parte considerável do repertório.
Shaw revela-se um baterista de toque aveludado e ágil, tanto nos registos mais lentos como a “swingar” intensamente. E fá-lo desta feita acompanhado por um supergrupo que congrega os préstimos de músicos superlativos com carreiras mais do que reconhecidas, como são o trompetista russo Alex Sipiagin, o guitarrista Brad Shepik, o pianista Gary Versace e o contrabaixista Drew Gress.
Nas sete peças originais que integram “Moment of Clarity” constata-se ser Shaw senhor de uma pena que se verte, sobretudo, em tempos médios, de estrutura clássica (exposição-solos-reexposição), fortemente ancorados na tradição jazzística assente nos blues, ainda que com margem suficiente para explorações melódicas e harmónicas. A dupla rítmica fornece o substrato rico para a germinação das ideias de Sipiagin, Versace e Shepik, que se vão revezando com apuro na condução dos temas, com solos diretos e concisos. Shaw raramente salta para a linha da frente como instrumentista, conservando uma postura mais discreta (não se leia de menor relevância).
Merecem destaque a leveza e o tom meditativo de “Song for Everyone”, com Gress exímio no uso do arco e Versace a desenhar belas linhas ao piano, e também, por contraste, o energético “Pekaboo”, notável exercício swingante com laivos “funky”, onde o contrabaixista se assume de novo como trave mestra e Shaw pontua tanto em escovas como com baquetas. O tema-título funda-se num motivo grave que o piano propõe (e que o contrabaixo segue de perto) e em torno do qual os restantes músicos gravitam. Atente-se em mais um solo do trompete límpido de Sipiagin.
A serenidade afirmativa de “Heartland” resulta da frutífera sinergia entre guitarra e trompete a expor o tema-base, seguindo-se boas intervenções de Sipiagin, Versace e Shepik. Em “Shapeshifter” é o trompetista quem parece tomar de novo o controlo das operações, avultando de Versace o pianismo fluido que bem lhe conhecemos. Notem-se ainda o solo consequente do baterista e líder no vibrante “Showdown” e as intervenções de pianista e guitarrista no orelhudo e quase-dançante “Mary Oliver”.
Longe de ser um álbum particularmente desafiador ou que comporte grandes riscos, não deixa de constituir uma proposta honesta e que se desvenda com agrado.
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Moment of Clarity (Summit)
Paul Shaw Quintet
Alex Sipiagin (trompete); Brad Shepik (guitarra elétrica); Gary Versace (piano); Drew Gress (contrabaixo); Paul Shaw (bateria)