Alexander Hawkins: “Togetherness Music” (Intakt)
Intakt
A Intakt tem-se destacado nos últimos quatro anos pela qualidade das suas edições. Mesmo em 2020 – um ano particularmente difícil para a música, quase sem concertos, com os estúdios de gravação limitados, os músicos a passarem enormes dificuldades financeiras e psicológicas, toda a indústria deprimida – a etiqueta suíça editou 19 discos. A qualidade das suas edições fica bem patente na regularidade com que figura nas listas dos melhores de cada ano. Na votada pela jazz.pt constam cinco discos desta “label”: o de Ingrid Laubrock (“Dreamt Twice, Twice Dreamt”), que ficou em segundo lugar, o do seu duo com Kris Davis (“Blood Moon”) em sexto, os dois discos de Tim Berne (“The Deceptive 4 Live” e “The Fantastic Mrs. 10”) em 12º e 13º e, em 15º, os solos de piano de Alexander von Schlippenbach para a sua mulher Aki Takase (“Slow Pieces for Aki”).
Também os discos melhoraram de aspecto: não só as capas estão agora melhores como a nova embalagem, totalmente cartonada, dispensa o plástico e dá uma agradável dimensão táctil. Os excelentes “booklets” dão ao ouvinte uma primeira perspectiva crítica, com uma qualidade que já vai sendo rara. Para quando o vinil?
Colocamos agora no laser o novo disco do inglês Alexander Hawkins. O pianista tem sido um músico regular da casa, tendo lançado em 2019 um disco de piano solo e em 2020 um duo com Tomeka Reid. Abre agora as edições de 2021 em grande, com um disco orquestral, para um ensemble de 11 músicos com Evan Parker como solista, ao qual se adiciona o quinteto de cordas Riot Ensemble. Desde o início que percebemos que Parker é o centro e a razão de existir da música. O som característico do seu soprano e o seu ideoleto - com linhas longas em sopro contínuo e o dedilhar cíclico que, de algum modo, evoca as repetições de Philip Glass – são bem integrados na música de Hawkins. Começa por deixar instalar a música do saxofone e depois faz entrar a orquestra, inicialmente como fundo, em ondulações tonais, indo progressivamente aumentando a sua presença e absorvendo o saxofone. Toda a linguagem orquestral está próxima daquilo que esperamos ouvir num disco de um compositor contemporâneo. Hawkins gosta de usar os contrastes entre massas sonoras conjuntas, grandes uníssonos texturais e linhas melódicas tocadas também em uníssonos, como num conflito entre a natureza e a organização.
Ouvimos jazz nos momentos em que os músicos se soltam da pauta e constroem solos ou quando todo o “ensemble” parece improvisar. O pianista e compositor faz com que todas as ideias musicais confluam para van Parker. Esta é mais uma experiência marcante na procura de novos caminhos e sentidos para as orquestras do jazz.
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Togetherness Music (Intakt)
Alexander Hawkins
Alexander Hawkins (piano, composição); Evan Parker (saxofone soprano); Aaron Holloway-Nahum (condução); Rachel Musson (flauta, saxofone tenor); James Arben (flauta, clarinete baixo); Percy Pursglove (trompete); Benedict Taylor (viola); Hannah Marshall (violoncelo); Matthew Wright (electrónica); Neil Charles (contrabaixo); Mark Sanders (bateria, percussão) + The Riot Ensemble: Mandhira de Saram (violino); Marie Schreer (violino); Stephen Upshaw (viola); Louise McMonagle (violoncelo); Marianne Schofield (contrabaixo)